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Sêneca sobre os malefícios de trocar o Dia pela Noite (Carta CXXII - Estoicismo)

Você já parou para pensar na maneira como vivemos nossas vidas? Como nos relacionamos com o tempo e a luz que nos cerca? Sêneca, em suas palavras atemporais, nos convida a refletir sobre a escuridão que muitos de nós escolhemos como companheira.


Enquanto alguns se entregam à escuridão, como se fosse um refúgio, outros buscam a luz como um guia para a ação e o propósito. Mas o que nos leva a desafiar a ordem natural, a inverter o ciclo do dia e da noite? Seria a busca por notoriedade, ou uma revolta contra a existência comum?





Em um mundo onde a luz revela a verdade, alguns preferem esconder-se na escuridão, enquanto outros encontram força e clareza na jornada ao sol. Então, convido você a ficar neste vídeo até o final conosco, e juntos vamos entender as palavras de Sêneca sobre os mistérios da luz e da escuridão, e descobrir o verdadeiro significado de viver em harmonia com a natureza segundo o estoicismo.


Para isso, vamos tomar como orientação, a sua carta 122 à Lucílio, seu amigo confidente, denominada: Sobre a escuridão como um véu para a maldade.



Em resumo, Sêneca está discutindo a relação entre o modo como vivemos nossas vidas e a natureza, especificamente em relação ao uso adequado do tempo e à importância de viver em conformidade com os padrões naturais. Ele critica aqueles que invertem o ciclo natural do dia e da noite, preferindo a escuridão à luz do sol, como uma metáfora para aqueles que vivem uma vida de indulgência, preguiça e falta de propósito.


Para o filósofo, viver em desacordo com a natureza leva à depravação e à desconexão da verdadeira essência da vida. É preciso ter cautela na busca pela notoriedade e extravagância como substitutos para uma vida de significado e para a felicidade. 




É preciso seguir o caminho traçado pela natureza, encontrando significado e propósito na ação e na busca pela sabedoria para vivermos de acordo com os princípios naturais e buscar a virtude, em vez de nos entregarmos aos excessos e à indulgência que nos afastam da verdadeira realização.


Desta forma Sêneca diz:

“O dia já está quase terminando. Estamos na penumbra da noite, mas ainda há bastante tempo para fazer muitas coisas se começarmos cedo. Somos mais produtivos e melhores pessoas quando aproveitamos o dia desde o amanhecer. Mas somos preguiçosos se dormimos até tarde ou só acordamos quando já é quase meio-dia. Para alguns, parece que o dia nem começou mesmo quando já é meio-dia.”

Quantos de nós trocamos o dia pela noite, estamos sempre cansados pelo esgotamento de postergar o sono até nosso limite. Colocamos dez sonecas no celular na tentativa vã de acordar e na ilusão de dormir 10 minutos a mais. Quantos de nós não nos perdemos na noite simplesmente fazendo nada de produtivo para nossa vida, seja ficando no celular, assistindo séries, bebendo e se perdendo em todo tipo de vícios noturnos? É isso que Sêneca alerta, não devemos nos perder na escuridão da noite, pois a vida mais produtiva e harmônica está em aproveitar o raiar do sol ao amanhecer e ao anoitecer para tomarmos as resoluções e afazeres que cabem a nossa vida. 


Algumas pessoas trocam o dia pela noite; elas só acordam tarde, depois de uma noite de excessos. É como se estivessem vivendo em um mundo oposto ao nosso, onde o nascer do sol é tarde e a noite vem depois. É como se a natureza escondesse essas pessoas e as colocasse em um lugar completamente diferente, onde tudo está de cabeça para baixo.

Nas palavras de Catão, este tipo de pessoas que trocam o dia pelos prazeres da noite "nunca viram o sol se levantar ou se por". 



E por isso provoca Sêneca, ao dizer: “Você acha que esses homens sabem como viver, se eles não sabem quando viver? Esses homens temem a morte, se eles se enterraram vivos?” 

