Sêneca foi escritor e um grande político romano. Ele nasceu em Córdoba, na Espanha, em 4 a.C., e morreu em Roma, em 65 d.C. Em vida foi dono de grande fortuna e prestígio, além de ser um dos mais importantes representantes do estoicismo, tendo escrito cerca de 120 obras, incluindo cartas, tratados filosóficos, peças de teatro e poemas.
Para saber mais sobre Sêneca Recomendamos que assista nossos dois vídeos sobre Da Vida Retirada e Sobre a Ira. O presente vídeo tem como objetivo refletir sobre o que Sêneca chamou de “Sobre Medos infundados”, em sua carta de número 13, para seu amigo Lucílio.
Aparentemente Lucílio estava enfrentando algum problema em seus negócios e Sêneca magnificamente o conforta em uma carta rica de princípios estóicos e conselhos valiosos.
Nela, Sêneca argumenta que muitas das coisas que nos preocupam são infundadas. Ele observa que, em geral, sofremos mais na imaginação do que na realidade. Muitas vezes, nos preocupamos com coisas que nunca acontecem ou que, mesmo que aconteçam, não são tão graves quanto imaginamos no momento de aflição.
Para o filósofo existem três tipos de medos infundados: os medos que nos preocupam mais do que deveriam. Medos que nos preocupam antes do que deveriam; Medos que nos preocupam quando não deveriam. Os quais vamos falar agora. Por isso, inscreva-se no canal e deixe seu like, e ajude nossa missão de trazer conteúdos para uma reflexão genuína.
Sêneca inicia a carta saudando Lucílio. E logo em seguida elogia seu amigo por sua força de caráter e resiliência dizendo:
Eu sei que você tem muita garra; pois mesmo antes de você começar a equipar-se com máximas que eram saudáveis e poderosas para superar obstáculos, você estava se orgulhando de sua disputa com a Fortuna; e isso é ainda mais verdadeiro, agora que você se atracou com a Fortuna e testou seus poderes. Pois nossos poderes nunca podem inspirar uma fé implícita em nós mesmos, a não ser quando muitas dificuldades tenham nos cortejado por inúmeros lados, e ocasionalmente tenham se atracado conosco. Somente dessa maneira o verdadeiro espírito pode ser testado, o espírito que nunca consentirá em submeter-se à jurisdição de coisas externas a nós.
Neste parágrafo, Sêneca nos lembra que quando estivermos enfrentando um desafio, devemos lembrar que isso é uma oportunidade para testar e fortalecer nosso caráter, portanto não devemos permitir que as adversidades, as coisas externas a nós, fora de nosso controle, nos abalem, pois é nosso dever como homem manter nossa confiança em nós mesmos, mesmo quando as coisas estiverem difíceis.
Sêneca prossegue em sua carta:
Esta é marca de tal espírito; nenhum lutador pode ir com alta expectativa para a luta se ele nunca foi espancado; o único concorrente que pode entrar com confiança na luta é o homem que viu seu próprio sangue, que sentiu seus dentes chocalhar sob o punho do seu adversário, que foi derrubado e sentiu toda a força da carga do seu adversário, que foi abatido não só no corpo, mas também em espírito, aquele que, quantas vezes cai, levanta-se novamente com maior teimosia do que nunca.
Então, para manter a minha analogia, explica Sêneca a Lucílio, a Fortuna muitas vezes no passado foi preponderante sobre você, e mesmo assim você não se rendeu, mas saltou ereto e manteve a sua posição ainda mais determinadamente. Pois a virilidade ganha muita força ao ser desafiada; no entanto, se você aprovar, permita-me oferecer algumas salvaguardas adicionais pelas quais você pode se fortalecer.
Assim, Sêneca disse:
Existem mais coisas, Lucílio, susceptíveis de nos assustar do que existem de nos derrotar; sofremos mais na imaginação do que na realidade. Eu não estou falando com você na linha estóica, mas em meu estilo mais suave. Pois é a nossa maneira estóica falar de todas essas coisas, que provocam gritos e gemidos, tanto sem importância como irrelevantes; mas você e eu devemos proferir palavras grandiosas, embora, Deus sabe, verdadeiras. O que eu aconselho você a fazer é, não ser infeliz antes que a crise chegue; já que pode ser que os perigos que o empalidecem como se estivessem o ameaçando agora, nunca cheguem sobre você; eles certamente ainda não chegaram.
