Para crianças, o autocontrole e a moderação são habilidades essenciais para o desenvolvimento emocional saudável. A filosofia estoica oferece princípios adequados que podem ser utilizados pelos pais para ensinar essas habilidades, ajudando as crianças a lidar com emoções fortes e a desenvolver uma abordagem equilibrada para a vida. Ao integrar essas ideias estoicas na criação de seus filhos, você estará equipando-os para enfrentar os desafios do mundo moderno com resiliência e sabedoria.

Vamos trabalhar quatro conceitos do estoicismo e como podemos aplicar isso na educação dos nossos filhos para ajudá-los a moldar o caráter e a saber lidar com a frustração e seus sentimentos.
Primeiro vamos destacar o Poder da Opinião, como moldar as Reações Emocionais do seu filho.
Epíteto, um dos mais influentes filósofos estoicos, nos lembra que "O que mais machuca não é o que acontece, mas a opinião que se tem sobre o que acontece." Nossas reações emocionais não são determinadas pelos eventos em si, mas pela maneira como interpretamos esses eventos. Para as crianças, isso significa que elas podem aprender a reavaliar suas percepções diante de situações difíceis.
Quando seu filho enfrenta uma situação desafiadora, como um conflito com um colega ou a frustração de não alcançar um objetivo, incentive-o a refletir sobre como está interpretando o evento. O melhor método é o socrático, ou seja, através da indagação e escuta ativa, levando a entender o que a criança sente para direcioná-la a conclusão desejada.
Pergunte: "O que você está pensando sobre isso? Por que se sente chateado? Será que há outra forma de ver essa situação? Lembra quando jogamos juntos e você perdeu, depois você chorou porque não conseguiu ganhar, então, papai explicou para você que não podemos vencer sempre, e você foi comer e brincar, e não voltou a ficar chateado? Você se esqueceu de que ficou bravo não esqueceu? Então, é a mesma coisa filho, nem sempre vamos ganhar, mas o que você quer fazer em relação a isso? Quer treinar mais?
Esse diálogo ajuda a criança a entender que, ao mudar sua opinião, pode também mudar suas emoções e reações. Isso é fundamental para o desenvolvimento do autocontrole.
Outra lição de Epicteto, "Você pode ser invencível se não se envolver em nenhuma luta na qual a vitória não dependa de você," ensina a importância de escolher onde concentrar nossos esforços e emoções. Para as crianças, essa sabedoria pode ser aplicada ao ensinar a não desperdiçar energia em situações que estão fora de seu controle.
Ensine seu filho a identificar quando vale a pena insistir em algo e quando é melhor deixar passar. Por exemplo, se uma criança está chateada porque algo não saiu conforme o planejado, ajude-a a discernir se pode ou não mudar a situação. Caso não possa, explique que, ela pode optar por focar em coisas que estão ao seu alcance e que, por isso, pode encontrar paz e serenidade em vez de frustração.
Sempre que uma criança disser que ela não consegue resolver uma conta de matemática, por exemplo, não deixe ela desesperada e nem se desespere junto, pause e conduza a conversa explicando algo simples que ela saiba resolver, e vai dando exemplos, dando confiança e parabenizando a cada respostas certa, explique a ela, que antes ela também não sabia resolver aquelas contas, mas ela aprendeu porque não desistiu e se empenhou e treinou outras situações. Portanto, o poder de manter o foco, treinar e se esforçar está sob o controle dela, ela pode ser melhor nessa matéria, mas precisa se dedicar e tentar, e que você vai ajudá-la a entender com calma.
Um ensinamento que está relacionado à frustração, está em Sêneca, no seu tratado “Sobre a Ira”, o qual ele compara a raiva a um fogo que, uma vez desencadeado, só tende a aumentar. Ele adverte que "A única maneira de extingui-la é não deixar que ela comece." Para as crianças, isso significa que é importante aprender a reconhecer os primeiros sinais de raiva e outras emoções fortes, e encontrar maneiras de lidar com elas antes que cresçam e saiam de controle.
Por isso, você deve buscar entender o que a criança está sentindo. Mas você não terá resultado se perguntar diretamente para ela, pois muitas das vezes, nem elas sabem o que são essas emoções.
É preciso construir um diálogo com a criança, ser paciente e entender o que realmente está deixando ela irritada, sem ser complacente, você precisa saber ser firme sem ser intolerante. Ouça a criança, pergunte e continue perguntando, peça para que ela olhe para você e transmita segurança, fale devagar e com calma.
É igual ao memezinho divertido que vi tempos atrás, a criança chega chorando à mãe e fala que a irmão chamou ela de bosta. A mãe dá uma bronca na irmão que desrespeitou a outra, e a criança explica, que a própria mãe disse o que tem na barriga é bosta, e que ela estava na barriga da mãe quando era bebezinha, logo a criança concluiu que elas também são bosta. É um raciocínio totalmente válido, de acordo com a vivência curta da criança, não há uma maldade no comportamento, mas que à primeira vista leva a percepção de adultos como um ato ofensivo.
Por isso, certifique-se até onde a criança elaborou o seu pensamento sobre a situação em si, e explique para ela.
Ajude seu filho a identificar os sinais iniciais de raiva, como um coração acelerado ou um tom de voz elevado, e ensine técnicas para interromper esse ciclo. Isso pode incluir respirar profundamente, pedir para a criança contar com você até dez ou afastar-se da situação por alguns minutos. Ao praticar essas técnicas, a criança desenvolve a habilidade de regular suas emoções antes que se tornem avassaladoras, quando ela se acalmar explique porque a reação dela não foi adequada, e peça para ela pedir desculpas caso seja relacionado a outras pessoas, isso faz com que ela aprender a controlar suas emoções e instintos primitivos.
