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Sartre e o Cansaço da Vida Moderna: Como Redescobrir o Sentido e sair do Vazio Existencial

Foto do escritor: Método & ValorMétodo & Valor

Você já se pegou parado diante do espelho, observando a própria imagem e se perguntando como chegou até ali? O dia parece se desenrolar como um filme que você já assistiu inúmeras vezes, cada cena uma repetição da anterior. As horas passam, mas a sensação de estagnação persiste, como se um peso invisível estivesse te mantendo preso a um ciclo sem fim. A rotina se transforma em uma armadilha, onde os compromissos e responsabilidades se acumulam, e você sente que, de alguma forma, está vivendo a vida de outra pessoa. 


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Filósofo Sartre

Essa exaustão que não se dissipa com o simples descanso é um fenômeno mais profundo, uma inquietação que habita não apenas o corpo, mas a alma. É a batalha silenciosa contra as pressões externas que parecem exigir não apenas produtividade, mas também uma felicidade constante, uma satisfação que parece sempre fora de alcance. Você percebe que, em meio a essa cobrança, a essência do que significa viver se dilui, e você se encontra em um labirinto de expectativas que não escolheu.




No silêncio, a mente se torna um campo de batalha. Pensamentos sobre o que poderia ser, o que deveria ser, se agitam incessantemente, criando um ruído que ofusca a clareza. A busca por significado se torna um fardo, e você se vê na necessidade de justificar sua presença no mundo, enquanto a realidade se transforma em um espectro de possibilidades não concretizadas. Sartre, em seus questionamentos existenciais, nos obriga a olhar para dentro do nosso “Eu” e a assumir a responsabilidade por dar sentido à nossa vida. Mas, em momentos de desânimo, essa chamada à ação parece mais uma cobrança, uma exigência que apenas intensifica a sensação de inadequação.


E quando a ideia de buscar um propósito começa a parecer um peso, em vez de uma inspiração? O que acontece quando cada movimento que você faz parece desprovido de significado? Esses são os momentos em que a vida se transforma em um palco, e você, sem querer, se vê interpretando um papel que não escolheu, preso em um roteiro que não escreveu. O que resta, então, quando a essência de ser quem você realmente é parece se perder no emaranhado das obrigações e expectativas sociais?


Para entender melhor a ideia preciso fazer uma breve explicação:  o nosso conceito mais difundido em nossa mente é o de Renê Descartes, o qual acreditava que para encontrar uma certeza inabalável, devemos duvidar de tudo o que é possível duvidar. Desta forma, a única coisa que Descartes não conseguiu duvidar era o fato de que ele estava pensando. Ao duvidar, ele estava, por definição, exercendo a atividade do pensamento. Assim, a própria ação de pensar se torna prova de sua própria existência: se ele duvida, então ele deve existir para duvidar.

Ao pensar assim, a sua declaração também refletiu a separação entre mente e corpo, ou seja, a mente, que pensa, é distinta do corpo, que é parte do mundo físico. Por isso, o resumo famoso e resumido desta ideia, contido na frase: “Penso, logo existo".


Nós acreditamos neste conceito de que somos um ser físico, corpo, e um ser pensante, mas há um problema nesta ideia, quando você olha para dentro de si e se pergunta, “quem sou eu”, observamos que há um ser em nossa mente que traz argumentos para explicar quem somos e outro que parece um entrevistador atento, perguntando e ouvindo a resposta, não parece? 


Sim, e realmente há, o seu ego seria quem está tentando juntar elementos para construir uma autoimagem de si mesmo, trazendo memórias, valores, remoendo sentimentos. Enquanto algo parece observar e julgar o ego. Esse outro ser que parece interrogar é a nossa consciência, ela é como um holofote que reflete a luz sobre as coisas que são externas e sobre nós, o ego. 

Imagine que está debaixo de uma laranjeira carregada de laranjas, sua consciência recebe os estímulos visuais, olfativas e auditivos e a partir disto constrói uma percepção da realidade, ou seja, acreditamos como sendo verdadeiro aquilo que nossa consciência consegue perceber do mundo. 