Assim, algumas coisas nos atormentam mais do que deveriam; algumas nos atormentam antes do que deveriam; e algumas nos atormentam quando não deveriam nos atormentar. Temos o hábito de exagerar, imaginar, antecipar, a tristeza. A primeira dessas três faltas pode ser adiada no momento, porque o assunto está em discussão e o caso ainda está no tribunal, por assim dizer. O que eu chamo de insignificante, você considerará a ser mais grave; pois é claro que eu sei que alguns homens riem enquanto são açoitados, e que outros estremecem com um tapa orelha. Consideraremos mais tarde se esses males derivam seu poder de sua própria força ou de nossa própria fraqueza.
Faça-me o favor, prosseguiu Sêneca, quando os homens o rodeiam e tentam convencê-lo a acreditar que você é infeliz, considere não o que você ouve, mas o que você sente, e tome conselho com seus sentimentos e se questione independentemente, porque você sabe seus próprios assuntos melhor do que qualquer um.
Pergunte: “Há alguma razão por que essas pessoas devam compadecer-se de mim, por que elas deveriam estar preocupadas ou até mesmo temerem alguma contaminação de mim, como se problemas pudessem ser transmitidos? Existe algum mal envolvido, ou é apenas uma questão de mau relatório, em vez de um mal?” Coloque a pergunta voluntariamente a si mesmo: “Estou atormentado sem razão suficiente, estou melancólico, e estou a converter o que não é mal no que é mal?”
E você, é você que está conosco assistindo a este vídeo, a quem anda dando ouvidos, a sua paz interior ou aos que os outros dizem de você? Quais têm sido suas preocupações? Com a economia do país? Com os malgouros do noticiário? Com a Guerra no outro continente? (coisas que não tem controle algum); Ou tem se dedicado a tornar-se um homem melhor, instruído, honesto, justo, investido seu tempo e atividade produtiva, tem buscado se provisionar para um possível revés econômico? Tem buscado ser forte e cercando-se das cautelas e dos perigos da região onde mora? (coisas estas que cabem você se acautelar).
Para te ajudar a responder esta pergunta, Sêneca sugere a seguinte reflexão interna: “Como vou saber se meus sofrimentos são reais ou imaginários?”, e logo em seguida ele prossegue investigando quais tipo são essas ameaças que tanto nos causam medo e aflição: somos atormentados por coisas presentes, ou por coisas vindouras, ou por ambos? Quanto às coisas presentes, a decisão é fácil, afirma Sêneca. Suponha que sua pessoa goze de liberdade e saúde, e que você não sofra de nenhuma lesão externa. Por que está tão preocupado com coisas futuras? Pois em seu presente, no momento agora, não há nada de errado ou digno de tanta ansiedade que não possa ser resolvido.
“Mas,” você diz, “algo vai acontecer.” Em primeiro lugar, considere se suas provas dos problemas futuros são certas. Pois é mais comum que nos incomodemos com as nossas apreensões, e que sejamos zombados por aquele zombador, o boato, que costuma instalar guerras, mas muito mais frequentemente liquida indivíduos. Sim, meu caro; concordamos muito rapidamente com o que as pessoas dizem. Não colocamos à prova as coisas que causam o nosso medo; não as examinamos a fundo; titubeamos e nos retiramos exatamente como soldados que são forçados a abandonar seu acampamento por causa de uma nuvem de poeira levantada pelo estampido do gado, ou são lançados em pânico pela divulgação de algum rumor não autenticado.
E, de alguma forma, é o relatório negligente que nos perturba mais. Pois a verdade tem seus próprios limites definidos, mas o que surge da incerteza é entregue à adivinhação e à licença irresponsável de uma mente assustada. É por isso que nenhum medo é tão ruinoso e tão incontrolável como o medo de pânico. Pois alguns medos são infundados, mas este medo é imbecil.