Sêneca também nos oferece uma visão sobre a importância de restaurar a calma interior: "Se quisermos curar a mente humana e libertá-la de sua ansiedade e inquietação, devemos restaurá-la à sua condição natural e dar-lhe domínio sobre si mesma." Este é um lembrete poderoso de que o autocontrole é uma prática contínua que requer atenção e esforço.
Por isso, é importante criar rotinas diárias que permitam momentos de reflexão e calma para seu filho. Isso pode ser feito por meio de práticas simples como meditação, você se sentando ao lado dele e pedindo para ele imitar sua respiração, para por um momento e praticar a leitura de histórias que promovam a paz interior, ou discussões sobre como ele lidou com suas emoções durante o dia. Esse processo não só ajuda a criança a encontrar tranquilidade, mas também reforça a ideia de que ela tem o poder de controlar sua mente e suas reações.
Marco Aurélio, em suas Meditações, observa: "Não é o que acontece que nos perturba, mas o nosso julgamento sobre o que acontece." Ele enfatiza que nossas percepções são poderosas e que, ao controlá-las, controlamos também nosso bem-estar emocional. Para as crianças, aprender a reformular suas percepções pode ser uma ferramenta poderosa para gerenciar emoções difíceis.
Por isso, incentive seu filho a ver as situações de diferentes ângulos. Se ele estiver triste ou frustrado, ajude-o a identificar aspectos positivos ou novas oportunidades que a situação pode oferecer. Essa prática de reformulação de percepções é um passo importante para cultivar uma mentalidade resiliente e positiva. Use exemplos de quando ele se comportou de forma adequada e como a situação se resolveu, dê a ele elementos para que aprenda aos poucos a lidar com o que sente. Use pequenas histórias para que ele aprender a se relacionar com o que é certo ou errado, incentive a imaginação dele.
Integrar os ensinamentos estoicos de autocontrole e moderação na educação dos filhos não apenas os prepara para lidar com as complexidades emocionais da vida, mas também os equipa com habilidades essenciais para o sucesso e a felicidade a longo prazo. Ao ensinar seus filhos a controlar suas opiniões, a escolher suas batalhas, a gerenciar emoções como a raiva, e a reformular suas percepções, você estará ajudando-os a desenvolver uma base sólida de autocontrole e resiliência. Estes princípios não só fortalecerão o caráter de seus filhos, mas também os guiarão na construção de uma vida mais equilibrada, justa e feliz.
Ensine o seu filho a praticar a Virtude da Justiça Desde a Infância.
Epicteto nos lembra que "é nosso dever agir de forma justa e virtuosa, não apenas por nós mesmos, mas em relação aos outros".
Para ajudar as crianças a compreenderem esse conceito, os pais podem criar situações de aprendizado que incentivem a empatia e a reflexão sobre o impacto de suas ações.
Os Estóicos acreditam que a melhor forma de ensinar alguém é agindo da forma que você deseja ensinar. A ação, o exemplo, é mais importante do que as palavras ditas ao acaso.
Por isso, a melhor forma de educar seus filhos, é se comportar da forma que deseja que eles se comportem. A criança passando muito tempo observando seus pais e os adultos que são referência para elas. Por isso, você deve se preocupar com duas coisas, a primeira, com as pessoas que você permite conviver com eles, a segunda é que você precisa dar o exemplo.
Se você deseja que seu filho seja justo, é preciso agir de forma justa com as pessoas a sua volta. Para ensinar uma criança respeitar a sua mãe, é preciso que o pai aja primeiro com respeito com sua esposa. Se quer que ela comer de forma saudável, é preciso se alimentar com ela e elogiar a comida; se quer que ela aprenda a dividir os brinquedos, deve encenar com sua esposa a dividir seus objetos na frente da criança; deve ser afetuoso, íntegro, gentil; se quer ensinar seu filho a ser atencioso, deve antes de tudo dar flores a mãe dele e permitir que ele manifeste seu interesse em seguir seus passos.
Por isso, educar um filho pode parecer assustador, pois exige muito autoconhecimento de nós mesmo e autocontrole de nossas ações.
Como disse Epíteto, "O que se relaciona a um homem é do interesse de todos, pois nada é verdadeiramente nosso se não for compartilhado com os outros".
Incentive os filhos a se envolverem em atividades de serviço comunitário ou a participarem de projetos em grupo, isso pode ajudá-los a entender que suas ações têm um significado maior e que a justiça está interligada ao bem-estar dos outros.
Sêneca afirma que "a justiça é a base de todas as virtudes e é a única que não pode ser separada do bem".
Este conceito pode ser abordado em conversas sobre como as virtudes se interconectam. Pais podem ensinar que ser honesto, respeitoso e solidário são aspectos da justiça, incentivando as crianças a praticar essas virtudes no dia a dia. Jogar jogos de tabuleiro que exigem cooperação e a resolução de conflitos pode ser uma maneira divertida de reforçar esses ensinamentos.
Sêneca afirmou em, “Sobre a Tranquilidade da Mente” que "as dificuldades são o que nos torna fortes. O que não nos mata nos fortalece", por isso, jogos educativos e brincadeiras competitivas são importantes para encorajar seus filhos a ver os desafios como oportunidades de crescimento.
Outro ponto, é ir conversando sobre as reações, prestando atenção em como ela reage e controla suas frustrações.