Mas você não concorda que na laranjeira pode haver mais coisas do que podemos enxergar? Como insetos minúsculos camuflados, fungos, bactérias, um processo de amadurecimento da fruta, complexas ligações atómicas, das quais ignoramos. Se todos esses fatores estão ocorrendo sem que eu veja, sinta, ouça ou enxergue, logo deduzo que minha conclusão sobre verdade, ela está incompleta não é? Pois existem coisas que transcendem a capacidade da mente humana, do ponto de vista de mero observador. 


Consegui ser mais claro? Essa é a ideia trazida por Sartre, em nós há dois aspectos em nossa mente, a consciência, a qual vem primeiro, e por fim o ego. Sendo que como percebemos as coisas é uma perspectiva nossa, não a realidade, pois há sempre algo que transcende nossa mente. 


Mas o que acontece quando a consciência formula uma interpretação da realidade e o nosso ego, está em desacordo com essa ideia, por exemplo, imagine que sua consciência almeje o sucesso, porque isso é o normal na sociedade, ter êxito financeiros e reconhecimento, mas o seu “eu”, seu ego, se sinta incapaz ou demasiado saturado e desanimado de buscar esse sucesso?

Posso dizer que o motivo de você ter assistido este vídeo até aqui é a resposta. Ou seja, você provavelmente está buscando algum sentido existencial. Pois quando nossa consciência e ego estão desorientadas, sentimos uma sensação de apatia perante a vida, de desconexão, nada parece se encaixar conosco. 


Nesse contexto de desorientação, a reflexão se torna uma obsessão em nossa mente. Quando olhamos para dentro, encontramos uma verdade muitas vezes ignorada: a consciência, essa centelha que nos define, não é estática. É um fluxo dinâmico de pensamentos, emoções e experiências que não se limita às expectativas que o mundo nos impõe. Cada momento de dúvida, cada sussurro de insatisfação, pode servir como um catalisador para uma transformação mais profunda. Ao nos depararmos com o que nos incomoda, temos a oportunidade de desconstruir as narrativas que nos prendem a um “eu” fixo, revelando um ser em constante evolução.

Ao questionar o que realmente nos define, podemos descobrir que não estamos correspondendo aos padrões sociais, e isso causa um desconforto interno. A ideia de que devemos ser algo específico para sermos aceitos pode se tornar uma prisão mental. Ao refletirmos sobre essa construção social do “eu”, somos desafiados a desmantelar os muros que erguemos ao nosso redor. Esse processo é muitas vezes desconfortável, pois nos confronta com a possibilidade de um eu mais vulnerável, mas também mais real e livre.


Imagine, então, a liberdade proposta por Sartre: não uma ausência de limites, mas a capacidade de fazer escolhas significativas em um mundo repleto de incertezas. Essa liberdade é uma responsabilidade, e ao aceitá-la, abrimos espaço para reconfigurar nossas vidas. 


Isso significa que a consciência pode ser reformulada, e que embora o meio possa ter destruído nossa percepção do que nos faz feliz, conhecer o nosso ego, nosso “eu”, ajuda aliviar as sobrecargas da expectativa e das frustrações. 


Em vez de encarar a vida como um fardo, podemos buscar refletir sobre nossas certezas, pois o vazio existencial é fruto de um vício do próprio ego, eu sei é meio paradoxal, mas vou tentar explicar. 

A nossa verdade e convicções é fruto de como percebemos o mundo, e como percebemos o mundo depende de incontáveis fatores, construídos desde quando você se tornou um embrião, pois a mãe geralmente permite que o espermatozoide mais compatível com seu corpo, vença a corrida, a partir daí suas formação como pessoa se iniciar de forma única no universo, pois você carrega além de um código genético, um histórico de seus pais, e a medida de que cresce, recebe estímulos sensoriais e hormonais das mais variadas formas, e isso se soma ao meio ambiente que você vive e os eventos que teve como experiência. Expliquei isso tudo, porque quero que entenda que você é uma construção, ou seja, você se moldou desta forma de acordo com o vivenciou, sua verdade é influenciada por isso. 


Pessoas que sofreram violência ou foram abusadas, em regra sentem dificuldade de confiar em seu ego, presume sempre a pior intenção de uma interação social, logo o que ela percebe pode ser mais intuitivo e auto protetivo. Cada um de nós temos nossos medos e eles definem nossa realidade. 


