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O que está por trás de "O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Exupéry? (Resenha Crítica)

Atualizado: 17 de nov. de 2023

Bem-vindos ao mundo mágico de "O Pequeno Príncipe". Este clássico da literatura, escrito por Antoine de Saint-Exupéry, cativa os leitores de todas as idades há gerações. Hoje, vamos explorar a rica narrativa e as mensagens profundas contidas nesta história encantadora.





Vamos analisar a relação única entre o Pequeno Príncipe e a sua Flor, com a Raposa, o acendedor de lampiões, o Rei solitário, o contador de estrelas, a cobra, o geógrafo… desvendar algumas das frases memoráveis que enriquecem o livro e, é claro, discutir os ensinamentos escondidos por trás do diálogos, ou basicamente monólogos do príncipe que nunca desistia de uma pergunta e quase nunca as respondia quando lhes eram dirigida, um tema que continua a intrigar e inspirar.


 Além disso, vamos falar sobre o impacto desse livro na cultura popular e de suas sutis reflexões que emocionaram milhares de leitores iniciantes. Preparados para embarcar nessa jornada de descoberta? Então, vamos começar nossa viagem pelo universo do "Pequeno Príncipe".


Nossa jornada começa com o narrador despertando em nós aquela criança interior, ao nos mostrar um desenho minimalista e pedir a nossa interpretação sobre do que se trata. 


Quero que olhe atentamente para o desenho, se necessário pause o vídeo, e me diga o que você vê, o que ele significa para você? Após chegar a conclusão, escreva nos comentários o que imaginou ao olhar para ele, e veremos como anda sua criança interior, ou se você já está com a alma de adulto. 


O narrador afirma que certa vez, quando tinha seis anos, viu num livro sobre a Floresta Virgem, "Histórias Vividas", uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera. 


Dizia o livro: "As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão."


Logo, ele refletiu muito sobre as aventuras da selva, e fez, com lápis de cor, o seu primeiro desenho. Conforme você pode ver.


Empolgado, ele mostrou a sua obra-prima às pessoas grandes e perguntou se o seu desenho lhes fazia medo. Porém, obteve como resposta, uma outra pergunta:: "Por que é que um chapéu faria medo em alguém?" 


Só tinha um problema, o desenho não representava um chapéu. Desta forma, ele desenhou então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. E agora seu novo desenho se parecia com este. 


Porém as pessoas grandes não estavam a fim de saber de jiboias digerindo elefante e o aconselharam a deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-se de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática.


Foi assim que o narrador abandonou, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eis que fora desencorajado pelo insucesso do seu desenho. Eis que pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.


Qual lição podemos tirar deste pequeno trecho? Diga nos comentários. No meu ponto de vista, percebemos que ao longo de nossa vida, vamos absorvendo a opinião alheia e ao receber encorajamento e desencorajamento, vamos tomando decisões e moldando nossas habilidades. A cada dia fazemos escolhas novas e a cada escolha, renunciamos de um caminho.


Deve ser parte de nossa sabedoria, saber filtrar os conselhos das pessoas que estão ao nosso lado, eis que alguns deles podem refletir apenas a frustração de alguém por não ter conseguido ou uma má experiência do aconselhador. Observe alguém que faliu um empreendimento por exemplo, se você contar a ele provavelmente receberá um desincentivo ou uma enxurrada de motivos para não começar. 


E assim, conta o narrador, que teve pois de escolher uma outra profissão e aprendeu a pilotar aviões. Voou, por assim dizer, por todo o mundo. Porém, isso não melhorou, de modo algum, a sua antiga opinião. Quando encontrava uma pessoa adulta que lhe parecia um pouco lúcida, fazia com ela a experiência do seu primeiro desenho. 


Mas respondiam sempre: "É um chapéu". Então ele não lhes falava nem de jibóias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Punha-se ao seu alcance. Falava-lhe de bridge, de golfe, de política, de gravatas. E a pessoa grande ficava encantada de conhecer um homem tão razoável.


O narrador trata-se de um aviador que até o dia de cerca de seis anos atrás, o qual ele teve uma pane no deserto do Saara. Alguma coisa se quebrara no motor.


Assim, permaneceu no deserto, sendo que consertar seu avião era uma questão de vida ou de morte. Só dava para oito dias a água que ele tinha.


Portanto, o narrador se diz surpreso quando, ao despertar do dia, uma vozinha estranha lhe acordou. Dizendo:


- Por favor ... desenha-me um carneiro. 


Ao olhar o aviador observou se tratar de um pedacinho de gente inteiramente extraordinário. Ora, aquele homenzinho não parecia nem perdido, nem morto de fadiga, nem morto de fome, de sede ou de medo.


_ Quando pode enfim articular uma palavra, perguntou-lhe: - Mas ... que fazes aqui?


Ele repetiu então,


_ Por favor... desenha-me um carneiro. 


Por mais absurdo que aquilo me parecesse a mil milhas de todos os lugares, o aviador tirou do bolso uma folha de papel e uma caneta.


Como jamais houvesse desenhado um carneiro, refez para ele um dos dois únicos desenhos que sabia. O da jiboia fechada. E ficou estupefato de ouvir o garoto replicar:


- Não! Não! Eu não quero um elefante numa jiboia. A jibóia é perigosa e o elefante toma muito espaço. Tudo é pequeno onde eu moro. Preciso é dum carneiro.


Fez mais uma vez o desenho. Mas ele foi recusado como os precedentes:


Então, perdendo a paciência, rabiscou o desenho ao lado. E arriscou: Esta é a caixa. O carneiro está dentro. 


Mas ficou surpreso de ver a felicidade do pequeno príncipe: - Era assim mesmo que eu queria! Será preciso muito capim para esse carneiro?


Quanto ao Carneiro, podemos observar que o Pequeno Príncipe recusa vários convencionais, antes de finalmente, o aviador desenhar uma caixa e explicar que o carneiro está dentro dela. Essa abordagem criativa e imaginativa reflete a importância de ver o mundo de maneira diferente e de reconhecer a singularidade da perspectiva de cada um, da capacidade de ver as coisas de forma criativa, além de mero números. O carneiro é uma metáfora para a necessidade de cultivar a imaginação e a capacidade de ver as coisas além das aparências superficiais. É por isso que para o Pequeno Príncipe é inconcebível a ideia de prender ou amordaçar o seu pobre carneiro, pois isso seria perder a sensibilidade para o invisível aos olhos. 


O principezinho, que fazia milhares de perguntas, não parecia sequer escutar as do narrador. Palavras pronunciadas ao acaso e que foram, pouco a pouco, revelando tudo.


_ Para onde queres levar o carneiro? Ficou meditando em silêncio, e respondeu depois: O bom é que a caixa que me deste poderá, de noite, servir de casa.


_ Sem dúvida. E se tu fores bonzinho, darei também uma corda para amarrá-lo durante o dia. E uma estaca. A proposta pareceu chocá-lo: Amarrar?


_ Que idéia esquisita - Mas se tu não o amarras, ele vai-se embora e se perde... E meu amigo deu uma nova risada: - Mas onde queres que ele vá?


