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Silencie Sua Mente! Mantenha o Foco | Sêneca, Carta 56

Atualizado: 17 de nov. de 2023


Se você do tipo que acha que para estudar, trabalhar, dormir  é preciso estar em uma redoma de silêncio, que qualquer tipo de barulho lhe tira a atenção. Bom! Fique aqui conosco até o final, pois hoje vamos ouvir o conselho sobre o silêncio e estudo vindo de uma dos maiores filósofos estóicos da antiguidade, Sêneca. Através de sua  quinquagésima sexta carta para Lucílio, denominada: sobre o silêncio e a busca pelo equilíbrio interno.


Sêneca inicia a sua carta dizendo que eu seja amaldiçoado se achar o silêncio ser coisa exigida a um homem que se isola para estudar!



Observe que ele já demonstra que o ruído à volta não deve ser desculpa para nossa incapacidade de concentração. Isso fica claro como a neve quando ele lista um parágrafo inteiro de exemplificação de barulhos que eram feitos ao lado de seu escritório de trabalho. Incluindo o fato de que seus aposentos eram  diretamente sobre um estabelecimento de banhos, então havia uma variedade de sons, que são fortes o suficiente para fazê-lo desejar ser surdo. 


Segundo Sêneca toda a movimentação da rua e de seus vizinhos eram ouvidas de seu aposento, barulhos intermináveis e odiosos. Alguns ao ler sua carta poderiam se perguntar: “Que nervos de ferro ou ouvidos amortecidos, ele deveria ter, para que a sua mente possa suportar tantos ruídos, tão diversos e tão discordantes”.


Entretanto, Sêneca explica que toda esta algazarra não significa mais para ele do que o som das ondas ou da queda de água. Ainda que em certa ocasião reza a lenda que uma certa tribo uma vez moveu sua cidade apenas porque não podiam suportar o ruído de uma catarata do Nilo.



Para o filósofo precisamos manter-se alerta de que as palavras parecem distrair mais do que ruídos; pois as palavras exigem atenção, mas os ruídos apenas enchem as orelhas e batem nelas. Entre os sons que o rodeavam sem distrai-lo, incluem-se carruagens de passagem, um mecânico no mesmo quarteirão, um afilador próximo ou um sujeito que está se manifestando com pequenos canos e flautas no chafariz, gritando ao invés de cantar.


Mas como se concentrar apesar de tantas distrações?


Para Sêneca, devemos forçar a nossa mente a concentrar-se, e impedindo-na de vaguear para as coisas externas; tudo ao ar livre pode ser uma algazarra, desde que não haja perturbação dentro, desde que o medo não esteja disputando com o desejo no nosso peito, contanto que a mesquinhez e a luxúria não estejam em desacordo, uma acossando a outra. 


Assim, questiona Sêneca, qual é o benefício de um bairro tranquilo, se nossas emoções estão em um tumulto?


Você deve pensar, bom! Foi-se a noite, e todo o mundo foi embalado para descansar.  Mas isso é ilusório, Isso não é verdade; pois nenhum descanso real pode ser encontrado quando a razão não é tranquilizada. 


A noite traz nossos problemas à luz, ao invés de bani-los; muda apenas a forma de nossas preocupações. Pois, mesmo quando buscamos o sono, nossos momentos sem sono são tão assustadores quanto o dia. A verdadeira tranquilidade é o estado atingido por uma mente não pervertida quando está relaxada.


Pense no homem infeliz que corteja o sono entregando sua mansão espaçosa ao silêncio, que, para que seu ouvido não seja perturbado por nenhum som, ordena que todos fiquem quieto e que quem quer que se aproxime dele caminhe na ponta dos pés; Ele revira de um lado para o outro e procura um sono agitado em meio a suas inquietações!

Ele se queixa de ter ouvido sons, quando não os ouviu em absoluto. Qual o motivo dessa sensação de agitação, você pergunta? 


A resposta está no fato de que a sua alma está em alvoroço; ela deve ser acalmada, e sua murmuração rebelde controlada. Você não precisa supor que a alma esteja em paz quando o corpo está imóvel. Às vezes, imobilidade significa desconforto. Devemos, portanto, despertar-nos para a ação e nos ocupar com interesses que sejam bons, tão frequentemente como quando ficamos sob julgo de uma preguiça incontrolável.