Mas porque o vazio existencial nos vicia? Por que acabamos por construir uma realidade que de fato não existe, mas que para nós se torna um refúgio, um martírio bom, como uma coceirinha de bicho de pé, algo que nos fere, mas que a atenção recebida do mundo externos, nos mantém mais dependente. Queremos ferir o mundo a nossa volta, para que eles prestem atenção em nós, em como nosso “eu”, nosso ego, não se importa com os padrões, mas que paradoxalmente deseja se conectar a eles. 

O vazio existencial é uma areia movediça que engole nossa essencial, nos aflora o ego, nos deixam hipócrita por desejar atenção e sucesso, mas ao mesmo tempo rejeitar isso como uma possibilidade, porque não nos sentimos capazes de estar conectado, e por não se sentir capazes desta conexão, criamos um personagem arrogante e prepotente de nós mesmos. 


Percebe a si mesmo, verificar o que é apenas o seu ego falando, é crucial para afastar esse vazio, ter em mente de que a sua apatia pela vida pode ser fruto de como você está interpretando a realidade, é um passo importante. 


Primeira coisa que fiz para me livrar deste período da minha vida foi entender os conceitos de Nietzsche e o existencialismo de Sartre, isso me fez perceber que a verdade não é algo absoluto e que o que sou é apenas uma percepção de mim mesmo, e que isso pode não corresponder a realidade. 


Entendo isso, eu consigo buscar uma estrutura ética de valores pessoais que guiaram minha compreensão do ego. Ou seja, por exemplo, se eu me sinto desanimado ao ponto de não querer dar um simples bom dia as pessoas no recinto, eu preciso compreender que um dos valores repassado pela minha mãe é de que devemos ser gentis com as pessoas, logo um dever moral que tenho, é de dar bom dia às pessoas, independente dela me responderem ou não. Esse norte, guia e acostuma a nossa consciência a começar a moldar nosso ego, e com o tempo vamos abaixando a arrogância e as coisas vão fazendo mais sentido. 

Algo que sempre me ajudou é assistir programas de sobrevivência na natureza ou representações da vida rústica na natureza, isso me incentiva a querer estar em contato com parques, cachoeiras e paisagens, me faz movimentar, melhorar a saúde do meu corpo e a produção hormonal, clareia o pensamento, ajuda a ter uma percepção mais branda das coisas. 


Uma coisa que amo é séries de investigação policial com personagem inteligentes no enredo, mas eu me controlo para não assistir com frequência, pois o nosso cérebro não sabe muito bem diferenciar a realidade da ficção quando recebe os estímulos da tela, isso faz com que dependendo da violência, ele ative seu sistema de alerta, e causam em nós uma sensação de perigo. Por isso, eu opto por programas mais leves para quando estou com a minha família, algo que induza o sentimento de segurança e conforto, isso deixa a mente mais relaxada e menos reativa. 


Com o tempo, a consciência plena se torna uma aliada. A prática de estar presente nos ensina a valorizar cada pequeno detalhe da vida — o aroma do café pela manhã, o calor do sol na pele, a risada de um amigo. Esses momentos, frequentemente considerados triviais, são os verdadeiros pilares de uma vida plena e significativa. É nesse espaço de apreciação que encontramos a verdadeira alegria, que não se baseia em conquistas grandiosas, mas na simples beleza do cotidiano.

Nossas histórias, com suas imperfeições e triunfos, tornam-se ponte entre nós e os outros. Essa interconexão nos lembra que, apesar das diferenças, todos compartilhamos a mesma busca por significado e pertencimento. E ao nos unirmos nessa jornada coletiva, começamos a tecer uma tapeçaria de experiências e aprendizados que enriquecem não apenas a nossa vida, mas a vida de todos ao nosso redor.


A vida, com todas as suas nuances, se torna um convite contínuo à autenticidade, onde cada escolha e cada momento é uma oportunidade de celebrar a singularidade de nossa existência. E ao abraçarmos essa verdade, podemos olhar para o futuro não com medo, mas com um coração cheio de esperança, prontos para dançar com a vida em sua totalidade, sem amarras, sem máscaras, apenas nós mesmos — seres humanos em constante transformação.




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