top of page

A Revolução dos Bichos (George Orwell): A Verdade por Trás da Distopia

Atualizado: 17 de nov. de 2023

Revolução dos Bichos é uma distopia, um livro alegórico de George Orwell, publicado em 17 de agosto de 1945, há setenta anos, na Inglaterra, reflete os acontecimentos que se seguiram à Revolução Comunista de 1917 e, em consequência, à era estalinista na União Soviética.


A obra é uma sátira e uma crítica contundente sobre o que acontece quando um grupo revolucionário chega ao poder na visão de Orwell e reflete muito bem alguns outros processos revolucionários em outros continentes ao longo da história moderna.




Ficou curioso para entender tudo sobre a Revolução do Bichos? Fique conosco até o final, pois dividiremos este texto em duas partes, sendo que na primeira explicaremos os personagens do livro e depois entraremos na resenha crítica sobre ele.


Recomendamos que assista também nossa resenha sobre 1984 de George Orwell e nosso último vídeo sobre Medo Líquido de Bauman, este dois vídeos vão te dar uma construção crítica de pensamento muito boa, vale a pena dedicar um tempinho conosco.


Se você leu a revolução comunista e já pretende sair do nosso blog por não gostar do posicionamento de esquerda ou se você, sendo de esquerda, ao ler sátira sobre a revolução comunista e não querer nem saber do que se trata, peço calma! Fique até o final, nem que seja para expor seu ponto de vista após, para que seja debatido nos comentários.


"Revolução dos Bichos" é uma novela alegórica escrita por George Orwell. A história é uma sátira política que representa figuras históricas e políticas por meio de animais. Aqui estão alguns dos principais personagens com breves explicações:


O primeiro deles temos Napoleão: Um javali, que representa Josef Stalin. Ele se torna o líder da fazenda após a revolução, mas se corrompe ao longo do tempo, transformando-se naquele que ele mesmo diz combater.


Bola-de-Neve é um porco, que representa Leon Trotsky. Ele é um líder intelectual que é expulso da fazenda por Napoleão e seus seguidores, passando a servir como inimigo invisível no jogo de manipulação dos demais animais, odiado por todos. E aqui lembra muito 1984 com o inimigo que ninguém sabe ao certo se existe com Goldstein e a Confraria, mas a quem o governo atribui toda a falha ou erros cometidos pelo Líder.


Sansão é um cavalo, que simboliza o trabalhador comum. Ele é leal, alienado e trabalhador, mas é explorado pelos líderes da fazenda e traído por Napoleão quando perde sua força e capacidade de labor. Sansão é uma peça nas mãos do jogo de manipulação de Napoleão, sustentando as bases do governo e a principal vítima das ambições deste.


Outro personagem importante é Benjamin: Um burro, que representa a classe intelectual crítica. Ele é cético em relação à revolução e à liderança dos porcos, porém não é capaz de se mover contra ela, prefere ser apenas um observador à distância dos eventos, se limitando a dizer que os burros vivem muito e as coisas não costumam ser diferentes..


Garganta: é um porco que serve como propagandista de Napoleão. Ele manipula a verdade para manter o controle sobre os outros animais, é como se fosse um ministério da desinformação, responsável por manipular a opinião pública, exaltando as diretrizes transmitidas pela cúpula dos porcos. Qualquer semelhança com a maior emissora de telecomunicações brasileira é mera coincidência.


A base teórica da revolução é fornecida pelo Velho Major, retratado como um porco ancião que inspira a revolução com seu discurso. Ele representa Karl Marx ou Vladimir Lenin, basicamente ele iniciou as ideias pelo qual Napoleão se apropria e dá um direcionamento além do ideológico.


Mimosa é uma vaca que simboliza os que são apegados às luxúrias da vida e não se importam com a política, ela transparece ser uma das primeiras vítimas de Napoleão na fazenda ao sumir misteriosamente após tentar manter alguns mimos proibidos pelos camaradas escondidos, seu desaparecimento é suspeito porque só temos no livro um discurso de Garganta explicando de forma fantasiosa o sumiço de Mimosa.


A égua Quitéria é uma personagem importante do livro, ela é uma fiel camarada, crê em Napoleão e sucumbe facilmente ao discurso dos porcos, sempre duvidando de sua própria memória, vive em um conflito saudosista entre o que era para ser o movimento revolucionário e o que parece ter se transformado. Ela duvida, mas sempre tentando se convencer de que está tudo melhor do que era com Jones. Embora tenha aprendido a ler o básico, ela é o elo que liga o leitor às hipocrisias da revolução à medida que Napoleão se torna corrupto e começa a alterar as bases do animalismo pouco a pouco para se amoldar a sua postura autoritária e corrompida. .