E assim, complementa Sêneca: 


“Embora passem suas horas de escuridão em meio ao vinho e aos perfumes, embora passem toda a extensão de suas horas não naturais de vigília a comer jantares – e daqueles cozidos separadamente para fazer muitos pratos – eles não estão realmente banqueteando; eles estão realizando seus próprios serviços funerários. E os mortos pelo menos têm seus banquetes à luz do dia. Mas para quem está ativo, para os vermes, e então, na morte, nenhum dia é longo.”

Segundo Sêneca, devemos prolongar nossas vidas; pois o dever e a prova de vida consistem em ação. Faça a noite curta: use um pouco dela para o dia de negócios.


Em sua comparação, ele afirma que as aves que estão sendo preparadas para o banquete, as quais são engordadas facilmente pela falta de exercício, são mantidas na escuridão; E, da mesma forma, se os homens vegetam sem atividade física, seus corpos ociosos são sobrecarregados com a carne e banha, e em seis auto satisfeitos retiros, a gordura da indolência cresce sobre eles. 


Além disso, os efeitos para a saúde de quem se entrega a depravação da noite e seus prazeres, suas cores são mais alarmantes do que as de anêmicos inválidos; são apáticos e sem virilidade.


E Sêneca pergunta como as pessoas chegam a esse ponto de depravação, onde invertem o ciclo natural do dia e da noite, vivendo apenas na escuridão. 


Isso acontece porque todos os vícios vão contra a natureza e se rebelam contra a ordem estabelecida. O luxo, em particular, tem como lema valorizar o que é incomum e raro, indo além do que é certo e se colocando em oposição à norma estabelecida. 



Um pedaço de madeira é um simples pedaço de madeira, mas se tocado pela hipocrisia e opinião de alguém de honras e títulos maiores, deixa de ser uma madeira para ser algo esplêndido aos olhos de quem ambiciona por elogios e honrarias através da bajulação. 


Você não acha que as pessoas estão indo contra a natureza quando bebem com o estômago vazio, quando tomam vinho sem nada para absorvê-lo e depois comem já intoxicados, embriagados à luz do dia? Surpreendentemente, isso se tornou um hábito popular entre os jovens: fortalecer-se para beber logo antes ou durante o banho, ao lado de outras pessoas nuas; até mesmo se embebedar e depois secar o suor com mais álcool! 


Sêneca ainda pergunta para Lucílio retoricamente: 


“Você não acredita que os homens vivam contrários à Natureza quando trocam a moda de suas roupas com as mulheres? Os homens não vivem contrários à Natureza, quando se esforçam para parecer frescos e juvenis em uma idade inadequada para tal tentativa? O que poderia ser mais cruel ou mais miserável? Não seria possível que o tempo e as posses deste homem o levassem além de uma infância artificial? Os homens não vivem contrários à natureza quando desejam rosas no inverno, ou buscam criar uma flor de primavera como o lírio por meio de aquecedores de água quente e mudanças artificiais de temperatura? Os homens não vivem contrários à natureza quando cultivam árvores frutíferas no topo de um muro? Ou constroem florestas ondulantes sobre os telhados e as muralhas de suas casas – raízes que começam em um ponto em que seria extravagante que os topos das árvores chegassem? Os homens não vivem contrários à natureza quando colocam os alicerces dos banheiros no mar e não imaginam que possam nadar, a menos que sua piscina aquecida seja açoitada pelas ondas de uma tempestade?

Sêneca então explica que quando os homens começam a desejar todas as coisas em oposição aos caminhos da Natureza, terminam abandonando completamente os caminhos da Natureza. 


E por que alguns homens escolhem viver dessa maneira? Não é porque acham que a noite é mais atraente, mas sim porque o que é considerado normal não lhes traz prazer. Para eles, a luz é como uma inimiga, revelando suas consciências pesadas. Além disso, eles valorizam ou desprezam as coisas com base em seu custo, e a iluminação gratuita é vista com desprezo. 


Além disso, aqueles que são luxuosos desejam estar no centro das atenções o tempo todo; se não estão sendo falados, sentem que estão desperdiçando seu tempo. 