Grandes generais, quando veem que seus homens são amotinados, os colocam em algum tipo de trabalho ou os mantêm ocupados com pequenas incursões. O homem ocupado não tem tempo para libertinagem, e é óbvio que os males do ócio podem ser sacudidos pelo trabalho árduo. 


Sêneca nos dá um importante detalhe sobre si mesmo, ao dizer que embora as pessoas muitas vezes tenham pensado que ele buscou a reclusão porque estava repugnado com a política e lamentava a sua posição infeliz e ingrata, referindo-se ao seu desterramento para Córdoba, após uma acusação de adultério com a sobrinha do imperador romano Cláudio, chamada Júlia Agripina, mais tarde conhecida como Agripina, a Jovem em 41 d.C. No entanto, continua Sêneca, no retiro para o qual a apreensão e cansaço o levou, sua ambição às vezes se desenvolve novamente. Pois não é porque a sua ambição foi erradicada, que se abateu, mas porque estava cansada ou talvez até desanimada pelo fracasso dos planos de sua ambição.


E assim com o luxo, também, que às vezes parece ter partido, e então quando fazemos uma promessa de moderação quanto ao luxo, momento em ele começa a nos importunar e, em meio a nossas economias, procura os prazeres que simplesmente deixamos, mas não condenamos. 


Na verdade, quanto mais furtivamente e sorrateiro estes desejos de luxo vem, maior é sua força. Pois todos os vícios manifestos são menos graves; uma doença também está mais próxima de ser curada quando ela brota da ocultação e manifesta seu poder. Assim, como a ganância, a ambição e os outros males da mente, você pode ter certeza de que eles fazem mais mal quando estão escondidos atrás de uma máscara de integridade, do que quando fingimos que eles não existem em nossa alma.


Os homens pensam que estamos na aposentadoria, mas ainda não estamos. Pois se nos retiramos sinceramente, e tivermos soado o sinal de retirada, e desprezamos as atrações externas, então, como observei acima, nenhuma coisa externa nos distrairá; nenhuma música de homens ou de pássaros pode interromper bons pensamentos, quando eles se tornam firmes e seguros.


A mente que se abala com palavras ou sons ao acaso é instável e ainda não se retirou para si mesma; contém dentro de si um elemento de ansiedade e medo arraigado, e isso faz a pessoa uma presa da necessidade, como diz nosso Virgílio:


Eu, que de outrora nenhum dardo poderia fazer fugir,Nem gregos, com linhas lotadas de infantaria.Agora tremo a cada som, e temo o ar,Tanto pelo o meu filho quanto pela carga que eu carrego. 

Este homem em seu primeiro estado é sábio; ele não recua nem à lança agitação, nem à armadura de choque do inimigo, nem ao estrondo da cidade atingida. Esse homem, em seu segundo estado, não tem conhecimento, temendo por suas próprias preocupações; qualquer grito é tomado como um grito de batalha e o derruba; a menor perturbação o faz sentir-se ofegante de medo. É a carga que o faz sentir medo.


Escolha qualquer um que quiser de entre os seus favoritos, arrastando suas muitas responsabilidades, carregando seus muitos fardos, e você vai ver um retrato do herói de Virgílio, “temendo tanto por seu filho quanto pela carga que carrega”. Você pode ter certeza de que está em paz consigo mesmo, quando nenhum ruído o assustar, quando nenhuma palavra o sacudir de si mesmo, seja de lisonja, falsos elogios ou de ameaça, ou apenas um som vazio zumbindo sobre você com um barulho sem sentido.


Obviamente Sêneca não tentou se torturar com ruídos e barulhos, ele reconhece ao final que às vezes, quando possível, é bom tomar a medida mais simples para manter a mente tranquila, ou seja, faz bem mudar os ares e buscar menos ruídos a nossa volta, Porém a sua lição central é de que em nada adianta culparmos os ruídos para nossas agitações, pois eles estão do lado de fora, são externos as nós, portanto, as coisas mal resolvidas em nossa mente, como ambição, raiva, medo, luxúria, por exemplo, podem serem mais barulhentas do que o ambiente externo. E para este sentimento, não há quietude no mundo capaz de afagar e controlar. 



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