Neste contexto quero que pense alguns discursos presentes em nossa sociedade, principalmente no cenários político, quero que retome a memória à 11 de setembro de 2001, o atentado às torres gêmeas, a falta de resposta sobre quem seriam os responsáveis e como a maior potencial mundial foi pega de surpresa e atingida por um conflito que no imaginário do norte americano somente existia no oriente médio diante das políticas internacionais americanas no afeganistão. A queda das torres gêmeas causou pânico, e políticos se aproveitaram deste pânico, da mesma forma que os tabloides, o inimigo precisava de um rosto, e esse rosto foi dado aos norte americanos, diante do medo irracional, ser praticando ou de origem islâmica passou a ser motivo de desconfiança, até mesmo aqueles que sempre tiveram respeito pelos seus vizinhos de origem árabe passaram a nutrir o medo. Um medo irreal e sem plausibilidade fática de acontecer, medo de ser vítima da palavra da moda “terrorismo”.
É isso que Sêneca chamou de medo imbecil, uma preocupação imaginária, supostamente futura e incerta.
É provável que alguns problemas nos acontecerão; mas não é um fato presente. Quantas vezes o inesperado aconteceu! Quantas vezes o esperado nunca chegou a passar! E mesmo que seja destinado a ser, o que é que vale correr para encontrar seu sofrimento? Você sofrerá em breve, quando chegar a hora deste tão temível mal que idealiza recair sobre si no futuro; então, do que adiante se afundar a sofrimento, não é mais reconfortante, enquanto isso, olhar para a frente, para coisas melhores?
O que você ganhará fazendo isso? Indagou Sêneca. Pois ganhará tempo. Haverá muitos acontecimentos, entretanto, que servirão para adiar, ou para terminar, ou para transmitir a uma outra pessoa, as experimentações que estão próximas ou mesmo em sua própria presença. Um incêndio abriu o caminho para a fuga. Os homens foram derrotados por uma catástrofe. Às vezes o movimento da espada é parado na garganta da vítima, ou seja, não chega a cortar. Alguns homens sobreviveram aos seus próprios carrascos. Mesmo a má Fortuna é inconstante. Talvez venha, talvez não; entre mentes, agora, não está aqui. Então, esperemos coisas melhores.
A mente às vezes modela para si as formas falsas do mal, quando não há sinais que apontem para algum mal; interpreta da pior forma alguma palavra de significado duvidoso; ou imagina algum rancor pessoal ser mais sério do que realmente é, considerando não quão irritado o inimigo está, mas a que extensão poderá chegar sua ira. Mas a vida não vale a pena ser vivida, e não há limites para nossas dores, se entregarmos nossos medos ao máximo possível; neste assunto, deixe a prudência ajudá-lo, e despreze o medo com um espírito resoluto mesmo quando ele está à vista. Se você não pode fazer isso, combata uma fraqueza com outra, e tempere o seu medo com esperança. Não há nada tão certo nesse assunto de medo como as coisas que tememos darem em nada e que as coisas as quais esperamos zombarem de nós.
Observe que Sêneca alerta sobre como nossa imaginação de um mal futuro ou de uma percepção errada de querer controlar coisas que não podemos controlar, ou seja, essa frustração diante da incerteza. Por isso ele aconselha que adotemos que mudemos nossa perspectiva, focando apenas nas coisas que cabe a nós resolver, vivendo nossa vida no presente, sem o medo paralisante de que tudo poderá se perder. Pois o homem é um ser mortal e nossa vida é um sopro, nascer faz parte de nosso destino, a morte é certa em algum dia conforme planejou o cosmo, viver a vida sobre o pilar do bem supremo, justiça, da temperança, honestidade é tudo que compete ao homem, os infortúnios externos compõe apenas nossa visão do problema, como nós escolhemos enxergar.
Consequentemente, afirmou Sêneca, pese cuidadosamente as suas esperanças, assim como os seus temores, e sempre que todos os elementos estiverem em dúvida, decida em seu favor; acredite no que você preferir. E se o medo ganha a maioria dos votos, incline-se na outra direção de qualquer maneira, e deixe de incomodar sua alma, refletindo continuamente que a maioria dos mortais, mesmo quando não têm problemas realmente à mão, certamente os têm esperados no futuro, e tornam-se excitados e inquietos. Ninguém se segura, quando começa a ser incitado à frente; nem regula o seu alarme de acordo com a verdade. Ninguém diz; “O autor da história é um tolo, e quem crê nela é um tolo, assim como aquele que a fabricou.” Nós nos deixamos derivar com cada brisa; estamos assustados com as incertezas, como se estivessem certos. Não observamos moderação. A menor coisa vira o jogo e nos coloca imediatamente em pânico.