O Sr. Jones e Senhora Jones, são os proprietários humanos da fazenda, representando a classe dominante. Ele é derrubado e expulso na revolução.


Já os Cães de Guarda, formam o exército revolucionário de Napoleão, fruto de uma esperta jogada política. Basicamente, Napoleão retirou os 9 filhotes de uma das cadelas da fazenda sob argumento de lhes dar melhor educação pessoalmente em seus aposentos, e secretamente os doutrinou para seu propósito, tornando-os a força, os músculos e dentes da revolução de Napoleão..


Moisés é um corvo que simboliza a religião e serve como uma forma de controle da população através da promessa de um paraíso distante, a montanha de açúcar em que todos os animais descansam em paz após a morte. Inicialmente, ele serve a Jones, porém após Napoleão estabelecer seu domínio, ele retorna e funciona como uma distração para o sofrimento passado pelos Bichos da fazenda. Napoleão não apoia diretamente a permanência de Moisés, mas mantém tolerância com ele, porque ele distrai a realidade dura da nova vida dos bichos da fazenda.


A Lebre e Gata: Representam diferentes tipos de oposição à revolução. A lebre é apática, enquanto a gata se esquiva dos conflitos e se aproveita da revolução para tirar vantagem dos discursos de camaradagem, ela usa o sistema em seu benefício. É como grupos que se assemelham com organizações criminosas, mas que apoiam a revolução, usando seu apoio para reforçar seu domínio faccionado e lucrativo.


Frederick e Pilkington: Dois fazendeiros humanos que representam as potências estrangeiras e suas relações com a União Soviética, ora apoiando, ora inimigos, mas sempre buscando vantagem financeira de uma relação dúbia entre os a Granja do Bichos e entre seus próprios interesses.


Minimus é um porco poeta que cria hinos e poemas para enaltecer Napoleão e o regime, ele se torna a base da propaganda e da criação intelectual do novo regime de Napoleão, glorificando e exaltando os feitos heroicos do ditador, criando canções e textinhos pegajosos e de fácil assimilação para alienar a classe trabalhadora.


Outros personagens centrais são as ovelhas, elas funcionam como os fiéis devotos de Napoleão, elas são burras e não conseguem raciocinar, ou montar um pensamento crítico, mas são fervorosas e barulhentas, e sempre repete o slogan da revolução para qualquer situação, como que negando a verdade dos fatos para aceitar qualquer fala proposta pelo regime, calando qualquer questionamento com gritos de apoio às ideias de Napoleão..


As galinhas são a classe trabalhadora, sonhando com os louros da revolução, reacionárias e exploradas por Napoleão, sustentando as despesas do Estado com seus ovos, trabalhando até a exaustão.


Ao longo do livro veremos outros personagens coadjuvantes que vão surgindo ao longo dos anos, a nova geração de animais, as quais já não lembram como era a época com Jones, mas devido a ignorância que são submetida, mantém uma vida medíocre e reacionária, aceitando tudo como banal. Eis que apenas os porcos são educados para assumir as rédeas da Granja, quando Napoleão partir. O ponto central aqui é que o Estado controla a educação e a narrativa dos eventos históricos, logo, o animalismo é bem trabalhado na mente dos animais.


Bom, não é possível compreender a sátira a Revolução do Bicho, sem antes ter uma noção sobre a Revolução Comunista de 1917 na União Soviética. Na verdade, você provavelmente entenderá alguns aspectos da sátira, mas saber sobre isso deixa tudo mais cômico e interessante, é como se retirasse um véu descobrindo os jogos de metáforas de Orwell.

A Revolução Comunista de 1917 na Rússia ocorreu em duas fases principais: a insatisfação generalizada com o governo autocrático do czar Nicolau II, protestos populares, greves e motins resultaram na abdicação do czar, encerrando a dinastia Romanov. Em outubro de 1917, o Partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin, organizou um golpe de Estado em Petrogrado. Isso levou à criação do governo bolchevique sob o lema "Paz, Pão e Terra", com a promessa de encerrar a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial e redistribuir terras e poder.