Então o principezinho observou, muito sério:


- Não faz mal, é tão pequeno onde moro ! E depois, talvez com um pouco de melancolia, acrescentou ainda: - Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe. 


Observe que este livro é dedicado a um amigo de infância de Antoine, e ele desde do começo já avisa que você deve resgatar aquela forma única de uma criança ver o mundo. Mais ainda, o príncipe é um filósofo que está sempre disposto a fazer perguntas para uma vida mais cheia de significado, ele busca fazer parte da vida e não apenas observá-la. Para isso, ele parte em uma jornada por sete planetas, cada um representando uma personalidade, ou virtudes e características que tendemos a desenvolver ao longo da vida. 


O narrador explica que para nós adultos é difícil compreender as coisas simples, o essencial invisível aos olhos. Nós estamos mais preocupados com números do que com o que realmente importa na vida, a capacidade de enxergar a vida de forma leve e criativa. Se um amigo diz que viu uma bela casa, nossa primeira reação é saber quantos metros quadrados, quanto custa, qual região… pouco importa a nós a sua cor, as plantas que contém, o aconchego. Estamos sempre em busca da literalidade. 


Neste contexto, o narrador explica que há planetas tão pequenos que mal se vêem no telescópio. Quando o astrônomo descobre um deles, dá-lhe por nome um número.


Por isso, afirma que tem sérias razões para supor que o planeta de onde vinha o príncipe era o asteroide B 612. 


O interessante é que o livro trás uma explicação para este nome, porém ela é fictícia. O asteroide B612 tem nome inspirado em uma experiência pessoal do autor, pois, quando trabalhava como piloto de entregas, Saint-Exupéry pilotava um avião identificado pelo número A-612. Na história, o narrador menciona também que o asteroide foi observado em 1909 por um astrônomo turco.


Entretanto, segundo o site Canaltech, 19 asteroides foram descobertos naquele ano, mas nenhum deles veio de algum astrônomo da Turquia ou se chamava B612. Mas, de fato, há um asteroide que recebeu nome inspirado na obra: ele foi observado pela primeira vez em 1909, mas foi somente em 1993 que astrônomos do Observatório Kitami, no Japão, confirmaram sua existência. 


Porém no livro, ficcionalmente, o aviador conta que esse asteroide só foi visto uma vez ao telescópio, em 1909, por um astrônomo turco.


Ele teria feito na época uma grande demonstração da sua descoberta num Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém lhe dera crédito, por causa das roupas que usava. Até que um ditador turco obrigou o povo, sob pena de morte, a vestir-se à moda européia. O astrônomo repetiu sua demonstração em 1920, numa elegante casaca. Então, dessa vez, todo o mundo se convenceu.


Eis que as pessoas grandes adoram os números. Elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: "Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? "Mas perguntam: "Qual é sua idade? Quantos irmãos tem ele? Quanto pesa? Somente então é que elas julgam conhecê-lo.


Por este motivo, a prova de que o principezinho existia é que ele era encantador. Quando alguém quer um carneiro, é porque existe" elas darão de ombros e nos chamarão de criança! Mas se dissermos: "O planeta de onde ele vinha é o asteroide B 612" ficarão inteiramente convencidas, e não amolarão com perguntas.


Julgava-me talvez semelhante a ele. Mas, infelizmente, não sei ver carneiro através de caixa. Sou um pouco como as pessoas grandes. Acho que envelheci. 


Assim, o príncipe o interrogou, tomado de grave dúvida: É verdade que os carneiros comem arbustos? Sim. É verdade. Ah! Que bom!


Por conseguinte eles comem também os baobás? Fez notar ao principezinho que os baobás não são arbustos, mas árvores grandes como igrejas.


Mas notou, em seguida, sabiamente:


- Os baobás, antes de crescer, são pequenos. - É fato! Mas por que desejas tu que os carneiros comam os baobás pequenos?


Com efeito, no planeta do principezinho havia, como em todos os outros planetas, ervas boas e más. Quando se trata de uma planta ruim, é preciso arrancar logo, mal a tenhamos conhecido. Ora, havia sementes terríveis no planeta do principezinho: as sementes de baobá ... O solo do planeta estava infestado.


"É uma questão de disciplina", disse mais tarde o principezinho. É preciso que a gente se conforme em arrancar regularmente os baobás logo que se distingam das roseiras. É um trabalho sem graça, mas de fácil execução." Às vezes não há inconveniente em deixar um trabalho para mais tarde. Mas, quando se trata de baobá, é sempre uma catástrofe. Conheci um planeta habitado por um preguiçoso. Havia deixado três arbustos.


Observe que o baobá e o pequeno planeta do príncipe são na verdade uma metáfora sobre nosso coração, ou seja, nossos sentimentos ao longo do dia. Esta ideia remete muito a Platão, especialmente à sua ênfase na educação e na formação da alma, ao defender a importância da educação para moldar indivíduos virtuosos, a virtude é uma prática constante e requer disciplina. Logo os baobás representam a necessidade de lidar com problemas antes que cresçam e se tornem incontroláveis, refletindo a preocupação com a formação adequada desde cedo.


Aí está a ideia de que devemos cuidar de nosso pequeno planeta, nossas emoções e virtudes, mantendo e cultivando as ervas boas. 


Desta forma, o Pequeno Príncipe continuou:


_ Um carneiro, se come arbusto, come também as flores? Um carneiro come tudo que encontra. Mesmo as flores que tenham espinhos? Sim. Mesmo as que têm. Então... para que servem os espinhos? Eu não sabia. Estava ocupadíssimo naquele instante. 


_ Para que servem os espinhos? O principezinho jamais renunciava a uma pergunta. 


Respondeu qualquer coisa:


- Espinho não serve para nada. São pura maldade das flores. - Oh! Mas após um silêncio, ele me disse com uma espécie de rancor:


_ Não acredito! As flores são fracas. Ingênuas. Defendem-se como podem. Elas se julgam terríveis com os seus espinhos...


_ Não respondi.


_ E tu pensas então que as flores ... - Ora! Eu não penso nada. O aviador respondeu qualquer coisa. “Eu só me ocupo com coisas sérias”. Ele olhou-me estupefato: - Coisas sérias!


_ Tu falas como as pessoas grandes! Senti um pouco de vergonha. Mas ele acrescentou, implacável: - Tu confundes todas as coisas ... Misturas tudo! Estava realmente muito irritado.


_ Eu conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu: "Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!" e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo!


O principezinho estava agora pálido de cólera.


- Há milhões e milhões de anos que as flores fabricam espinhos. Há milhões e milhões de anos que os carneiros as comem, apesar de tudo. E não será sério procurar compreender por que perdem tanto tempo fabricando espinhos inúteis? Não terá importância a guerra dos carneiros e das flores? Não será mais importante que as contas do tal sujeito? E se eu, por minha vez, conheço uma flor única no mundo, que só existe no meu planeta, e que um belo dia um carneirinho pode liquidar num só golpe, sem avaliar o que faz, - isto não tem importância?!


_ Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla.


_ Mas se o carneiro come a flor, é para ele, bruscamente, como se todas as estrelas se apagassem! E isto não tem importância!


_ Não pôde dizer mais nada. Pôs-se bruscamente a soluçar. A noite caíra. Larguei as ferramentas.


Embalou-o. E lhe disse:


_ "A flor que tu amas não está em perigo... Vou desenhar uma pequena mordaça para o carneiro... Uma armadura para a flor... Ele não sabia o que dizer. Sentia-se desajeitado.


Uma possível interpretação é de que a flor  representa o amor e a singularidade das relações. O Pequeno Príncipe desenvolve um relacionamento especial com a sua roseira única em seu pequeno planeta como poderemos ver logo mais, ela também destaca temas como a fragilidade das relações, a importância de cuidar daquilo que amamos e a complexidade das emoções humanas, explorando aspectos como a busca de compreensão, o perdão e a aceitação das imperfeições nas relações. 


Por isso, a preocupação com a proteção da flor. Esta ideia de protegê-la reflete a busca por compreensão e conexão emocional. Podemos observar nessa relação os sentimentos do amor, a responsabilidade por proteger o objeto amado, os caprichos que a complexidade do amor nos impõe como a necessidade de atrair a atenção do amado, o egoísmo, o ciúme, a vaidade ao mesmo tempo em que se deseja de todo coração o bem-estar um do outro. 


Assim, continua o aviador dizendo do que pode bem cedo conhecer melhor aquela flor, Sempre houvera, no planeta do pequeno príncipe, flores muito simples, ornadas de uma só fileira de pétalas,


Apareciam certa manhã na relva, e já à tarde se extinguiam. Mas aquela brotara um dia de um grão trazido não se sabe de onde, e o principezinho vigiara de perto o pequeno broto, tão diferente dos outros. Mas o arbusto logo parou de crescer, e começou então a preparar uma flor. Mas a flor não acabava mais de preparar-se, de preparar sua beleza, no seu verde quarto. Escolhia as cores com cuidado. Vestia-se lentamente, ajustava uma a uma suas pétalas. Não queria sair. Ah ! sim. Era vaidosa. Sua misteriosa toalete, portanto, durara dias e dias.


Até que por fim, disse: Ah! eu acabo de despertar. . . Desculpa... Estou ainda toda despenteada... O principezinho, então, não pôde conter o seu espanto:


- Como és bonita!


O principezinho percebeu logo que a flor não era modesta. Mas era tão comovente! Creio que é hora do almoço, acrescentou ela. E o principezinho, embaraçado, fora buscar um regador com água fresca, e servira à flor. Ela o afligira logo com sua mórbida vaidade. Falando dos seus quatro espinhos, dissera ao pequeno príncipe: - É que eles podem vir, os tigres, com suas garras! 


_ Não há tigres no meu planeta, objetara o principezinho. E depois, os tigres não comem erva.


_ Não sou uma erva, respondera a flor suavemente. Não tenho receio dos tigres, mas tenho horror das correntes de ar. Não terias acaso um pára-vento?


_ À noite me colocarás sob a redoma. Faz muito frio no teu planeta. Está mal instalado. Tossiu duas ou três vezes, para pôr a culpa no príncipe: - E o pára vento? Vai lá buscá-lo. Mas tu me falavas ... Então ela redobrara a tosse para infligir-lhe remorso.


Assim o principezinho, apesar da boa vontade do seu amor, logo duvidara dela. "Não a devia ter escutado - confessou-lhe um dia - não se deve nunca escutar as flores.


_ Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava ... Não devia jamais ter fugido. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar.


Quantas vezes estamos tão preocupados com o que o outro diz ou não diz, e ignoramos seus gestos de amor, pois estamos sempre como a flor, vaidosos, cheios de si, preocupado com nosso bem-estar, acabamos esquecendo o quanto o outro é especial e o que ele demonstra amor em diferentes gestos peculiares, seja no simples acordar mais cedo para preparar um café antes do outro sair para trabalhar, um organizar a casa antes do outro chegar do serviço, um chocolatinho preferido a mais na compra por lembrar de que o outro é especial e o alegrar. Isso é o amor, complexo e flutuando em diferentes sentimentos, de medo de perder, ciúme e o senso de responsabilidade e cuidado. 


E assim, o pobre principezinho se viu diante da despedida de sua preciosa flor que cultivou com tanto carinho. 


Na manhã da partida, pôs o planeta em ordem. Revolveu cuidadosamente seus dois vulcões em atividade, arrancou também, os últimos rebentos de baobá.


E por fim, pôs-se a dar adeus à flor. Mas a flor não respondeu. Ela apenas tossiu. Mas não era por causa do resfriado.


Eu fui uma tola, disse por fim. Peço-te perdão. Trata de ser feliz. A ausência de censuras o surpreendeu.


Trata de ser feliz… Mas pode deixar em paz a redoma. Não preciso mais dela. - Mas o vento ... Não estou assim tão resfriada... O ar fresco da noite me fará bem. Eu sou uma flor. - Mas os bichos... - É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão belas! Do contrário, quem virá visitar-me? Tu estarás longe. Quanto aos bichos grandes, não tenho medo deles. Eu tenho as minhas garras.


Não demores assim a partir, que é exasperante. Tu decidiste ir. Vai-te embora! Pois ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muito orgulhosa. 


Esta partida é muito simbólica, observe que a flor se despiu de sua vaidade, do egoísmo e das armaduras, e mostrou-se forte para que o príncipe não se sentisse mal pelo fato de que ele estava partindo. Ela por fim, que sempre foi servida, colocou o desejo do outro na frente dos seus e dispensou a redoma. E ali disse uma frase sensacional: “É preciso que eu suporte duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas”. Assim como na vida, é preciso que enfrentemos certas adversidades se quisermos ter algum sucesso na vida, é essa força de encarar os problemas que nos tornam quem somos e que trás a realização pessoal. 


O Príncipe então partiu, e se achava na região dos asteróides 325, 326, 327, 328, 329, 330. Começou, pois, a visitá-los, para procurar uma ocupação e se instruir. O primeiro era habitado por um rei. O rei sentava-se, vestido de púrpura e arminho,


Ah ! Eis um súdito, exclamou o rei ao dar com o principezinho. O principezinho procurou com olhos onde sentar-se, mas o planeta estava todo atravancado pelo magnífico manto de arminho. Ficou, então, de pé. Mas, como estava cansado, bocejou.


É contra a etiqueta bocejar na frente do rei, disse o monarca. Eu o proíbo.


Não posso evitá-lo, disse o principezinho confuso. Fiz uma longa viagem e não dormi ainda... Então, disse o rei, eu te ordeno que bocejes. Há anos que não vejo ninguém bocejar!


Isso me intimida... eu não posso mais... disse o principezinho todo vermelho. - Hum! Hum! respondeu o rei. Então... então eu te ordeno ora bocejares e ora não bocejes... Ele gaguejava um pouco. 


