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Como Controlar a Ira e Raiva? Entenda como Lidar com o Caos Interior com Sêneca [Estoicismo]

Sêneca, de nome Lucius Annaeus Sêneca, foi um proeminente filósofo, dramaturgo e estadista romano que viveu entre 4 a.C. e 65 d.C. Sua vida e obras tiveram um impacto significativo na filosofia estoica e nas reflexões éticas da época. Atravessando os tempos, as ideias de Sêneca continuam a inspirar e intrigar adeptos de sua filosofia de vida. 


Sêneca viveu durante o período conhecido como a dinastia Julio-Claudiana, marcada por mudanças políticas, sociais e culturais no Império Romano. Ele testemunhou a ascensão e queda de vários imperadores, incluindo Augusto, Tibério, Calígula e Nero. Como conselheiro de Nero, Sêneca ocupou uma posição influente, mas também enfrentou desafios éticos e morais devido às ações controversas de seu pupilo.



A filosofia estoica, fortemente influenciada por Sêneca, enfatizava o autocontrole, a virtude e a busca pela sabedoria como meios para alcançar a tranquilidade e a paz interior, independentemente das circunstâncias externas. Sêneca defendia que a filosofia era uma ferramenta prática para viver uma vida virtuosa e significativa.


Entre suas principais ideias para vida plena, Sêneca acreditava que a virtude estava intrinsecamente ligada à capacidade de controlar nossas emoções e desejos. Ele enfatizava a importância do autodomínio como meio de evitar perturbações emocionais e alcançar a paz interior.  Ele encorajava seus seguidores a aceitarem a inevitabilidade da morte e a abraçarem cada momento da vida como uma dádiva preciosa. Portanto, defendia a simplicidade e a moderação como antídotos para a busca excessiva de prazeres materiais. Ele acreditava que a busca pela suficiência e a apreciação das coisas simples eram fundamentais para uma vida plena. Pois para ele o homem deve agir cultivando virtudes como a sabedoria, a coragem e a justiça, mesmo diante das adversidades, enfrentando os desafios de cabeça erguida e sem reclamações. 


Neste vídeo, iremos apresentar uma das cartas de Sêneca em que ele discute sobre a Ira, criando um raciocínio sobre em que categoria ela se encaixaria em nossas vida, se ela é realmente necessária ao espírito humano, se é útil; se pode ser enquadrada como uma parte da virtude ou como um vício controlada pela razão. 


É um texto simples e de fácil leitura, o qual vamos buscar explicar suas ideias e resumir o posicionamento de Sêneca para facilitar a compreensão e criar uma reflexão ativa e positiva. Por isso, inscreva-se em nosso canal, curta e compartilhe com os amigos, venha conosco nesta importante reflexão sobre como a ira afeta nossa cotidiano. 


Segundo o dicionário, Ira é uma emoção intensa de raiva, indignação ou fúria, frequentemente acompanhada por um desejo de retribuição ou vingança. É uma resposta emocional às frustrações, injustiças ou ameaças percebidas. 


Um estudo relevante sobre a ira é o trabalho de Lerner e Keltner, em  2001, intitulado "Medo, Ira e  Risco". Nesse estudo, os pesquisadores investigaram como as emoções de medo e ira afetam a tomada de decisões em situações de perigo e alerta.

Segundo Lerner, a ira tem o potencial de influenciar a tomada de decisões de maneira significativa. Quando os participantes do estudo foram induzidos a sentir raiva, eles se tornaram mais propensos a assumir riscos maiores em situações de decisão. A ira pareceu diminuir a percepção do perigo e aumentar a disposição para correr riscos em comparação com aqueles que estavam em um estado emocional neutro, pois a ira pode alterar a avaliação subjetiva dos riscos envolvidos em uma decisão, possivelmente devido ao foco na recompensa potencial ou à motivação para buscar ações que possam reduzir a fonte de raiva. No entanto, essa tendência para assumir perigos maiores em um estado de ira nem sempre é vantajosa e pode levar a decisões impulsivas ou prejudiciais.