Depois da Revolução de Outubro de 1917, Joseph Stalin desempenhou um papel importante na consolidação do governo comunista na Rússia, servindo em vários cargos de liderança no governo soviético, contribuindo para a consolidação da União Russo Soviética. Após a morte de Vladimir Lênin em 1924, Stalin emergiu como um dos principais contendores pelo poder dentro do Partido Comunista. Ele liderou uma facção que buscava consolidar o poder dentro do partido derrotando seus principais oponentes, como Leon Trotsky, Kamenev e Zinoviev. e Desta forma, buscou abrir caminho para a Industrialização e Coletivização na década de 30.


Sob o governo de Stalin, a União Soviética passou por um período de industrialização maciça e coletivização agrária. Isso envolveu a rápida expansão da indústria pesada e a transformação das fazendas camponesas em fazendas coletivas sob o controle do Estado. Essas políticas levaram a mudanças significativas na economia e na sociedade soviéticas, mas também resultaram em fome, repressão e perseguições em massa. Culminando na Repressão Política e Grande Expurgo ainda na década de 30 que resultou em milhões de mortes e prisões.


Por fim, Stalin consolidou seu controle total sobre o Partido Comunista e o Estado, tornando-se um líder autoritário e após a Segunda Guerra Mundial, Stalin esteve envolvido nas negociações pós-guerra com os aliados, chamado de Guerra Fria, a qual formou o cenário geopolítico caótico que vemos hoje no oriente médio e na Ásia, principalmente entre Estado Unidos, Rússia, China e países estratégicos que contam com apoio desta nações.


Sei que está com pressa para entrar na história, mas é importante essa introdução, bem como é importante que saiba um pouco sobre Trotsky a quem podemos enxergar como sendo Bola de Neve no livro.


O trotskismo, é uma ideologia de esquerda baseada nas reflexões de Leon Trotski sobre o marxismo e a Revolução Russa, caracterizado por sua ênfase na revolução permanente. Inclusive é a base ideológica de Partidos brasileiros como PSOL, PCdoB, Movimento Revolucionário Socialista e a Corrente Socialista dos Trabalhadores, bem como os primórdios do Partido dos Trabalhadores e do PDT.


De acordo com Trotsky, a revolução comunista não deveria se limitar à União Soviética, mas se espalhar para outros países, particularmente aqueles sob influência do capital estrangeiro. Ele via a classe operária como a vanguarda da mudança, incentivando a formação de partidos políticos e sindicatos para lutar por mais direitos. Se necessário, a violência era justificada para tomar o poder, e a URSS deveria apoiar essas novas revoluções com seus recursos.


Trotsky promovia o internacionalismo, opondo-se ao nacionalismo de Stalin, resumindo sua visão com a famosa frase: "o socialismo será mundial ou não será". Isso o colocou em desacordo com Stalin, que buscava focar na revolução dentro das fronteiras soviéticas.

Trotsky tornou-se um crítico do estado soviético construído por Stalin, destacando a burocratização como uma ameaça à revolução e à construção do socialismo. Trotsky também adotou uma visão diferente de Lenin em três questões principais: alianças políticas, estrutura partidária e etapas revolucionárias. Trotsky não apoiava a aliança com o movimento camponês, considerando-o reacionário, enquanto Lenin a via como importante. Além disso, Trotsky discordava da estrutura rígida do Partido Comunista, desejando que qualquer pessoa participasse sem aderir estritamente às ideias de esquerda. Por fim, ele rejeitava a teoria das etapas na revolução, enquanto Lenin defendia a necessidade de uma fase democrático-burguesa antes de avançar para o socialismo. Essas diferenças levaram à separação das duas correntes no marxismo, com o trotskismo representando uma visão mais internacionalista.


Quanto a Stalin, Trotsky tornou-se um opositor, e como ele já fora o Comandante do Exército Vermelho, sua capacidade de comunicação e ideias progressistas, deixou Stalin preocupado com uma possível ascensão à frente do movimento, o que levou a uma cisão no Partido e a expulsão e perseguição de Trotsky e de seus seguidores por Stalin. O único país que aceitou asilo político para Trotsky teria sido o México, mas ainda assim, ele viria a ser assassinado a mando de Stalin.


Agora sim! Estamos prontos para começar resenhar a obra de Orwell.


O livro começa com o velho Major, um porco barbudo, cheio de ideias, como Marx, e de ordens, como Lênin. Bem como, com o intelectual Bola de Neve em devaneios trotskistas. E o truculento Napoleão, violento como Stalin, estes três personagens são os elementos da vanguarda revolucionária.


Os cães constituem seu exército particular. Os demais animais compõem o povo, cheio de esperança e de ilusões – que irão se acabar aos poucos.


