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Por que a Dor é Inerente à Vida? | Arthur Schopenhauer

Atualizado: 21 de abr.

Arthur Schopenhauer, em O Mundo como Vontade e Representação; escreveu: 


"Se a nossa existência não tem por fim imediato a dor, pode dizer-se que não tem razão alguma de ser no mundo. Porque é absurdo admitir que a dor sem fim, que nasce da miséria inerente à vida e enche o mundo, seja apenas um puro acidente, e não o próprio fim. Cada desgraça particular parece, é certo, uma exceção, mas a desgraça geral é a regra."

Em palavras mais simples, Schopenhauer, faz uma reflexão em uma  perspectiva pessimista sobre a existência humana. Ele argumenta que a dor e o sofrimento são elementos intrínsecos à vida, e, portanto, não podem ser considerados como meros acidentes, mas sim como parte principal, essencial e inerente da condição humana.



A dor não é apenas uma ocorrência aleatória, mas sim um aspecto fundamental da existência, pois está ligada à natureza essencial do mundo e da vida. A dor é nosso melhor mecanismo de sobrevivência. É através deste impulso que nossa mente identifica um problema. A dor física diz que algo no corpo precisa de reparo. Enquanto a dor relacionada ao sentimento, fruto do mundo das representações, essa dor, é uma forma de desconforto diante de uma interpretação sua da realidade a sua volta. 



O que quero dizer é que, se você, por exemplo, trabalha em um local em que não se sente valorizado ou que as pessoas não se aproximam de ti, a tendência é que senta rejeição e frustração, este sentimento se intensifica à medida que toda sua interpretação deste ambiente parte do pressuposto de que neste local você não é aceito e nem respeitado,  logo, sua mente está em um estado de autodefesa, e tudo que você enxerga deste lugar, é mais e mais dor e frustração, mas não porque essa seja a realidade de fato, mas porque sua mente está o tempo todo enxergando uma representação do mundo, algo que você percebe e transforma em algo como sendo seu, a sua verdade. E a cada conversa em um canto que você não escuta o que está sendo dito, pode se tornar uma impressão de que estão falando de você, cada ordem recebida neste ambiente, faz com que se sinta como uma direta para você. 



Segundo Schopenhauer, não adianta romantizar. A vida é cheia de dor e sofrimento, e que isso não é apenas algo que acontece de vez em quando, mas algo que faz parte da vida de todo mundo. A dor não é apenas um acidente, algo passageiro, mas sim uma parte essencial da vida humana. Em termos gerais, viver é sofrer, ser feliz é uma exceção, uma dádiva momentânea e passageira. 



O interessante deste pensamento é que ele nos leva a uma aceitação das dificuldades enfrentadas no dia a dia, faz você perceber que na maior parte do tempo a vida é dolorosa, é sempre um luta constante pela sobrevivência. 


Viver é ter que prover seu próprio alimento, proteger sua fonte de alimento dos demais seres humanos e dos predadores, viver é lutar por território, a segurança é uma construção dura e impetuosa e exige culhões para se impor, exige liderança, ser capaz de se fortalecer e fortalecer um grupo, uma comunidade. É preciso impor e se submeter a regras. 


Ao se construir algo, há luta e a dor continua  por que temos que manter em pé o que erguemos e solidificamos. Quando somos novos aprendemos caindo, errando e levantando, somos preparados para lutar no mundo lá fora, a natureza é cruel e impiedosa, um vacilo e sua vida se esvai como um sopro. Quando crescemos lutamos para manter aquilo que nossos antepassados construíram, para ter um pouco de felicidade, proteção, alimentos, manter-se aquecido e sobreviver. Quando a idade avança e o corpo definha, nos tornamos frágeis e a incerteza do amanhã arrebata. 


Sei que você está pensando que isso é baboseira, eu vivo confortavelmente na minha casa, tenho meu carro, câmeras de vigilância, seguro, serpentina, o Estado, esposa, família, viajo… sinto mais felicidade do que dor, Schopenhauer estava louco, a vida é felicidade com momentos breves de dor. 


Será mesmo? É fato que a sociedade conseguiu solidificar um complexo conjunto de relações de poder e ordem social que criam em nós uma sensação de segurança, felicidade abundante, conforto e necessidade básicas saciadas por meio de um sistema de troca bem elaborado. 



Somos capazes de ganhar dinheiro sem trocar nada útil e físico, por exemplo, este canal está monetizado e não estou te dando nada realmente essencial para a sua sobrevivência, estamos trocando meu tempo e um certo conhecimento metafísico por dinheiro. Isso facilitou as coisas, não preciso mais plantar o que vou comer, eu vou ao mercado, porque alguém plantou além do que ele precisava para que pudesse trocar por algo de valor para ele, no caso, dinheiro, e assim por diante. 