Essa descoberta, não é inédita, pois Sêneca, Platão, Aristóteles e outros filósofos importantes, a milhares de anos atrás, já haviam feito está descoberta e discutiam como deveria ser classificado o estado de ira dentro do campo emocional e da razão. 


Segundo Sêneca, buscando introduzir o conceito de ira, ele afirma que: "não é sem motivo que lhe parece que tenhas um particular temor dessa paixão, considerando que de todas ela é a mais terrível e violenta. Eis que nas outras existe certo grau de calma e placidez, enquanto na ira há apenas caos e vingança. A ira é plena de excitação e ímpeto, enfurecida por uma ânsia desumana de dor, combates, sangue, suplícios.


Alguns sábios, afirmou Sêneca, disseram que a ira é uma breve insânia. Ou seja, "ela é igualmente desenfreada, alheia ao decoro, esquecida de laços afetivos, persistente e aferrada ao que começou, fechada à razão e aos conselhos, incitada por motivos vãos, inábil em discernir o justo e o verdadeiro, muito similar a algo que desaba e se despedaça."


Para o filósofo, não se sabe se é mais detestável ou mais deformante esse vício caótico do espírito. Pois os demais vícios é possível esconder e alimentar em segredo, enquanto a ira põe-se à mostra e sai aos olhos e feições, e quanto maior, com tanto mais evidência efervesce. É que as outras paixões ficam aparentes; esta fica proeminente, ou seja, a ira é evidente. Verás assassínios e venenos e mútuas acusações entre réus, cidades devastadas e extermínios de povos inteiros, cabeças de chefes vendidas em hasta pública, tochas lançadas a habitações. Eis que a ira as demoliu.


Sêneca exemplifica: olha tantos chefes que passaram para a história, exemplos de mau destino: um, a ira trespassou em seu aposento; outro, ela abateu durante sagrada acolhida à mesa; a um, ela despedaçou em frente à sede das leis e diante do olhar de um fórum apinhado; a outro, ordenou destinar seu sangue ao parricídio perpetrado pelo filho;


A ira transforma todas as coisas do melhor e mais justo em seu contrário, afirmou Sêneca. Quem quer que ela tenha atingido, a ira não consente que se lembre de nenhum de seus deveres. Se por acaso incida ela em um pai, ele se torna adversário; em um filho, torna-se parricida; em uma mãe, torna-se madrasta; em um cidadão, torna-se inimigo. 


Pois a ira, diz ele, “é o desejo de vingar uma injúria ou, como afirma Posidônio, o desejo de punir aquele pelo qual alguém julga ter sido injustamente lesado. Alguns pensadores de seu tempo assim a definiram: "a ira é um impulso da alma que visa a ser nocivo para com aquele que foi ou quis ser nocivo.”


Mas se a ira é o desejo de punir aquele pelo qual alguém julga ter sido lesado de forma injusta, questionou Sêneca, "por que o povo se enfurece contra os gladiadores, e de modo tão injusto que considere uma ofensa o fato de não morrerem de bom grado?"


Ao invés disso as pessoas convertem-se de espectador em adversário. Isso pode ser ira? Indagou  Sêneca. 


Não, ele afirma que seja isso o que for, não é ira, mas quase ira, assim como a das crianças que, se caíram, querem surrar o chão e, amiúde, nem sequer sabem por que se irritaram, mas tão somente se irritaram, sem causa e sem ofensa, não, porém, sem alguma ideia de ofensa, nem sem desejo de algum castigo. As crianças são iludidas com a simulação de pancadas ao chão que supostamente a ofendeu, com essa falsa vingança, sua falsa raiva fosse eliminada.