Orwell introduz a história dizendo que o Sr. Jones. proprietário da Granja do Solar, fechou o galinheiro à noite, mas estava bêbado demais para lembrar-se de fechar também as vigias.


Tão logo apagou-se a luz do quarto, houve um grande alvoroço em todos os galpões da granja. Havia corrido, durante o dia, o boato de que o velho Major (interpretado como sendo a base ideológica da revolução, ou seja, uma mistura de Marx e Lenin).


O Velho Major era um porco que já se sagrara grande campeão numa exposição, tivera um sonho muito estranho na noite anterior e desejava contá-lo aos outros animais. Haviam combinado encontrar-se no celeiro, assim que Jones se retirasse.


O velho Major gozava de tão alto conceito na granja, que todos estavam dispostos a perder uma hora de sono só para ouvi-lo.


Todos os animais estavam presentes, exceto Moisés, o corvo domesticado, que dormia fora, num poleiro junto à porta dos fundos. (este corvo é claramente a igreja, a qual compunha o governo do czar Nicolau II).


Assim, o Major limpou a garganta e começou: “Camaradas, já ouvistes, por certo, algo a respeito do estranho sonho que tive a noite passada. Já vivi bastante e muito tenho refletido na solidão da minha pocilga. Nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo de alimento necessário para continuar respirando e os que podem trabalhar são forçados a fazê-lo até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer, após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida de um animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade nua e crua. “Será isso, apenas, a ordem natural das coisas? Será esta nossa terra tão pobre que não ofereça condições de vida decente aos seus habitantes? Não, camaradas, mil vezes não! O solo da Inglaterra é fértil, o clima é bom, ela pode oferecer alimentos em abundância a um número de animais muitíssimo maior do que o existente. Só esta nossa fazenda comportaria uma dúzia de cavalos, umas vinte vacas, centenas de ovelhas – vivendo todos num com uma dignidade que, agora, estão além de nossa imaginação. Porque quase todo o produto do nosso esforço nos é roubado pelos seres humanos, desta forma, a resposta a todos os nossos problemas. Resume-se em uma só palavra – Homem. Retire-se da cena o Homem, e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre.


“O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais. Põe-nos a trabalhar, dá-nos de volta o mínimo para evitar a inanição e fica com o restante. Praticamente, da noite para o dia, poderíamos nos tornar ricos e livres. Esta é a mensagem eu vos trago, camaradas: Revolução!


Fixai camaradas isso, para o resto de vossas curtas vidas! E, sobretudo, transmiti esta minha mensagem aos que virão depois de vós, para que as futuras gerações prossigam na luta, até a vitória. E se vos disserem que o Homem e os animais têm interesses comuns, que a prosperidade de um é a prosperidade dos outros. É tudo mentira. O Homem não busca interesses que não os dele próprio. Que haja entre nós, uma perfeita unidade, uma perfeita camaradagem na luta. Todos os homens são inimigos, todos os animais são camaradas.”


“Camaradas – disse ele – eis aí um ponto que precisa ser esclarecido. As criaturas selvagens, tais como os ratos e os coelhos, serão nossos amigos ou nossos inimigos? Os ratos são camaradas?”


A votação foi realizada imediatamente, embora Bola de Neve tenha feito objeção, concluiu-se, por esmagadora maioria, que os ratos eram camaradas. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo, qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.


O velho major continuou: Mesmo quando o tenhais derrotado, evitai seus vícios. Animal nenhum deve morar em nem dormir em camas, nem usar roupas, nem beber álcool, nem fumar, nem tocar em dinheiro, nem fazer comércio. Todos os hábitos do Homem são maus. Jamais um animal deverá tiranizar outros animais. Todos os animais são iguais. E assim, o velho Major limpou a garganta e começou a cantar:


Bichos ingleses e irlandeses,
Bichos de todas as partes,
Eis a mensagem de esperança,
No futuro que virá.
Cedo ou tarde virá o dia,
Cairá a tirania
E os campos todos da Inglaterra
Só aos bichos caberão.
Não mais argolas em nossas ventas,
Dorsos livres dos arreios,
Freios e esporas, descartados,
Chicotadas abolidas.
Muito mais ricos do que sonhamos
O trigo, o feno, e a cevada,
Pasto aveia e feijão,
Possuiremos daí por diante.
Brilham os campos da Inglaterra,
Águas puras rolarão.
Ventos leves soprarão
Saudando a redenção.
Lutemos todos por esse dia
Mesmo que nos custe a vida;
Vacas e cavalos, gansos e perus,
Liberdade conquistemos.
Bichos ingleses e irlandeses,
Bichos de todas as partes,
Escutai bem e espalhai minha fala
Sobre o futuro que virá.