Por fim, Sêneca diminui o tom de seus conselhos e de forma empática, afirma ter vergonha tanto de admoestar severamente ou tentar iludir Lucílio com remédios tão suaves, ou seja, com palavras sobre como deveria se sentir.
Por isso, terminar por aconselhar dizendo: Não Deixe outro dizer. – Talvez o pior não aconteça. Você mesmo deve dizer. “Bem, e se isso acontecer, vamos ver quem ganha, talvez isso aconteça para o meu melhor interesse, pode ser que tal morte derrame crédito sobre a minha vida”. Sócrates foi enobrecido pelo chá de cicuta referindo-se a decisão de não mudar de opinião quando julgado e condenado. Retire da mão de Catão sua espada, o defensor da liberdade, e você o privará da maior parte de sua glória. Sêneca refere-se a Marco Pórcio Catão Uticense, também conhecido como Catão, o Jovem, nasceu em Roma, 95 a.C e faleceu em 46 a.C. Ele foi um político romano célebre pela sua inflexibilidade e integridade moral. Partidário da filosofia estóica, era avesso a qualquer tipo de suborno. Opunha-se, particularmente, a Júlio César, e suicidou-se depois da vitória deste na Batalha de Tapso.
E assim Sêneca encerra sua carta ao amigo confortando-o:
“Estou lhe exortando por demasiado tempo, já que você precisa de recordação e não de exortação. O caminho para o qual lhe guiarei não é diferente daquele em que a sua natureza o guia; você nasceu para conduta que eu descrevo. Portanto, há mais razão para reforçar e alegrar o bem que há em você.
Mas agora, para fechar a minha carta, tenho apenas de estampar o selo habitual, ou seja, consignar uma mensagem nobre a ser entregue a você: “O tolo, com todos seus outros defeitos, tem isso também, ele está sempre se preparando para viver.” Reflita, meu estimado Lucílio, o que significa essa palavra, e você verá quão revoltante é a inconstância dos homens que estabelecem cada dia novos fundamentos de vida e começam a construir novas esperanças mesmo à beira da sepultura.
Olhe dentro de sua própria mente para instâncias individuais; você pensará em homens velhos que estão se preparando naquela mesma hora para uma carreira política, ou para viajar, ou para o negócio. E o que é mais mesquinho do que se preparar para viver quando você já é velho? Eu não devo dar o nome do autor deste lema, exceto que é um pouco desconhecido e não é um daqueles ditos populares de Epicuro que eu me permiti a elogiar e apropriar. Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.
Observe quão magnífica é esta ideia de Sêneca sobre o medo e como ela refina a ideia estoica sobre o medo e a insegurança. Ele nos leva a compreender que não importa a qualidade do medo, se futuro, presente ou passado, essa ansiedade é fruto de como nós estamos avaliando o cenário, da incerteza que sentimos, perceba que o medo é algo interno, logo está sob nosso controle agir. Ao estar diante de um problema que te tira a paz, busque refletir: O que de mais grave pode me acontecer? O que posso fazer para remediar tal situação? Se mesmo eu suportando este infortúnio quando vier acontecer, quando passar poderei reconstruir minha paz? Se em minha vida, enfrentei tantas mudanças, se já sofri tantos revezes, porque este não há de ser igual aos anteriores, pelos quais venci? Tempere sua alma com um pouco de esperança de que tudo é transitório, impermanente e interdependente, se afaste um pouco da sua paranônia e olhe por outra perspectiva, olhe sua própria alma de cima, enxergando o panorama geral do quadro.
Se você está passando por um momento de incerteza, espero que esta carta de Sêneca seja um alívio para sua insegurança, e se não tiver ninguém ao seu lado para dizer uma palavra de força, eu digo a você: Você é um ser único, emanado de toda a beleza e sabedoria, agraciado pelo dom da vida, por uma força imanente que conduz todas as leis do universo, não leve nada para lado pessoal, as coisas acontecem não por castigo, mas porque todos estamos sujeitos aos mesmos infortúnios. Seja lá pelo que está passando, tenha certeza de que daqui uns dias, você verá que não era tão grande quanto pensava, e talvez enfrente novos desafios, como numa fase de um jogo de videogame. Seja o que for, vai passar.”.
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