Outro ponto levantado por Sêneca é de que “Por vezes nos enfurecemos”, mas não com aqueles que nos ultrajaram, mas com os que mostram intenção de nos ultrajar, comprovando-se que a ira não nasce de uma injúria de fato.


Ao pensar desta forma, podemos observar que a ira não é um desejo de castigo, pois os mais fracos frequentemente se enfurecem com os mais poderosos e não almejam um castigo que não esperam, já que não tem a força necessária para a punição. 


Ao estabelecer que a ira não é um simples desejo de castigo, Sêneca afirma haver o desejo de exigir castigo, não a possibilidade dele; às pessoas, porém, almejam até o que não podem, até porque para sermos nocivos somos todos poderosos. 


Sêneca prossegue dizendo que  a definição de aristóteles não se afasta muito da dele. Pois ele afirma que a ira é o desejo de devolver uma dor os demais aspectos que distinguem a ira em suas espécies, tendo entre os gregos várias denominações da ira. 


Porém, Sêneca refutou ao dizer que para ele não têm designações próprias da ira, eis que mesmo se nós chamarmos um temperamento de amargo ou acerbo, e ainda atrabilioso, raivoso, vociferador, antipático, áspero, todas essas sendo variedades da ira.

 

O filósofo reconhece que existem de fato certas iras que se atêm ao grito; há outras não menos pertinazes do que frequentes; outras, de mão cruel, são mais parcas nas palavras; outras, excessivas no amargor das palavras e maldições. 


Mas será que a ira é útil ou inútil para a natureza humana? 


Sêneca sugere que indaguemos se a ira está em conformidade com a natureza, se ela é útil e se deve ser conservada em alguma medida. Pois o que há de mais dócil do que o homem enquanto está equilibrado o estado de sua alma? Porém, o que é mais cruel do que sua ira? o que há de mais afetuoso com os outros do que o homem? o que há de mais hostil do que sua ira? o homem foi criado para o auxílio mútuo; a ira, para a destruição mútua. ele quer congregar-se, ela, desunir; ele, ser útil, ela, ser nociva; ele, socorrer até os desconhecidos, ela, atacar até os mais caros.


A ira, portanto, é ávida de castigo, e residir esse desejo no peito tão cortês do homem não está de modo algum em conformidade com sua natureza. A vida humana consiste nas ações benéficas e na concórdia e, não pelo terror, mas pelo amor mútuo, ela é compelida à aliança e ao auxílio comum.


Sêneca questiona: “Como, então? Não é às vezes necessário o castigo?” Por que não? mas este sem a ira, com base na razão, pois ele não é nocivo, mas medica sob a aparência de ser nocivo. 


Ele quis dizer que o castigo não é totalmente ruim ou embebido de ódio, ira ou raiva, as vezes determinados tipos de castigo podem ser fundamentais para educar e orientar o convívio e as relações sociais. Como por exemplo, a multa de trânsito que objetiva conscientizar e prevenir acidentes, protegendo as pessoas; da mesma forma o pai que proíbe o uso de celular em determinados dias ou horários para que os filhos se apliquem no estudo. Observe que não há ira e nem vícios na intenção, pelo contrário, o castigo está com uma finalidade justa e lícita. É como um medicamento para que a alma do homem se eleve. 


Assim, orienta Sêneca que convém que o legislador e governante de uma cidade, por mais tempo que puder, trate os temperamentos com palavras e com essas medidas mais brandas, para que lhes aconselhe deve em seguida passar a um discurso mais severo, pelo qual ainda advirta e censure. Finalmente, não resolvido depois de tão escalonamento, recorra aos castigos, e estes ainda leves, revogáveis e justo a ofensa cometida. Imponha suplícios extremos a crimes extremos, a fim de que ninguém perca a vida, exceto se perdê-la for do interesse até mesmo daquele que a perde, não porque o castigo de alguém o deleita ou lhe seja uma forma leviana de prazer ou divertimento. Pois este castigo em forma de deleite está longe de um sábio, pois um sábio não se permite uma ferocidade sobre a ira tão desumana como o egoísmo e o sadismo. 