Porque o rei fazia questão fechada que sua autoridade fosse respeitada. Não tolerava desobediência. Era um monarca absoluto. Mas, como era muito bom, dava ordens razoáveis. "Se eu ordenasse, costumava dizer, que um general se transformasse em gaivota, e o general não me obedecesse, a culpa não seria do general, seria minha."


Essa ideia reflete o pensamento de Platão, em "A República", o qual defende a ideia de que o governante deve ser sábio e conhecedor, e as ordens devem refletir esse conhecimento para garantir uma sociedade justa. Portanto, o ponto é que se um líder der uma ordem que parece irracional, a responsabilidade recai sobre o líder, não sobre o subordinado. 


Mas o principezinho se espantava. O planeta era minúsculo. Sobre quem reinaria o rei?


Sobre tudo, respondeu o rei, com uma grande simplicidade. - Sobre tudo? O rei, com um gesto discreto, designou seu planeta, os outros, e também as estrelas.


E as estrelas vos obedecem? Sem dúvida, disse o rei. Obedecem prontamente. Um tal poder maravilhou o principezinho.


Eu desejava ver um pôr-do-sol ... Fazei-me esse favor. Ordenai ao sol que se ponha... Disse o príncipe. 


- Se eu ordenasse a meu general voar de uma flor a outra como borboleta, e o general não executasse a ordem recebida, quem - ele ou eu - estaria errado?


Vós, respondeu com firmeza o principezinho. - Exato. É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar, replicou o rei. A autoridade repousa sobre a razão. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis. 


Observe que em forma de sátira, e uma espécie de crítica ao poder absolutista do monarca, a concepção de que ele reina sobre nada, sem propósito, reafirmando sua autoridade sobre o óbvio fora de seu controle. Entretanto, além disso, o autor trás neste trecho um excelente exemplo das ideias de Platão sobre a relação justa entre governante e liderados ao explicar a ideia de ordens razoáveis. 


E assim, prossegue o Monarca: Teu pôr-do-sol, tu o terás. Eu o exigirei. Mas eu esperarei, na minha ciência de governo, que as condições sejam favoráveis. Será lá por volta de ... por volta de sete horas e quarenta, esta noite.


Por fim, o príncipe disse ao rei: Não tenho mais nada que fazer aqui. 


Não partas, respondeu o rei,


Não partas: eu te faço ministro - Ministro de quê? - Da ... da justiça


Mas não há ninguém a julgar!


Tu julgarás a ti mesmo, respondeu-lhe o rei. É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio.


Olha esta magnífica lição! Quantas vezes paramos para julgar os outros e dissemos que deveriam fazer assim ou assado. Que é só começar uma academia, que não emagrece porque não quer, que era só ter estudado, porém, às vezes, são coisas que quando vamos fazer em nossa vida, não conseguimos da forma tão fácil com que reputamos serem tão simples aos outros fazerem. Por isso, devemos nos concentrarmos em julgar a nossos atos, pois assim, melhoramos a cada dia e podemos perceber as dificuldade que o outro pode enfrentar, isso desenvolve nossa empatia. 


É curioso porque o psicólogo Jung dizia que muitas das vezes um defeito em uma outra pessoa que nos incomoda muito que a gente olha e realmente não gosta daquele defeito, ele pode representar uma coisa que, na verdade, nós temos dentro de nós, e que a gente não gosta de ter aquilo dentro de nós, e a gente afasta e repugna na outra pessoa. As pessoas também vão ser símbolo da nossa vida, vão ser nosso espelho das quais a gente aprende e cresce um pouquinho enquanto ser humano.


E portanto, continuou o príncipe:


Mas eu posso julgar-me a mim próprio em qualquer lugar. Não preciso, para isso, ficar morando aqui.


Mas o principezinho, tendo acabado os preparativos, não quis afligir o velho monarca: - Se Vossa Majestade deseja ser prontamente obedecida, poderá dar-me uma ordem razoável. Poderia ordenar-me, por exemplo, que partisse em menos de um minuto. O rei não disse nada, até que suplicou: Eu te faço meu embaixador, apressou-se o rei em gritar, enquanto o Príncipe partia. 



O segundo planeta, um vaidoso o habitava.


_ Ah! Ah! Um admirador vem visitar-me! exclamou de longe o vaidoso, mal vira o príncipe. Porque, para os vaidosos, os outros homens são sempre admiradores.


Você tem um chapéu engraçado. Disse o príncipe. 


É para agradecer, exclamou o vaidoso. Para agradecer quando me aclamam. Assim, pediu que o príncipe o aplaudisse. 


O vaidoso recomeçou a agradecer, tirando o chapéu. Após cinco minutos de exercício, o principezinho cansou-se com a monotonia do brinquedo: - E para o chapéu cair, perguntou ele, que é preciso fazer? Mas o vaidoso não ouviu. Os vaidosos só ouvem os elogios.


Não é verdade que tu me admiras muito? perguntou ele ao principezinho. - Que quer dizer admirar? - 


Admirar significa reconhecer que eu sou o homem mais belo, mais rico, mais inteligente e mais bem vestido de todo o planeta. - Mas só há você no seu planeta! - Da-me esse gosto. Admira-me mesmo assim!


Eu te admiro, disse o principezinho, dando de ombros. Mas como pode isso interessar-te?


O vaidoso continuou a se vangloriar. E o príncipe partiu. 


Um fato interessante é de que a palavra "vaidade" vem do latim, "vanitas", a qual significa vazio. Na verdade, é uma característica muito recorrente em todos nós e ela vai representar esse vazio de algo dentro, e como eu não tenho algo dentro, eu vou colocar uma imagem, uma máscara, e eu vou precisar que aquilo ali seja reforçado bastante, para que eu receba elogios por aquilo. Seja amado e idolatrado por aquilo que exteriorizei para o mundo.


É aquela famosa guerra entre o ser e o parecer, a dualidade entre o vazio que sinto, a falta de amor próprio pelo que sou, contra aquilo que quero que as pessoas pensem de mim. Como eu não consigo ser um ser humano com profundidade, eu preciso parecer algo, e eu preciso mais do que isso, desejo me reafirmar naquela coisa que eu pareço ser fora. Uma das coisas que a vaidade desperta muito em nós é a competição, justamente porque eu preciso reforçar minha máscara, eu preciso me reafirmar em algum aspecto fora e para isso, eu preciso ser melhor do que o outro, e isso reflete nas nossas relações sociais e interpessoais.


Esse capítulo aborda críticas à vaidade excessiva e à busca por aprovação externa. Saint-Exupéry utiliza essa história para refletir sobre a natureza humana, destacando como a busca desenfreada por elogios e a atenção exclusiva para si mesmo podem levar à solidão e à falta de verdadeira conexão com os outros. O Vaidoso nem tomou conhecimento do príncipe, estava mais preocupado em ser reconhecido do que em buscar ter uma nova amizade. Muitas pessoas estão se tornando assim, vaidosos e carentes de reconhecimento, disposto a qualquer coisa por like ou por ser famoso, abrindo mão de seu orgulho próprio e de importantes valores morais para isso. 