Por isso, ficam desconfortáveis quando suas ações não recebem notoriedade. Muitos desses homens gastam todo o seu dinheiro e têm amantes. Se você quiser ganhar uma reputação entre eles, precisa fazer algo que não apenas seja luxuoso, mas também atraia muita atenção e depravação. Quanto mais audacioso for em seus vícios e depravações, mais consideração tem no meio desta luxúria. Nessa comunidade ocupada, a maldade não é vista como escandalosa, ele é parte da escuridão, desejada.


A título de exemplo, Sêneca conta algo  dito por Pedo Albinovano, um contador de histórias muito cativante, ao falar sobre a residência de Séxtio Papinio, que era conhecido por evitar a luz. Por volta das nove horas da noite, ouvia-se o som dos chicotes, Papinio está examinando suas contas. Cerca de doze horas depois, ouvia-se um grito extenuante, ele estava exercitando sua voz. Por volta das duas da manhã, som das rodas, ele está dando um passeio. E ao amanhecer, há uma grande confusão de escravos, mordomos e cozinheiros, Papínio pediu sua bebida e aperitivo, depois de sair do banho, para o seu jantar. Ele não presenciava a luz do sol, sua vida toda era à noite. Por isso, se você concorda com quem o chama de avarento e mesquinho, também pode chamá-lo de 'escravo da lâmpada'.



Não se surpreenda ao encontrar tantas manifestações especiais dos vícios; pois os vícios variam, e há inúmeras fases deles, nem todos os seus vários tipos podem ser classificados. 


O método para manter a integridade é simples; O método para manter a perversidade é complicado e tem infinita oportunidade de mudar de direção. E o mesmo vale para o caráter; se você seguir a natureza, o caráter é fácil de gerenciar, livre e com tons de diferença muito leves; mas, segundo o filósofo, o tipo de pessoa mencionada possui caráter muito deformado, fora de harmonia com todas as coisas, incluindo ele próprio.


A principal causa, no entanto, desta doença parece-me ser uma revolta severa contra a existência normal. Assim como essas pessoas se distinguem das outras nas vestes, ou no arranjo elaborado de seus jantares, ou na elegância de suas carruagens; mesmo assim elas desejam tornar-se peculiares por sua maneira de dividir as horas do dia. Elas não estão dispostas a ser perversas do modo convencional, porque a notoriedade é a recompensa de seu tipo de perversão. A notoriedade é o que todos esses homens procuram – homens que são, por assim dizer, vivendo invertidos.


É por isso, que a felicidade está em se alinhar aos benefícios da luz gratuita, aos benefícios de uma vida que começa ao raiar do dia e se estende à penumbra da noite, o sol é tão importante para nós, que a natureza fez dele uma fonte de vitamina essencial para nosso corpo. 


A luz do dia, chama ao exercício e a produtividade, ela nutre e fortalece o corpo, conduz os homens a buscarem seu sustento, sua força e as relações de auxílio mútuo uns com os outros. 


Manter o caminho que a natureza traçou para nós, e não nos desviarmos disso, é o conselho de Sêneca. Se seguimos a natureza, tudo é fácil e desobstruído; mas se combatermos a Natureza, a nossa vida não difere da dos homens que remam contra a corrente. 


Essa deve ser a fluidez pela vida, os homens nasceram para aceitar as coisas que não podem controlar e manter-se vigilantes com as suas virtudes como honestidade, temperança no agir, justiça, lealdade e auxílio mútuo. Essa cooperação vem quando estamos alinhados com os caminhos da natureza. Por exemplo, um homem que tem medo da morte, busca lutar contra algo que não pode controlar, se acovarda e abdica da vida, pois está concentrado apenas em evitar o ceifeiro. Enquanto um homem que aceita a sua mortalidade, fazendo exercícios de reflexão de que a qualquer momento pode morrer, pois a vida é como uma vela acesa ao vento, este homem entendem que deve valorizar a sua vida e aceitar o fluxo natural da vida que inevitavelmente encontrará seu fim na morte. 


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