Em meio ao turbilhão da vida, com suas incertezas e desafios, surge um convite à reflexão: como encontrar a paz interior e navegar com serenidade pelas águas turbulentas da existência?
Sêneca nos conduz ao pensamento de hoje, ele nos convida a manter a o sentido da vida voltado para as virtudes e a buscar a sabedoria, cultivando uma mente serena e livre de apegos.

A carta de hoje é a de número IV e foi denominada como "Sobre os Terrores da Morte", nestas poucas palavras Sêneca evoca a imagem da infância, simbolizando a ingenuidade e o medo do desconhecido. Ao deixarmos de lado essa fase e abraçarmos a maturidade, desenvolvemos a capacidade de discernir o que realmente importa e nos desapegamos das trivialidades.
E assim, Sêneca disse:
Mantenha-se como você começou, e se apresse a fazer o que é possível, de modo que você possa ter mais prazer de uma mente aperfeiçoada que esteja em paz consigo mesmo. Sem dúvida, você vai auferir prazer durante o tempo em que você estiver melhorando a sua mente e estará em paz consigo mesmo, mas é bem superior o prazer que vem da contemplação quando a mente está tão limpa que brilha. Você se lembra, é claro, que alegria você sentiu quando deixou de lado as vestes de infância e vestiu a toga de homem, e foi escoltado ao fórum; no entanto, você pode ansiar a uma alegria maior quando você deixar de lado a mente da infância e quando a sabedoria lhe tiver inscrito entre os homens. Porque não é a infância que ainda permanece com nós, mas algo pior, – a infantilidade, e esta condição é tanto mais séria quanto possuímos a autoridade da velhice em conjunto com a insensatez da infância, sim, até mesmo as tolices da infância. Os meninos temem coisas sem importância, as crianças temem sombras, nós tememos ambos.
Observe que tudo que tendemos ao comportamento de infelicidade reflete em nós como algo prejudicial? Por exemplo, quando criança estamos formando nossa personalidade, reafirmando perante as outras crianças, queremos demonstrar quem somos e acabamos agindo de forma agressiva, ou submissa, imitando maus comportamentos e buscando nas brincadeiras ser notado o tempo todo.
Um homem que cresce e mantém seu comportamento na infantilidade, reproduz os medos da infância, torna-se inseguro e perturbado pelas opiniões externas a ele, deseja por meio da violência se auto afirmar, através do consumo de bens se tornar alguém digno de ser notado, implora por atenção e quando não tem, adota o comportamento egoísta de reclamar e falar mal dos outros.
É por isso, que devemos amadurecer nossa forma de pensar, pois a sabedoria, o amadurecimento gera equilíbrio e tranquilidade em nossa forma de ser e agir perante a sociedade.
Assim, Sêneca afirmou,
“tudo que você precisa fazer é avançar; compreenderá que algumas coisas são menos temíveis, precisamente porque elas nos estimulam com grande medo. Nenhum mal é tão grande, quanto é o último mal de todos. A morte chega; seria uma coisa a temer, se pudesse ficar com você. Mas a morte não deve vir, ou então deve vir e passar.”
A morte, a grande incerteza da vida, é apresentada como um fantasma que assombra a muitos. No entanto, a reflexão nos convida a encará-la com naturalidade, reconhecendo que ela é parte da nossa jornada e que não há motivo para temer o inevitável, a natureza nos fez para este propósito, e cabe a nós aceitar a sua tesoura dourada que corta o fio da vida. Ter essa compreensão é começar a viver de fato, pois há uma valorização no momento presente.
Desta forma Sêneca disse:
“É difícil, entretanto,” você diz, “trazer a mente a um ponto onde pode menosprezar a vida.” Mas você não vê que razões insignificantes impelem os homens a desprezar a vida? Um enforca-se diante da porta de sua amante; outro se atira da casa para não mais ser obrigado a suportar as provocações de um mestre mal-humorado; um terceiro, para ser salvo da prisão, enfia uma espada em seus órgãos vitais. Você não acha que a virtude será tão eficaz quanto o medo excessivo? Nenhum homem pode ter uma vida pacífica que pense demais em alongá-la ou acredite que viver por muitas atribuições é uma grande bênção.
Repasse este pensamento todos os dias, para que você possa sair da vida contente; pois muitos homens se apegam e agarraram-se à vida, assim como aqueles que são levados por uma correnteza e se apegam e agarram-se a pedras afiadas. A maioria dos homens minguam e fluem em miséria entre o medo da morte e as dificuldades da vida; eles não estão dispostos a viver, e ainda não sabem como morrer.
Por esta razão, torne a vida como um todo agradável para si mesmo, banindo todas as preocupações com ela. Nenhuma coisa boa torna seu possuidor feliz, a menos que sua mente esteja harmonizada com a possibilidade da perda; nada, contudo, se perde com menos desconforto do que aquilo que, quando perdido, não se dá falta. Portanto, encoraje e endureça seu espírito contra os percalços que afligem até os mais poderosos.”
Ao invés de nos apegarmos à vida a todo custo, a citação nos convida a cultivar a virtude e a buscar a sabedoria. Essa força interior nos permitirá viver com plenitude e enfrentar os desafios com serenidade.
