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UBUNTU | OS SEGREDOS desta sabedoria AFRICANA milenar para vida em comunidade

Atualizado: 25 de nov. de 2023


OS SEGREDOS desta sabedoria AFRICANA milenar para vida em comunidade.

A cerca de 4 anos atrás, eu descobri algo chamado Ubuntu. 

Talvez você já deva ter visto e nem reparou sobre alguma reportagem na África em que as pessoas pegam alimentos ou água doada de alguma ajuda humanitária, e mesmo nesta situação de crise, eles não usam de violência contra uns aos outros para pegar tais doações, inclusive é comum ver crianças se juntando no entorno umas das outras e compartilhando as doações. 

Pois é, eu nunca tinha parado e observado isso, até conhecer um amigo intercambista da África do Sul, Jafari, e descobrir sobre o Ubuntu. 

Jafari me mostrou um vídeo de sua família e crianças de onde morava e quando observei uma criança repartindo igualmente um pacote de biscoito, comentei sobre o gesto, cada vez mais incomum no Brasil. 

Foi quando Jafari me explicou sobre o Ubuntu, algo que eu compreendi como sendo um conceito moral, uma filosofia, um modo de viver que se opõe ao individualismo e egoísmo presentes nas sociedades contemporâneas. 

Para Jafari, é um conceito de consciência moral e ética coletiva que guia a convivência social de algumas comunidades Sul Africanas. 

Foi quando comecei a estudar um pouco sobre esta consciência moral coletiva e descobri que ela tem sido muito estudada como uma alternativa ecopolítica para uma convivência social e planetária mais justa, cooperativa e altruísta.

Segundo o Arcebispo da Igreja Anglicana, Desmond Tutu, Ubuntu pode ser explicado como um conceito de que eu preciso de você para ser eu mesmo, e você necessita de mim para ser você.

Significa que estamos conectados uns aos outros, pois não podemos falar como ser humano, nem caminhar com um ser humano ou mesmo pensar como um, sem considerarmos que aprendemos uns com os outros, pois na realidade eu preciso de outros seres humanos, para que eu possa ser um ser humano. 

Em outras palavras, “Uma pessoa é uma pessoa por causa das outras pessoas“. 

Você, todos os outros e eu somos parte de uma única família. Não importa sua cor da pele, etnia, preferências pessoais, todos somos uma grande família humana. Portanto, isso nos leva a não querer irmãos discriminando uns aos outros, ou que sejam desonestos, pois somos parte de um todo. 

Um todo em que a felicidade do outro é a minha felicidade, assim como, a tristeza do outro é a minha tristeza, pois estamos pelo outro como fazemos em nossa família. 

Pode não ser um pensamento simples e ao mesmo tempo complexo de se explicar?

Isso se deve ao fato de que o Ubuntu vai além de uma filosofia ou mesmo um conceito moral. Ubuntu é um sentimento genuíno e altruísta de pertencer a uma comunidade, mais do que isso, é compreender que a sua felicidade somente é plena quando compartilhada com seus semelhantes, é uma oposição ao egoísmo e ao individualismo como conhecemos. 

Portanto, não se trata de mim, mas de nós. É uma consciência coletiva de que “eu sou porque nós somos”. 

A jornalista e filósofa Lia Diskin, em 2006, em um festival no Brasil, contou que decidiu fazer um experimento que julgou ser inofensivo. Ela comprou doces na cidade, colocou tudo num cesto bem ornamentado e deixou debaixo de uma árvore. 

Após preparar o cenário, ela chamou as crianças e explicou as regras, ou seja, a primeira criança que cruzasse a linha próxima a cesta, seria a vencedora e portanto dona de todos os doces. 

A expectativa era de que as crianças competissem e a vencedora se deliciasse com seu prêmio. 

Todavia, o resultado foi surpreendente, todas as crianças teriam dado as mãos e saíram correndo em direção ao cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem em uma contagiante felicidade. 

Ao questionar as crianças do motivo de terem repartido os doces, a vencedora iria poder comer muito mais doces. Elas simplesmente responderam: __ Ubuntu, tio. 

E acrescentaram: como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes? Em outras palavras “Eu só existo porque nós existimos”. 

Para a filósofa-jornalista, a resposta singela da criança, é profunda, está carregada de valores como respeito, cortesia, solidariedade, compaixão, generosidade, confiança, tudo aquilo que nos torna humanos e garante uma convivência harmoniosa em sociedade. 

Enquanto nossa sociedade se concentra no círculo das liberdades individuais, a ideia africana do ubuntu repousa sobre a ideia da comunidade, de que pessoas dependem de outras pessoas para serem pessoas. 

É um pensamento extremamente maravilhoso quando compartilhado entre todos os membros da comunidade, é uma perspectiva totalmente diferente do que estamos acostumados, pois somos educados e nos concentramos em nossas liberdades e nossos sentimentos, ou seja, isolados do todo. Enquanto a filosofia ubuntu parte do princípio de eu e o outro estamos conectados: se eu faço mal ao outro, estou fazendo também a mim e a minha comunidade.

Mandela explicou:

Em tempos antigos, um viajante que visitava o país parava em uma aldeia e não tinha que sequer pedir por comida e água. Os aldeões o acolhiam e o alimentavam assim que o vissem, este acolhimento é o Ubuntu. Mas há outros aspectos: respeito, ajuda ao próximo, cuidado, partilha, comunidade, confiança, generosidade. 

Ubuntu não significa que uma pessoa não se preocupa com o seu progresso pessoal. A questão é: o meu progresso está a serviço da minha comunidade? Isso é o mais importante da vida. E se uma pessoa conseguir viver assim, terá alcançado algo muito admirável. 

Transmite uma ideia de humanidade interconectada e interdependente. Um dos discursos notáveis que incorporou os princípios do Ubuntu foi o discurso de Nelson Mandela durante seu julgamento em 1964, onde ele declarou: 

"Durante a minha vida, dediquei-me à luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Tenho procurado o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais."

Outro exemplo é o discurso do arcebispo Desmond Tutu, que frequentemente falava sobre Ubuntu. Ele enfatizou a interconexão humana e a necessidade de compreensão mútua, uma vez que nenhuma pessoa é uma ilha isolada. É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.

Três pessoas trouxeram princípios magníficos desta filosofia, Nelson Mandela, por exemplo, em seu discurso afirmou que "ser livre não é apenas livrar-se das próprias correntes, mas viver de uma forma que respeite e aumente a liberdade dos outros."

Desmond Tutu, em algumas oportunidades expressou em seus sermões que "nós devemos nos preocupar com os outros", o que complementado com a ideia de Thabo Mbeki, traz o arremate final sobre a concepção do Ubuntu de que não significa que as pessoas não devam enriquecer-se, mas o importante é que você compartilhe o que tem e que todos possam se beneficiar.”

É por isso que vemos frequentemente grandes atletas africanos que mantém uma relação de carinho com seu país, retornando, visitando, participando ativamente da política nacional e contribuindo com grandes projetos sociais, eis que eles estão abraçados pelo espírito Ubuntu de que como conseguiram sucesso, deve elevar os seus co-cidadãos, compartilhando o que tem, pois uma pessoa é uma pessoa por causa das outras pessoas. 

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