O planeta seguinte era habitado por um bêbado. Esta visita foi muito curta, porém talvez a mais importante do pequeno príncipe, uma vez que ela reflete nossos vícios, um aspecto também bastante presente na vida humana. 


O vício vem muito do desejo de fuga da realidade. Essa fuga de querer esquecer os problemas, ou seja, ele demonstra uma ambição, como a minha vida não me gera um grau de satisfação, eu busco no vício essa satisfação para que eu sinta alguma espécie de prazer enquanto ser humano. Aqui neste planeta, ele é representado através da bebida, mas os vícios vão se expressar de diversas formas para o ser humano, desde a entorpecentes, a estilos de vida vazios, jogos eletrônicos e de azar, redes sociais…


Enfim, essa ideia de que como eu não consigo ter essa satisfação, como eu não consigo encontrar esse prazer na vivência da minha existência, na minha vida, eu vou buscar essa satisfação em alguma coisa que me gere dopamina instantânea, que por um breve período, eu consiga uma espécie de fuga da vida.


Mas por que a filosofia é muito crítica de comportamentos viciosos? Por que principalmente os estóicos, Aristóteles e Sócrates temem tanto o vício? 


Simples, pelo motivo de que para o filósofo, isso é algo muito contraditório. Porque quanto mais eu vou buscar uma reflexão mais profundo sobre a vida, compreender a vida um pouco mais profundamente, mais eu preciso de consciência sobre mim, estar atento às minhas emoções, ao ambiente a minha volta, para que a vida se torne mais prazerosa de se viver. Os vícios são um entrave para essa necessidade filosófica, pois ele impede a liberdade de escolha da pessoa, ele tira o autodomínio necessário para refletir sobre a vida.


Por isso, esta interação do pequeno príncipe é complexa e sutil, pois ao chegar no terceiro planeta, eles se comprimentam e o príncipe demonstra curiosidade sobre tantas garrafas espelhadas no pequeno planeta. , 


Por que é que bebes? perguntou-lhe.


 - Para esquecer, respondeu o beberrão. Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça. - Vergonha de quê?


Vergonha de beber! concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio. Assim, o principezinho foi-se embora, perplexo, sem entender tamanha contradição entre o vício ser alimentado pela vergonha do próprio vício. Embora estranho pensar assim, os vícios mantêm essa certa dualidade, entre a consciência de que não se deve fazer, porém já não tem o domínio necessário sobre si mesmo, para decidir agir de outro modo, essa sensação de impotência, alimenta a vergonha de nós mesmo e de nosso objeto vicioso.


O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não levantou sequer a cabeça. 


Bom dia, disse-lhe o pequeno príncipe. 


_ O seu cigarro está apagado.


_ Não há tempo para acender de novo. E assim continuou a contar, o contador solitário. 


_ Quinhentos milhões de quê? - Hem? 


_ Ainda estás aqui? 


_ Quinhentos e um milhões de... eu não sei mais ... Tenho tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me preocupo com ninharias!


Quinhentos milhões de quê?, continuou o insistente principe. 


O homem de negócios compreendeu que não havia esperança de paz: - Milhões dessas coisinhas que se vêem às vezes no céu.


Ah estrelas? - Isso mesmo. Estrelas.


Eu sou um sujeito sério. Gosto de exatidão. - E que fazes tu dessas estrelas? - Que faço delas?


 _ Sim. 

_ Nada. Eu as possuo.


Mas eu já vi um rei que ... 


- Os reis não possuem. Eles "reinam" sobre. É muito diferente - E de que te serve possuir as estrelas? - Serve-me para ser rico - E para que te serve ser rico? - Para comprar outras estrelas, se alguém achar.


_ Como pode a gente possuir as estrelas? 


_ De quem são elas? respondeu, ameaçador, o homem de negócios.


_ Eu não sei. De ninguém. 


_ Logo são minhas, porque pensei primeiro.


Isso é verdade, disse o principezinho. E que fazes tu com elas? Eu as administro. Eu as conto e reconto. 


Porém o principe ainda não estava satisfeito e rebateu dizendo que possui exige ter em posse, poder mensurar, exemplificando de que se possuo um lenço, posso colocá-lo em torno do pescoço e levá-lo comigo. Já as estrelas não, estão muito distantes. 


Então o contador demonstra que ele não simplesmente as contas, ele escreve num papelzinho o número de suas estrelas. Depois tranca o papel a chave numa gaveta.


_ Por fim, antes de partir, insolentemente afirmou o Pequeno Príncipe: possuo uma flor que rego todos os dias. Possuo três vulcões que revolvo toda semana. É útil para os meus vulcões, e útil para a minha flor que eu os possua. Mas tu não és útil às estrelas.


O homem de negócios abriu a boca, mas não achou nada a responder, e o principezinho se foi.


Em sociedade onde a falta de tempo é muitas vezes usada como um simbolo de seriedade, surge a reflexão de Sêneca, o filósofo estoico do século III a.C., que, mesmo em sua época, enfrentou queixas semelhantes sobre a escassez de tempo. Sua obra, "Sobre a brevidade da vida", traz uma perspectiva intrigante: "Não é que você não tenha tempo; a vida lhe deu tempo suficiente para realizar o que você acha importante, digno e humano. O problema é que você está desperdiçando seu tempo com aquilo que não é válido."


Essas palavras atravessaram os séculos, e ainda hoje retratam um problema moderno. As justificativas frequentes de estar "muito ocupado" ou de não ter tempo tornaram-se quase um mantra pessoal. Por isso, devemos manter a atenção sobre como estamos levando nossa vida, as vezes estamos contando estrelas e guardando números em gavetas ou em contas bancárias, dizendo-se sem tempo para as coisas importantes da vida, como: um tempo com os filhos, com a esposa, uma viagem, momentos e memórias agradáveis. 


O quinto planeta era muito curioso. Era o menor de todos. Mal dava para um lampião e o acendedor de lampiões. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita.


Podemos observar uma inspiração neste capítulo no "Bhagavad Gita" e nas reflexões de Khalil Gibran em "O Profeta", no qual eles destacam a importância da ação desinteressada e da amizade como meios de elevação espiritual. A obra hindu enfatiza a reta ação, desvinculada de interesses nos resultados, enquanto o poeta libanês ressalta que a verdadeira amizade deve buscar a melhoria contínua dos envolvidos.


No livro, identificamos esses princípios na figura do acendedor de lampiões, evidenciando uma compreensão profunda sobre a verdadeira essência das relações humanas. Pois de todos os planetas o acendedor de lampião continua seu trabalho em benefício alheio, da beleza da iluminação, é o único que age sem interesses ou segundas intenções.


Assim, o príncipe ao chegar diz: Bom dia. Por que acabas de apagar teu lampião? Eu executo uma tarefa terrível. É o regulamento. Respondeu o acendedor. Ou seja, eu apago o meu lampião. Boa noite. E tornou a acender. Bom dia.


