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O QUE O LAO TSÉ PODE NOS ENSINAR ATRAVÉS DO TAO TE CHING? Desvendando o conceito de Caminho (TAO)

Atualizado: 17 de nov. de 2023

A dificuldade de entendermos a filosofia oriental é justamente pela falta de familiaridade com os conceitos milenares de impermanência e interdependência das coisas.

A filosofia ocidental é construída sobre o ser mundano, sobre a retórica dos pensamentos, é uma filosofia focado no plano existencial, partindo do indivíduo como centro da construção do pensamento, enquanto a filosofia oriental ela parte da inconstância das coisas e como tudo está interligado, aspectos em que o indivíduo não é o foco da filosofia, mas o instrumento de compreensão das leis e harmonia da natureza.



Neste aspecto é difícil para nós entendermos algo que não possua uma definição a partir de uma referência material.

Quando o taoísmo fala sobre caminho e constância, por exemplo, é difícil para nós entendermos o conceito sem transportar essa ideia para a filosofia ocidental.

Por isso, a grosso modo, substituirei a tradução de Caminho (Tao), por verdade, pois o conceito de verdade é algo presente na filosofia ocidental, e seria uma tradução mais aproximada das ideias de Caminho (Tao).

Veja a citação do Livro Tao Te Ching, Capítulo 1:

“O Caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante; O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante; Sem-nome é o princípio do céu e da terra; Com-nome é a mãe de dez mil coisas.”

Traduzindo esse conceito, temos que a Verdade ou o Caminho é algo que não tem definição imutável, é algo impossível de ser referenciado. É como se a verdade ao ser afirmada como tal, fosse uma percepção pessoal de cada indivíduo, quando digo que é uma verdade ou um caminho, estou dizendo uma experiência minha e não a verdade universal, ou uma verdade absoluta. Pois o caminho quando expressado como sendo certo ou errado, já não é a verdade em si, mas uma construção de pensamento, algo criado por nós.



Após estas afirmações o Tao Te Ching, explica o conceito afirmando:

“Assim, a ausência de intenção é contemplar as manifestações do Caminho. E a manutenção da vontade é comtemplar o Orifício; ambos são distintos em seus nomes, mas têm a mesma origem; O comum entre os dois se chama a convergência, a anulação dos opostos. A convergência das convergências é o portal para as manifestações do Caminho.”

Nada mais é do que o conceito de impermanência e interdependência, de mutabilidade das coisas.

Segundo Janine Milward, o Caminho parte do princípio criador e formador de todas as coisas. Esse princípio, primordialmente, ainda é a não-vida, a não-existência, a não-forma, a não-realidade - que dá berço à vida, à existência, à forma, à realidade. Esse seria o Mundo da Não-Manifestação, onde o Tudo e o Todo - o céu e a terra - são gestados ainda dentro do Ventre do Tao.

Por isso a ideia de que: Sem-Nome é o princípio do céu e da terra; ou seja, ainda não ganhou definições terrenas, é o saber em seu estado puro. Por outro lado, o Mundo da Manifestação, já é definido é a mãe das dez mil coisas, ou seja, já foi referenciado pelo homem, identificado como uma verdade ou caminho.

Dessa maneira, na primeira estrofe do Capítulo 1 Lao Tse nos apresenta o Caminho como a total impossibilidade de se falar sobre Ele em sua essência.

Na segunda estrofe, Lao Tse nos reforça a necessidade de não nos desviarmos do sentido da Constância: somente o Tao é constante. Sendo assim, tudo aquilo que se deve fazer em relação à busca da Verdade (Tao) estará contido dentro da constância. Todo o resto, é entendido como duração, ou seja, algo que tem seu começo, seu meio e seu fim.... para que seja transmutado em um novo começo..... infinitamente, porém, dentro da duração, da cisão, da separação, da descontinuidade. Apenas o Tao, O Caminho, se encontra dentro da constância, da continuidade.