Portanto, conclui Sêneca, para a natureza humana não apetece o castigo; por isso, de modo algum a ira está em conformidade com a natureza do homem, uma vez que para a ira o castigo apetece.


Sêneca contesta um argumento de Platão — de que  “o homem virtuoso, não causa dano”. 


Pois para Sêneca o castigo que não tem objetivo medicar, ensinar, ou seja, o castigo usado para diferentes fins de deleite, este causa dano; portanto, este castigo não se ajusta ao homem virtuoso, e por isso, nem a ira, porque o castigo se ajusta muito mais à ira. 


Se o homem virtuoso não se alegra com o castigo, não se alegrará sequer com essa paixão à qual o castigo serve de prazer; portanto, a ira não é natural. 


Sêneca indaga se embora a ira não seja natural, deve ser ela admitida porque muitas vezes foi considerada útil?


Para responder esse pergunta, o filósofo lembrou que a ira exalta e incita os ânimos, por isso, alguns acham que o melhor é moderar a ira, não suprimi-la, e depois de reduzido o que é excessivo, compeli-la, controlá-la a uma margem essencial e ainda reter aquele tanto sem o qual a ação ficará lânguida, morna, e a energia e o vigor da alma serão suprimidos. 


Diante dessa defesa do controle da ira pela razão humana, Sêneca rebate dizendo que, primeiro, é mais fácil excluir do que controlar impulsos perniciosos como a ira, e não acolhê-los do que moderá-los depois de acolhidos. De fato, depois que se assentaram em seu domínio são mais poderosos do que quem os controla, e não toleram sofrer cortes ou ser diminuídos. Ou seja, o vício e a ira quando se apossam das emoções do indivíduo, eles agem afastando a razão, é praticamente incontrolável, de modo que a ideia de suprimir a ira ou considerar ela útil a ação humana, é pura inocência, pois a ira não aceita controle quando explodir, ela infecta a razão, ofusca as demais virtudes. Ela é arrebatadora e forte. Se uma virtude ou emoção se misturou a elas, contaminou-se, não consegue deter o que teria podido remover uma vez, pois, conturbada e abalada a mente, passa a servir àquilo pelo que é compelida, ou seja, a ira, a raiva, ao ódio, a vingança. Uma mente direcionada pela ira leva a destruição e autodestruição. 


Por isso, para Sêneca, o melhor é desprezar de imediato o primeiro irritamento da ira, combater suas sementes e atentar para que não incidamos nela. 


Ainda, prossegue a reflexão concluindo, ela é mais vigorosa que a razão ou mais fraca? Se a ira for mais vigorosa, como a razão poderá impor-lhe um limite sobre ela dado que nada, exceto o que tem menos força, costuma ser obediente? Se é mais fraca, sem ela a razão é por si suficiente para a execução de suas ações, ou seja, não deseja o auxílio do que tem menos força, você não concorda? Assim, se a ira for mais forte do que a razão, a razão não tem poder de controlar ou de suprimi-la, pois como algo fraco pode controlar um mais forte? Por outro lado, se a razão é mais forte do que a ira, porque ela precisaria de algo mais fraco? Ela não é por si só suficiente para realização da ação?


Essa explicação de Sêneca levanta um ponto muito interessante, porque leva à conclusão de que a ira não tem utilidade para a natureza humana. Por quê? Pense o seguinte, a ira clama por vingança e punição, ela é o descontrole da natureza humana, logo se eu considerar que a ira é útil para natureza humana, eu tenho que ser capaz de controlá-la, se ela não cabe controle pela razão, como pode ela ser útil para ação? 


Imagine um homem tomado pela ira por que seu trator enguiçou a quilômetros da sede, após ele tentar consertar por horas, nada resolve, em estado de ira, ele começa a socar o trator luchando os pulsos, e por fim, irado ateia fogo ao trator, seu único meio de arar a terra. 