Não é para compreender, disse o acendedor. Regulamento é regulamento. Bom dia. E apagou o lampião - Em seguida enxugou a fronte num lenço de quadrinhos vermelhos. Antigamente era razoável. Apagava de manhã e acendia à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto da noite para dormir... 


- E depois disso, mudou o regulamento?


O regulamento não mudou, disse o acendedor. Aí é que está o drama! O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não muda!


Agora, que ele dá uma volta por minuto, não tenho mais um segundo de repouso. Acendo e apago uma vez por minuto. Não é nada engraçado, disse o acendedor. Já faz um mês que estamos conversando.


Eu sei de um modo de descansar quando quiseres ... 


- Eu sempre quero, disse o acendedor.


Teu planeta é tão pequeno, que podes, com três passos, dar-lhe a volta. Basta andares lentamente, bem lentamente, de modo a ficares sempre ao sol.


Isso não adianta muito, disse o acendedor. O que eu gosto mais na vida é de dormir.


Então não há remédio.


E por fim, refletiu o pequeno príncipe que entre os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o homem de negócios. No entanto, é o único que não me parece ridículo. Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio. Suspirou de pesar e disse ainda: Era o único que eu podia ter feito meu amigo.


O sexto planeta era dez vezes maior - Era habitado por um velho que escrevia livros enormes. - Bravo! eis um explorador! exclamou ele.


Que livro é esse?


Sou geógrafo, respondeu o velho.


É um sábio que sabe onde se encontram os mares, os rios, as cidades, as montanhas, os desertos.


É bem interessante, disse o principezinho. Eis, afinal, uma verdadeira profissão!


O seu planeta é muito bonito. Haverá oceanos nele?


Como hei de saber? disse o geógrafo.


Mas o senhor é geógrafo


É claro, disse o geógrafo; mas não sou explorador.


O geógrafo é muito importante para estar passeando. Não deixa um instante a escrivaninha. Mas recebe os exploradores, interroga-os, anota as suas lembranças. E se as lembranças de alguns lhe parecem interessantes, o geógrafo estabelece um inquérito sobre a moralidade do explorador


Porque um explorador que mentisse produziria catástrofes nos livros de geografia. Quando a moralidade do explorador parece boa, faz-se uma investigação sobre a sua descoberta. Exige-se do explorador que ele forneça provas.


Mas tu vens de longe. Tu és explorador! Tu me vais descrever o teu planeta!


Oh! onde eu moro, disse o principezinho, não é interessante: é muito pequeno. Eu tenho três vulcões. Tenho também uma flor.


Mas nós não anotamos as flores, disse o geógrafo.


_ Por que não? É o mais bonito! 


_ Porque as flores são efêmeras.

_ Que quer dizer "efêmera"?


Nós escrevemos coisas eternas. Quer dizer "ameaçada de próxima desaparição".


_ Minha flor está ameaçada de próxima desaparição? 


_ Sem dúvida.


Disse o principezinho, e não tem mais que quatro espinhos para defender-se do mundo! E eu a deixei sozinha! Foi seu primeiro movimento de remorso.


Podemos verificar que o geógrafo no livro representa um pseudo intelectualismo, fixado em compreender teoricamente as montanhas sem jamais explorá-las. Essa desconexão entre pensamento e ação reflete uma conduta distorcida na vida, onde ideias e princípios não se traduzem em prática. Essa dicotomia também é observada na filosofia contemporânea, que, embora associada principalmente a um intelectualismo, originalmente significa "amor à sabedoria".


Sabedoria, diferentemente de conhecimento intelectual, requer tradução prática, influenciando posturas que promovam o aprimoramento humano. A busca pela verdadeira filosofia, conforme defendido pelo nosso canal, reside na aplicação prática do conhecimento, resgatando o significado original de amor à sabedoria, bons valores, pensamentos saudáveis e inspiradores.


Por fim, continuou o pequeno príncipe dizendo: 


_ Que me aconselha a visitar? perguntou ele. - O planeta Terra, respondeu-lhe o geógrafo. Goza de grande reputação


O sétimo planeta foi, pois, a Terra.


O principezinho, uma vez na Terra, ficou, pois, muito surpreso de não ver ninguém. já receara ter se enganado de planeta, quando um anel cor de lua remexeu na areia. 


_ Boa noite, cadê os homens? disse o principezinho,


_ Boa noite, disse a serpente.


Aqui é o deserto. Não há ninguém nos desertos. A Terra é grande, disse a serpente.


Teu planeta é belo, disse a serpente. Que vens fazer aqui?


_ Tive dificuldades com uma flor, disse o príncipe.


_ Ah! exclamou a serpente.


_ Onde estão os homens? repetiu enfim o principezinho. A gente está um pouco só no deserto. Entre os homens também, disse a serpente.


_ Tu és um bichinho engraçado, disse ele, fino como um dedo...


_ Mas sou mais poderosa do que o dedo de um rei, disse a serpente.


_ Tu não és tão poderosa assim...não tens sequer umas patas.


_ Mas eu posso levar-te mais longe que um navio, disse a serpente. Ela enrolou-se na perninha do príncipe, como um bracelete de ouro: Aquele que eu toco, eu o devolvo à terra de onde veio, tenho pena de ti, tão fraco, nessa Terra de granito. Posso ajudar-te um dia, se tiveres muita saudade do teu planeta.


O principezinho atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas. Na ocasião, perguntou polidamente, onde estão os homens? A flor, um dia, vira passar uma caravana:


_ Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os há muitos anos.


O principezinho escalou uma grande montanha.


"Da montanha tão alta, pensava ele, verei todo o planeta e todos os homens. Mas só viu agulhas de pedra, pontudas.


Bom dia, disse ele inteiramente ao léu. - Bom dia ... Bom dia ... Bom dia ... respondeu o eco.


"Que planeta engraçado pensou então. É todo seco, pontudo e salgado. E os homens não têm imaginação. Repetem o que a gente diz.


Caminhou mais um pouco e se deparou com um jardim cheio de rosas. - Bom dia, disseram as rosas.


Eram todas iguais à sua flor.


_ Quem sois? perguntou ele estupefato.

_ Somos rosas, disseram as rosas.


E ele sentiu-se extremamente infeliz. Sua flor lhe havia contado que ela era a única de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, igualzinhas, num só jardim.


"Ela haveria de ficar bem vermelha, pensou ele, se visse isto... Começaria a tossir, fingiria morrer, para escapar ao ridículo. E eu então teria que fingir que cuidava dela; porque se não, só para me humilhar, ela era bem capaz de morrer de verdade. 


Depois, refletiu ainda: "Eu me julgava rico de uma flor sem igual, e é apenas uma rosa comum que eu possuo. Uma rosa e três vulcões que me dão pelo joelho, um dos quais extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito grande.


A oferta da serpente para levar o Príncipe de volta ao seu planeta simboliza a tentação de retornar ao familiar, ao saudosismo. A serpente, ao tocar aqueles que ela encontra, os devolve à terra, sugerindo uma ligação com a natureza e a origem.