A não-aspiração é agir com A Virtude, apenas por agir, sem intenção, ou seja, sempre praticando o entendimento da não manifestação, a não-ação. Não-ação não significa nada fazer.... significa sim, fazer quando deve e como deve ser feito quando deve ser feito, fluindo junto ao caminho, naturalmente, sem que conscientemente se use a intenção de fazer algo.

Agindo naturalmente, certamente o Caminhante agirá dentro da natureza do Tao - essa é a não-ação. Lao Tse usa o termo Maravilhas para nos elucidar sobre o Tudo e o Todo que o Tao pode nos proporcionar através de suas manifestações.

A aspiração, que aparece no segundo verso da segunda estrofe, é também agir o Te, A Virtude, apenas que nesse momento, usando a vontade, a intenção de seguir rumo ao Tao, rumo ao Caminho, buscando suas Maravilhas através da contemplação do Orifício. O Orifício é o instante supremo do Reviram do universo, o instante supremo onde e quando o Mundo da Manifestação se encontra com o Mundo da Não-Manifestação - ou seja, quando se está muito, muito próximo ao Tao, ao Caminho.

“A constante aspiração é contemplar o Orifício”

Essa aspiração é constante, ou seja, a meta do Caminhante é sempre, sempre, alcançar o Tao, O Caminho e com Ele se fusionar plenamente, é retornar ao Mundo da Não-Manifestação - para então continuar sua Jornada, seu Caminho. E a não-aspiração também é constante porque é movida, inspirada pelo Tao, pelo Caminho, exercendo, naturalmente, O Wu Wei, a não-ação, a naturalidade advinda do Tao e que a Ele retorna.

“Ambos são distintos em seus nomes, mas têm a mesma origem”

Na última parte da segunda estrofe, completando o Capítulo 1, Lao Tse nos revela o Mistério. O Mistério é a verdadeira saída do Mundo da Manifestação e a verdadeira entrada no Mundo da Não-Manifestação. O Mistério dos Mistérios é, ao se tornar o Homem Sagrado, tendo adquirido a Iluminação e a Imortalidade, o Caminhante atravessa o Portal que ainda o separava da verdadeira essência do Tao, do Caminho. O Portal está ainda além do Mundo da Não-Manifestação, já faz parte do Sem-Nome.

“O comum entre os dois se chama Mistério; O Mistério dos Mistérios é o Portal para todas as Maravilhas”

A partir daí, da travessia do Portal, tudo retorna a seu começo, ou seja, retorna ao primeiro verso da primeira estrofe do Capítulo 1 do Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude.

Se todo esse pensamento fosse resumido para um universo da filosofia brasileira, diria que a realidade é inconstante e interdependente, é como um rio que corre a ribanceira, por vezes, ele corre por um caminho, por vezes um obstáculo muda-lhe o curso, as vezes está cheio outrora um filete de água.

As ações humanas e naturais estão diretamente ligadas a essas mudanças, da mesma forma que o homem e a natureza estão ligados a existência desse rio, um depende da harmonia com o outro. Quando o homem lhe dá um nome ou afirma que ele está mais vazio, mais cheio, que desviou o curso, este homem não dominou a essência do percurso e da fluidez das águas do rio, ele apenas definiu uma ideia, representou uma observação.

A verdade de quem vê e define a forma que o rio corre, não é absoluta, é uma percepção. Aí entra o quão próximo o homem estará da verdade (o caminho), pois aquele que segue o rio, desde sua nascente até o seu final, fazendo esse caminho infinitamente, acumularia maior conhecimento e teria em suas anotações e experiência maior proximidade com a essência dessa água que percorre um caminho, a qual o homem define como sendo o rio. Essa constância do suporto homem que pesquisa o rio e todo o seu percurso, indo, voltando e anotando, faz dele alguém perito neste assunto, pois a cada passo que ele dá refazendo o caminho, algo novo é observável.

A ideia é abstrata, mas você precisa reter apenas que tudo é impermanente e interdependente, sendo que é preciso compreender uma vez definido um caminho ou uma verdade é uma perspectiva, uma referência, não é absoluta.



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