Mas pare por um minuto e imagine um colapso da sociedade, imagine que os governos caíram, e as relações entre as pessoas agora não são regidas por ninguém… dinheiro perdeu o seu valor, porque não tem mais garantias. Cada um por si. Imagine ter que formar uma comunidade, plantar, colher, construir, defender sua propriedade, sua família. Imagine não ter a quem recorrer, ser usurpado de suas posses, viver sabendo que sua vida e dos seus familiares depende exclusivamente da sua força e de muita sorte… 


Pegue um cenário hipotético em que medicamentos são escassos, um simples ferimento e você pode não ter tanta sorte e perder a vida. Viver é estar o tempo todo lutando por um momento de segurança e tranquilidade, consequentemente a felicidade é quando esses instintos e necessidades estão em um patamar equilibrado. 



Essa forma de pensar é poderosa, porque estamos em uma sociedade viciada dopamina, viciada em prazer, carente de afeto, reconhecimento e dependente emocionalmente. Buscando nas ideias de Schopenhauer sobre a vida, estamos tornando a exceção à regra, por isso é cada vez mais difícil ter disciplina, foco e paciência. 


Pense comigo, se eu tornei o prazer e conforto como parte essencial da vida, se eu reconheço que nasci para ser feliz, amado, compreendido, aceito e respeitado o tempo todo, logo, quando algo em minha vida acontece em que eu não me sinta amado, alegre, compreendido, respeitado ou aceito… a conclusão mais óbvia é a de que eu não estou sendo feliz. Se eu não estou feliz, algo está errado, não é? É o papel da vida e do ser humano ser feliz, porque então eu não me sinto feliz? 


Entendeu o problema? Quem acha que a vida é uma nuvem de algodão doce e que as pessoas são tolerantes e amáveis, e constrói para si um mundo fantástico, estas pessoas estão mais suscetíveis a se sentirem frustradas e ansiosas. Simplesmente porque nos acostumamos a pensar que viver é estar feliz, e que sentir dor, solidão, cansaço é uma exceção que ofusca nossa recompensa, logo se não estou feliz o tempo todo, é porque sou incompetente, imbecil, incapaz…


E a internet está aí para te reforçar essa mensagem sem parar. Você abre o instagram, foto de pessoas felizes e arrumadas, filtros, você abre tik tok todo tipo de diversão e dopamina e assim, vai aumentando a sensação de tristeza, porque a regra é sentir prazer, ser feliz. E você vive na exceção que criou em sua mente, de que a vida é um toddinho de morango. 

 

A ideia de Schopenhauer é não é de toda louca, porque se você acredita de que viver é sofrer, ou seja, a regra é de que a natureza é um luta implacável de sobrevivência e sobreviver envolver uma luta, envolver dor e sofrimento, se isso é algo presente na vida humana e essencial a ela, significa que buscar felicidade e propósito na vida é algo superficial e  inútil, porque no fim das contas, o sofrimento é algo constante.


Você deve estar exaltado agora pensando: Pronto, achei um doido dizendo que a vida é dor! Mas calma!


Vou explicar melhor: Se você entende que a vida é dor, que em regra você nasceu para se ferrar na vida, que a todo momento algo ruim pode acontecer e se acontecer você não terá escolha a não ser enfrentar e continuar a viver, logo, quando você não estiver na luta, quando você estiver alimentado, seguro e aquecido, você sentirá um pouco de alívio, esses raros momentos de conforto com a família, consigo mesmo, ou com seus iguais se torna para você algo precioso e valioso. 


Por que? Porque a vida é uma merda só, mas naquele momento eu tive um pouco de descanso da dor para experimentar algo passageiro. Assim que este momento acabar, eu retorno ao pensamento anterior de lutar ou fugir, cuja única regra é sobreviver e satisfazer minhas necessidades básicas. 


Ou seja, minha vida embora um caos, em alguns momentos ela se eleva à tranquilidade, logo, eu tenho esses momentos de felicidade como um presente, não como uma necessidade desenfreada. Eu não estou preocupado com o que acham de mim nas redes sociais, ou se minha foto saiu com muita luz ou pouca luz, se alguém pensa bem ou mal de mim, porque estas coisas não fazem parte de minha prioridade. 

Diferente de quem vive pelo prazer da dopamina, estas pessoas se importam muito com as redes sociais, com que curtiu, o que foi dito ou não, pois para ela, a prioridade é conseguir mais dopamina, como uma formiga persegue o açúcar. 


Espero ter agregado valor no seu dia de hoje, se este foi o caso, me diz o que achou da ideia de Schopenhauer sobre a dor e o propósito da vida? Quero saber sua opinião, se você concorda ou discorda do que eu disse e porque. Não sou dono da razão e compartilhei com você uma interpretação minha desta ideia, se discorda, ficarei feliz em ouvir uma outra opinião. 


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