Da mesma forma, a experiência do Príncipe com a flor de três pétalas e a descoberta das rosas idênticas revelam a ilusão da singularidade, o quão leviano é a ideia de que só posso amar o que considero único. Isso ressalta a importância de não idealizar excessivamente algo ou alguém, pois a realidade muitas vezes contradiz nossas expectativas. A raposa ensinará ao príncipe a importante lição sobre como o amor e o afeto estão mais ligados a essência de cada um como pessoa, a singularidade, daqueles momentos que compartilham, das experiências e sentimentos, do que a casca, o que é externo, eis que a rosa mesmo tendo outras milhares iguais, a relação que tem com sua rosa do seu pequeno planeta é algo construído com a convivência de ambos. .


E foi então que apareceu a raposa:


 - Bom dia, disse ela.


Quem és tu? perguntou o principezinho.


Sou uma raposa.


Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste.


_ Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.


Após uma reflexão, acrescentou: - Que quer dizer "cativar"?


Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem.


_ Tu procuras galinhas?


Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"? 


_ É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços".


_ Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...


Existe uma flor. . . eu creio que ela me cativou.


_ Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo.


_ Por favor... cativa-me, disse ela.


_ Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.


_ A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos, Se tu queres um amigo, cativa-me! 


_ O que é preciso fazer? Perguntou o príncipe. 


_ É preciso ser paciente, respondeu a raposa.


_ sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto.


_ Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.


_ Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração ... É preciso ritos.


_ Que é um rito? perguntou o principezinho.


_ É uma coisa muito esquecida também,


_ Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!


_ Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse: 


_ Ah ! Eu vou chorar.

==========


_ A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...


_ Quis, disse a raposa.

_ vais chorar?


_ Vou, disse a raposa.


_ Então, não sais lucrando nada! 


_ Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo. Sempre lembrarei de ti.


_ Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo.


_ Foi o principezinho rever as rosas:


_ Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém.


_ Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas


_ Adeus, disse ele... 


_ Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.


_ Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante. Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa…


Neste trecho, podemos destacar os ensinamentos valiosos extraídos da interação do Pequeno Príncipe com a raposa. A filosofia propõe reflexões sobre a importância de criar laços profundos com os outros seres humanos, algo frequentemente negligenciado em uma sociedade ocupada.


A metáfora da raposa ensina que o ato de cativar envolve criar laços significativos, exigindo tempo e dedicação, semelhante à busca do Príncipe pela amizade da raposa. A crítica à superficialidade das relações humanas ressalta a necessidade de priorizar conexões mais verdadeiras, uma construção como uma chama que deve ser sempre alimentada para continuar a queimar.


Para isso é importante sim os "ritos" mencionados pela raposa, as quais podemos resumir como as ações no momento certo, reconhecendo que cada momento é único. Isso destaca a beleza e a profundidade que podem surgir quando as atividades são realizadas com atenção, significado e uma presença genuína. Quem nunca conheceu alguém que é capaz de conversar sem perceber o passar das horas, por exemplo? 


Uma frase presente em diversas postagens na internet é provavelmente "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos", mas o que podemos extrair dela? Já parou para pensar? 


Da nossa perspectiva, ela destaca a importância de enxergar a vida com empatia e sensibilidade, valorizando o aspecto humano nas interações diárias. Há muito mais na vida feliz ou nos momentos de felicidade do que bens materiais, parte da magia deste momentos são justamente as coisas que estão fora do mundo material, ou seja, um abraço, um sorriso amado, um sentimento acolhedor. Estas são as coisas essenciais para a nossa saúde mental e para nossa felicidade. Há pessoas que têm o básico na vida, mas demonstram uma felicidade extraordinária, por simplesmente ser grato pelas coisas invisíveis aos olhos. 


Outro ponto importante, está na concepção de que "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", pois esta afirmação destaca a responsabilidade inerente às relações interpessoais. Uma responsabilidade que tem se tornado muito temida pela sociedade líquida moderna. Estamos cada vez mais receosos, arredios e evitando as consequências de manter um relacionamento com alguém, As pessoas estão tratando os relacionamentos como uma questão de utilidade, só é bom ou digno de amor, se for útil emocionalmente ou financeiramente. Não há uma compreensão como uma oportunidade de crescimento e maturidade, proporcionando uma postura mais madura diante da vida.


Retomando ao resumo do livro: 


Assim, ele continuou seu caminhar pela Terra, avistou o guarda-chaves e o cumprimentou. 


_ Que fazes aqui? perguntou-lhe o principezinho.


Eu divido os passageiros em blocos de mil, disse o guarda-chaves. Despacho os trens que os carregam, ora para a direita, ora para a esquerda.


O que é que estão procurando?


_ Nem o homem da locomotiva sabe, disse o guarda-chaves.


- Já estão de volta? perguntou o principezinho... 


_ Não são os mesmos, disse o guarda-chaves. É uma troca. 


_ Não estavam contentes onde estavam?


_  Nunca estamos contentes onde estamos, disse o guarda-chaves.


_ Estão perseguindo os primeiros viajantes? perguntou o principezinho. 


_ Não perseguem nada, disse o guarda-chaves. Estão dormindo lá dentro, ou bocejando - Só as crianças esmagam o nariz nas vidraças.


_ Só as crianças sabem o que procuram, disse o principezinho. Perdem tempo com uma boneca de pano, e a boneca se torna muito importante.


_ Elas são felizes ... disse o guarda-chaves.


Podemos extrair deste trecho a insatisfação humana e a busca por significado na vida. Destaca-se a constante insatisfação das pessoas, simbolizada pela troca dos viajantes na locomotiva.


A resposta do guarda-chaves, "Nunca estamos contentes onde estamos", sugere a inquietação inerente a nossa natureza, muitas vezes insatisfeita com o presente e buscando incessantemente algo mais. Às vezes pensamos que a verdadeira realização está em mudança de ares, lugares diferentes, mas não percebemos que nem sempre o lugar é o problemas, mas sim o que está dentro de nós, como estamos percebendo as coisas à nossa volta.


Mais à frente, observou um vendedor de pílulas aperfeiçoadas que aplacavam a sede. E logo pôs a conversar, ouvia atento o vendedor explicar que toma-se uma por semana e não é mais preciso beber água neste dias.


Deste encontro temos uma crítica muito legal do autor, sobre o vendedor de pílulas que afirmam aplacar a sede eliminando a necessidade de tomar água por uma semana, ou seja, oferece uma crítica sutil à sociedade contemporânea, onde soluções aparentemente fáceis muitas vezes não abordam as verdadeiras necessidades humanas. A ideia de substituir a água por pílulas sugere uma busca por atalhos e conveniências, mas talvez à custa de experiências essenciais e fundamentais para a vida.


Desta forma, podemos observar o diálogo entre ele e o príncipe. 


_ Por que vendes isso?


_ É uma grande economia de tempo, disse o vendedor.


_ E que se faz, então, com os cinqüenta e três minutos?


_ O que a gente quiser...


_ Se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte de água. Concluiu o Príncipe. Encerrando a conversa.



O narrador afirma na obra que no oitavo dia de sua pane, justamente quando bebia a última gota da  sua Provisão de água, foi que ouvi a história do vendedor contada pelo príncipe. 