Se o homem pudesse controlar a ira, ele concluiria que machucaria sua mão ao socar o metal, da mesma forma, poderia concluir que poderia ser um problema simples ou mesmo com abatimento do valor, poderia evitar um prejuízo total, com a venda ou permuta do bem; ele também pensaria que este fogo poderia se alastrar e tornar-se incontrolável, destruindo tudo pela frente. 


Percebe, que a ira quando assenta ao homem, aflora sua bestialidade, ofusca seu poder de decisão, torna-o vulnerável e imprudente. Por isso, não se admite a ideia de que a razão possa controlar a ira. Por outro lado, se a ira for um sentimento controlável pela razão, mais fraco, logo qual a utilidade teria ela? Se naturalmente eu posso em qualquer estado de ira, agir racionalmente, por definição não estou irado, no máximo chateado. 


Para melhor ilustrar, Sêneca discorda de Aristóteles. 


Segundo Aristóteles, a ira é necessária, e coisa alguma sem ela pode ser levada a cabo, pois sem a paixão da ira não se encheria a alma e nem inflamaria o espírito. Logo segundo Aristóteles deve-se, porém, utilizá-la não como se fosse um general, mas como um soldado. 


Para Sêneca, isso é falso, pois se a ira escuta a razão e segue por onde é conduzida, já não é ira, da qual é própria a extrema obstinação. No entanto, se opõe resistência e não se mantém quieta onde lhe foi ordenado, mas deixa arrastar-se por seu capricho e ferocidade, é um auxiliar da alma tão inútil quanto um soldado que não atende ao sinal de retirada.


Assim, se ela tolera que lhe seja aplicado um limite, deve ser chamada por outro nome, deixou de ser ira, que entendo como desenfreada e incapaz de ser domada; Se não tolera, é prejudicial, nociva e não deve ser enumerada entre as o soldado útil. Pois um soldado útil será aquele que sabe obedecer a uma decisão. As paixões são tão ruins como servas quanto como guias.


Por isso, a razão nunca tomará para seu auxílio impulsos imprudentes e violentos, junto aos quais ela própria não teria nenhuma autoridade, ou controle, os quais nunca poderia reprimir, exceto se estes impulsos tivessem contraposto aos que lhes são pares e semelhantes, como contra a ira, o medo.


Pois há de viver numa tirania aquele que cai na servidão de alguma paixão.


Por isso, para Sêneca não existiria a consideração de que “a paixão é útil, se moderada”. Não, para ele, ela é útil, se baseada na natureza. 


Mas e a ira quando direcionada contra um inimigo? Neste caso Sêneca, replica: “a ira não é necessária.” Em nenhuma outra ocasião ela o é menos do que quando é preciso que os impulsos sejam não precipitados, mas comedidos e obedientes.


A ira não é útil nem em batalhas ou guerras, pois ela é propensa à temeridade, e os perigos, enquanto quer impô-los, deles não se acautela.


“Como, então? Quando vir ser morto seu pai ou seu próprio filho, o homem virtuoso não irá chorar nem se abater?”


Não, é isso! Calma, Sêneca explica que tais coisas, ou seja, os seus deveres, o homem virtuoso cumprirá imperturbado, intrépido; e assim fará o que é digno de um homem de virtude: nada fará que seja indigno de um homem. meu pai será assassinado: irei defendê-lo; foi assassinado: buscarei justiça, porque é necessário, não porque me dói ou porque estou tomado e desenfreado. Deverão agir os homens virtuosos pelas injustiças contra os seus.


Não é o afeto que move aquela ira, mas a fraqueza, tal como nas crianças que choram pela perda tanto de seus pais quanto de suas amêndoas. Irar-se pelos seus não é próprio de uma alma afetuosa, mas da que é fraca. Perceba que você deve buscar justiça, até mesmo vingança, mas nunca movido pela ira, pois aquele que age com ira não é virtuoso e nem age de forma prudente e racional. A sua vingança ou justiça deve ser consciente e na medida necessária e suficiente. 