A vida é frequentemente comparada a uma correnteza que nos arrasta, levando-nos a nos apegarmos a ilusões e a vivermos em constante medo. A chave para a libertação reside em desapegar-se das coisas materiais e cultivar a paz interior.
A citação nos lembra da fragilidade da vida e da constante ameaça da morte. Ao reconhecermos essa realidade, tornamo-nos mais resilientes e menos propensos a nos abatermos com as dificuldades.
Ao desprezarmos as coisas supérfluas e buscarmos a simplicidade, encontramos a verdadeira felicidade. A riqueza reside na paz interior e na contentamento com o que realmente importa.
Desta forma, Sêneca conclui sua carta:
Por exemplo, o destino de Pompeu foi estabelecido por um menino e um eunuco, o de Crasso por uma Pérsia cruel e insolente. Caio César ordenou Lépido a desnudar seu pescoço para o machado de Dexter; e ele mesmo ofereceu sua própria garganta a Cássio Quereia. Nenhum homem jamais foi tão guiado pela fortuna que ela não o ameaçou tão grandemente como ela o havia favorecido anteriormente. Não confie na aparência de calma; em um momento o mar se agita até suas profundezas. No mesmo dia em que os navios fizeram uma exibição valente nos jogos, eles foram engolidos.
Reflita que um bandido ou um inimigo pode cortar sua garganta; e, embora não seja seu senhor, cada escravo exerce o poder da vida e da morte sobre você. Portanto, eu lhe declaro: é senhor de sua vida aquele que a despreza. Pense naqueles que morreram por meio de conspiração em sua própria casa, mortos abertamente ou por artimanha; você perceberá que tantos foram mortos por escravos raivosos como por reis irados. O que importa, portanto, quão poderoso é quem você teme, quando cada pessoa possui o poder que inspira o seu medo?
“Mas,” você dirá, “se você acaso cair nas mãos do inimigo, o conquistador ordenará que você seja levado”, – sim, para onde você já estava sendo conduzido. Por que você voluntariamente se engana e exige que lhe digam agora pela primeira vez qual é o destino que há muito tempo o aguarda? Acredite em mim: desde que você nasceu você está sendo conduzido para lá. Devemos refletir sobre esse pensamento, e pensamentos similares, se desejamos ter calma enquanto aguardamos esta última hora, o medo dela faz todas as horas anteriores desconfortáveis.
Mas preciso terminar minha carta. Deixe-me compartilhar com você o provérbio que me agradou hoje. Ele também é selecionado do jardim de outro homem.
“Pobreza colocada em conformidade com a lei da natureza, é grande riqueza”. Você sabe quais os limites que a lei da natureza ordena para nós? Apenas evitar a fome, a sede e o frio. A fim de banir a fome e a sede, não é necessário para você cortejar às portas dos ricos, ou submeter-se ao olhar severo, ou à bondade que humilha; nem é necessário para você percorrer os mares, ou ir à guerra; as necessidades da natureza são facilmente fornecidas e estão sempre à mão.
São as coisas supérfluas pelas quais os homens labutam, as coisas supérfluas que desgastam nossas togas a farrapos, que nos obrigam a envelhecer no acampamento, que nos levam às costas estrangeiras. O que é suficiente está pronto e ao alcance das nossas mãos. Aquele que fez um justo pacto com a pobreza é rico.”
É este pensamento que deve nutrir em seu coração, a preocupação com a morte é uma perda de tempo, ela é inevitável e imprevisível. Há muitos fatores que estão acima de nós, muitas coisas que não podemos controlar, eu não posso controlar os eventos cotidianos, mas posso controlar minha perspectiva, como lido com o medo infantil, com a necessidade de segurança, como quando eramos criança. Afasta-se da infantilidade, faça a passagem para a vida adulta, aprenda a agir com sabedoria. Um homem que mantendo uma família, sente a necessidade de passar 5 dias dormindo mal, em meio a todo tipo de depravação e uma festa sem sentido, está recorrendo ao seu eu infantil, está regredindo em si mesmo.
Um homem que a qualquer intempérie da vida sente-se frustrado e incapaz, desejando ser apoiado, como era por seus pais, está regredindo a infantilidade e perturbando a sua mente. Afaste o que lhe é infantil e mesquinho, e perceberá que sua vida será mais serena.
Se você começar a entender que as coisas acontecem a sua volta, e que geralmente estão externo a você, longe do seu controle, e que tudo aquilo que pensa não poder acontecer com você, na verdade é provável que aconteça, você passa a ter uma perspectiva mais amadurecida, longe do seu eu infantil. É possível que sofra um acidente de carro e fique em uma cadeira de rodas, é possível, mas não posso ficar remoendo isso em mim, simplesmente tais fatalidades acontecem, lidar com meus novos desafios da melhor forma que posso, é tudo que me resta.
Perceba que o homem amadurecido em seu pensamento e que afasta de ti a infantilidade, tende a se sentir menos ofendido pelas provocações externas, é capaz de selecionar suas ações, o homem maduro é mais tranquilo em seu viver, pois não sente a necessidade de proteção materna, não sente a necessidade de aprovação por suas ações, pelo contrário, ele faz o que é certo, e isso é o bastante.
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