Assim, continuou: não consertei ainda meu avião, não tenho mais nada para beber, e eu seria feliz, se pudesse ir caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte!


E assim decidiram encontrar água para beber, enquanto o príncipe divagava.


_ É bom ter tido um amigo, mesmo se a gente vai morrer. Eu estou muito contente de ter tido a raposa por amiga...


Já tinham andado horas em silêncio quando a noite caiu;


_ Tu tens sede também? perguntei-lhe.


_ A água pode ser boa para o coração. Sentou-se. Sentei-me junto dele.


_ O que torna belo o deserto, disse o principezinho, é que ele esconde um poço em algum lugar.


Como o principezinho adormecesse, tomei-o nos braços e prossegui a caminhada. Eu estava comovido. Tinha a impressão de carregar um frágil tesouro.


Pensei ainda: "O que tanto me comove nesse príncipe adormecido é sua fidelidade a uma flor; é a imagem de uma rosa que brilha nele como a chama de uma lâmpada, mesmo quando dorme.


E, caminhando assim, eu descobri o poço. O dia estava raiando.


Os homens, disse o principezinho, se enfurnam nos rápidos, mas não sabem o que procuram. Então eles se agitam, ficam rodando à toa


Aquele, parecia um poço de aldeia.


Mas não havia ali aldeia alguma, e eu julgava sonhar.


É estranho, disse eu ao principezinho, tudo está preparado: a roldana, o balde e a corda.


_ Tu escutas? disse o príncipe. Estamos acordando o poço, ele canta ... Eu não queria que ele fizesse esforço: - Deixa que eu puxe, disse eu, é muito pesado para o teu tamanho.


_ Tenho sede dessa água, disse o principezinho. Dá-me de beber


_ Levantei-lhe o balde até a boca. Ele bebeu, de olhos fechados.


_ Essa água era muito mais que um alimento. Nascera da caminhada sob as estrelas, do canto da roldana, do esforço do meu braço.


_ Os homens do teu planeta, disse o principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim ... e não encontram o que procuram.


_ E no entanto o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d'água.


Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração ... Eu havia bebido. Respirava facilmente. A areia é cor de mel quando amanhece. E a cor de mel me fazia feliz.


_ É preciso, disse baixinho o príncipe, que cumpras a tua promessa. Ele estava, de novo, sentado junto de mim. 


- Que promessa? 


- Tu sabes ... a mordaça do meu carneiro ... eu sou responsável pela flor!


_ Então não foi por acaso que vagavas sozinho, quando te encontrei, há oito dias, a milhas e milhas de qualquer região habitada! Não estarias voltando ao ponto da queda? O príncipe misterioso, não respondeu. 


E mandou que o aviador voltasse para o seu conserto para poder voltar para a casa.


Quando voltei do trabalho, no dia seguinte, ao lado do poço, a ruína de um velho muro de pedra, viu, de longe, o principezinho sentado no alto, com as pernas balançando. E o escutou dizer: Tu não te lembras então? Não foi bem aqui o lugar.


Uma outra voz devia responder-lhe, porque replicou em seguida.


O principezinho disse ainda, após um silêncio:


_ O teu veneno é do bom? Estás certa de que não vou sofrer muito tempo?


Então baixei os olhos para o pé do muro, e dei um salto! Lá estava, erguida para o principezinho, uma dessas serpentes amarelas que nos liquidam num minuto.


Mas, percebendo o barulho, a serpente se foi encolhendo lentamente, como um repuxo que morre.


Que história é essa? Tu conversas agora com as serpentes?


_ Estou contente de teres descoberto o defeito do maquinismo. Vais poder voltar para casa... 


_ Como soubeste disso?


_ Eu também volto hoje para casa... Depois, com melancolia, ele disse:


_ É bem mais longe ... bem mais difícil...


Seu olhar estava sério, perdido ao longe:


_ Tenho o teu carneiro. E a caixa para o carneiro. E a mordaça. . . Agora, vai-te embora, disse ele ... eu quero descer! Ele sorriu com tristeza.


Ele era para mim como uma fonte no deserto.


Faz um ano esta noite. Minha estrela se achará justamente em cima do lugar onde cai o ano passado.


Mas não respondeu à minha pergunta. E disse: 


_ O que é importante, a gente não vê


_ Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.


_ Tu, porém, terás estrelas como ninguém... 


_ O que queres dizer?


_ Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem.


_ Esta noite ... tu sabes ... não venhas.


_ Eu não te deixarei. 


_ Eu parecerei sofrer ... eu parecerei morrer. É assim. Não venhas ver. Não vale a pena...


_ Eu digo isto ... também por causa da serpente. É preciso que não te morda. As serpentes são más. Podem morder por gosto.


E assim o pequeno príncipe procedeu conforme desejava.


Pronto ... Acabou-se ... Hesitou ainda um pouco, depois ergueu-se. Deu um passo. Eu ... eu não podia mover-me. Houve apenas um clarão amarelo perto da sua perna. Permaneceu, por um instante, imóvel. Não gritou. Tombou devagarinho


E agora, certamente, já se vão seis anos ... jamais contara essa história.


Sei que ele voltou ao seu planeta; pois, ao raiar do dia, não lhe encontrei o corpo. Não era um corpo tão pesado assim.


E eu pergunto então: "Que se terá passado no planeta? Pode bem ser que o carneiro tenha comido a flor.


Ora eu penso: "Certamente que não! O principezinho encerra a flor todas as noites na redoma de vidro e vigia bem o carneiro. . . " Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente.


Para vocês, que amam também o principezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não uma rosa ... Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá o carneiro comido a flor?


Poderia ficar mais tempo aqui falando sobre este obra cheia de nuances, mas tomaria demasiado tempo de vocês e correria o risco de divagar demais. Por fim, o que podemos retirar de valioso deste livro singelo é o fato de que a responsabilidade é apresentada como um fator significativo e benéfico na vida humana, destacando as responsabilidades com a vida, com as pessoas e o poder de contribuir para o crescimento e melhoria dos outros.

 

A reflexão sobre o amor surge como um tema central, destacando que o verdadeiro amor transcende as características superficiais das pessoas e está relacionado à essência de quem elas são. O autor destaca a complexidade do amor e a necessidade de diferenciar suas várias formas, ressaltando a importância de compreendê-lo como uma força inspiradora e transformadora na vida.


A citação de Jung sobre o amor, comparando-o a Deus e afirmando que ambos só se entregam aos seus servos mais fiéis, enfatiza a ideia de que o amor não é algo dado, mas sim algo que o ser humano precisa esforçar-se conscientemente para conquistar. 


O final do trecho aborda a morte simbólica do Pequeno Príncipe, destacando a ideia de que o que é verdadeiro nunca deixa de existir. O principezinho continua vivo nas mentes e corações daqueles que leem a obra, mantendo vivas as ideias e valores apresentados ao longo da história. 


O autor nos deixa com a missão de refletir se afinal, o carneiro aprontou ou não para cima da flor do pequeno princípe. Deixe nos comentários sua opinião. 


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