Pois o que é belo e digno é apresentar-se como defensor de seus pais, filhos, amigos, concidadãos, conduzido pelo próprio dever, benévolo, ponderado, prudente, não impulsivo e raivoso.


Nenhuma paixão é mais desejosa de vingar-se do que a ira, e por isso mesmo ela é inábil para vingar-se. Por ser muito apressada e insana, como em geral toda cobiça, ela própria serve de obstáculo para aquilo a que se apressa e deseja."


Assim, nem na paz, nem na guerra, ela jamais foi um bem. Se a bravura é um bem, ninguém desejará que ela seja diminuída em alguma parte. Portanto, também, é desvantajoso que a ira sofra aumento, ou ainda, que ela exista, esta não é um bem o que, pelo crescimento, se tornará um mal. 


Sêneca diz que quem alega que a ira é “útil”, porque nos torna mais combativos, engana-se. 


Porque a ira, a embriaguez, o medo e outras coisas desse tipo são estímulos torpes e passageiros e não fornecem instrumentos à virtude. Ou seja, o homem racional deve ter clareza em sua ação, mesmo no campo de batalha ele não pode ser irracional, imprudente ou cegar-se. Sendo assim, ele não pode se valer da ira em combate, pois ela entorpece, causa euforia momentânea e causa mais riscos do que ajuda. 


Assim, disse Sêneca: "que em nada precisa dos vícios, mas, quando muito, eleva um pouco o ânimo fraco e indolente. Ninguém, ao irar-se, torna-se mais valoroso, exceto quem não o tivesse sido sem a ira. Pois a ira não vem em auxílio da virtude, mas em lugar desta, uma vez que tudo o que é fraco é por natureza irritadiço.


Não pode acontecer, diz Teofrasto, “de um homem virtuoso não se enfurecer com os maus.” Nesse sentido, quanto mais virtuoso for alguém, tanto mais irascível ele será no sentido de lutar contra a injustiça e pelo que é justo. 


Por fim, Sêneca pergunta, em que erram, quando a loucura os compele a delitos derivados da paixão? Responde que, não é próprio de um homem prudente odiar os que erram; de outro modo ele próprio será odioso para si, pois o homem virtuoso busca a reparação justa e suficiente, ele deseja a justiça como um remédio que educa, previne ou repara, ainda que em forma de castigo. Pois quando odia por odiar, ou nutre apenas a vingança irracional baseada na ira e nas paixões viciadas, como egoísmo, sadismo e violência. 


Sêneca, o filósofo estoico, alertou sobre os perigos da ira e defendeu que ela não é útil para a virtude. Suas reflexões destacam que a ira prejudica o autocontrole, o julgamento racional e a busca pela justiça. Ele enfatizou que a verdadeira bravura e sabedoria não dependem da ira, mas sim do equilíbrio, compaixão e autocontrole. Sêneca nos lembra que a busca pela virtude deve guiar nossas ações, enquanto a ira descontrolada pode obscurecer o caminho para a verdadeira paz interior e harmonia.


Ficamos por aqui e espero que tenha sido inspiradores para uma reflexão profunda sobre a utilidade da ira em nosso comportamento. Mas como podemos aproveitar está compreensão em nosso dia a dia?


Simples, compreender que a ira não é uma virtude e nem tem utilidade ao ânimos e nem a ação humana, levará você a internalizar que irar-se pode prejudicar a sua intenção, pode ser mais danoso do que manter a serenidade e a calma, aplicando a força na medida proporcional, consciente e exata a finalidade que deseja, eis que nada existe de bom em desejar o mal pelo mal, a dor de outro por mero capricho, a vingança descontrolada. 





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