O canto levou os animais à mais extrema excitação. Antes de o Major chegar ao fim, já haviam começado a cantar por conta própria.


Daí a três noites faleceu o velho Major, tranquilamente, durante o sono. Seu corpo foi enterrado no fundo do pomar. Durante os três meses seguintes houve uma intensa atividade secreta. As palavras do Major haviam dado uma perspectiva de vida inteiramente nova aos animais de maior inteligência. Não sabiam quando teria lugar a Revolução prevista pelo Major, mas percebiam claramente o dever de prepararem-se para ela.


A tarefa de instruir e organizar os outros recaiu naturalmente sobre os porcos, reconhecidamente os mais inteligentes entre os animais. Salientavam-se, entre eles, dois jovens varões, Bola de Neve e Napoleão, que o Sr. Jones criava para vender.


Napoleão era um cachaço Berkshire, de aparência ameaçadora, o único Berkshire da fazenda, Bola de Neve era mais ativo do que Napoleão, de palavra mais fácil e mais imaginoso, porém não gozava da mesma reputação quanto à solidez do caráter. O Porquinho gordo chamado Garganta, o que era assaz persuasivo. Diziam que Garganta era capaz de convencer que o preto era branco. Esses três haviam organizado os ensinamentos do Major num sistema de pensamento a que deram o nome de Animalismo.


Alguns animais mencionaram o dever de lealdade para com Jones, fizeram comentários elementares do tipo: “Seu Jones nos alimenta. Se ele fosse embora, nós morreríamos de fome”. Outros faziam perguntas como: “Que nos importa o que acontecerá depois da nossa morte?” ou: “Se essa Revolução vai ocorrer de qualquer maneira, que diferença faz trabalharmos por ela ou não?”,


A primeira pergunta que fez a Bola de Neve foi: “Continuará havendo açúcar, depois da Revolução?” “Não – respondeu Bola de Neve, firmemente. – Não dispomos de meios para obter açúcar nesta fazenda. Além disso, você não necessita de açúcar. Mas terá a aveia e o feno que quiser.”


“E eu ainda poderei usar laços de fita na crina?” – perguntou Mimosa. “Camarada – explicou Bola de Neve – essas fitas que você tanto estima são o distintivo da escravidão. Será que você não compreende que liberdade vale mais do que laços de fita?”


Moisés, bicho de estimação do Jones, era um espião linguarudo, mas também hábil na conversa. Afirmava a existência de uma região misteriosa, “Montanha de Açúcar”, para onde iam os animais após a morte. Essa montanha estava situada em algum lugar do céu, pouco acima das nuvens.


Os animais detestavam Moisés, porque vivia contando histórias e não trabalhava, porém alguns acreditavam na Montanha Açúcar e os porcos tiveram grande trabalho para convencê-los de que tal lugar não existia.


Os discípulos mais fiéis eram os dois cavalos de tração, Sansão e Quitéria. Ambos tinham enorme dificuldade em pensar qualquer coisa por si próprios, todavia, aceitando os porcos como professores, absorviam tudo quanto lhes era dito e passavam adiante para os outros animais, por simples repetição.


Jones fora, no passado, um patrão duro, porém eficiente. Agora estava em decadência. Desestimulado com a perda de dinheiro numa ação judicial, dera para beber bastante além do conveniente.


Seus peões eram vadios e desonestos, o campo estava coberto de erva daninha, os galpões necessitavam de telhas novas, as cercas estavam abandonadas e os animais andavam mal alimentados. Naquele dia, os animais ainda não haviam comido. Aquilo foi insuportável. Uma das vacas rebentou a chifradas a porta do depósito e os bichos avançaram sobre o alimento.


Num instante, ele e seus homens estavam no depósito com os chicotes na mão, batendo a torto e a direito. Isso ultrapassou a tudo quanto os animais famintos podiam suportar. E assim, a situação fugiu ao controle. Um minuto depois, os cinco voavam pela trilha rumo à estrada principal, com os bichos a persegui-los triunfantes. A mulher de Jones olhou pela janela do quarto, viu o que acontecia, reuniu às pressas alguns haveres dentro de uma bolsa de pano e escapuliu da granja por outro caminho. Moisés levantou voo do poleiro e bateu asas atrás dela, grasnando ruidosamente.


A revolução estava feita. Jones foi expulso e a Granja do Solar era deles.


Em curto tempo, os bichos destruíram tudo quanto lhes recordava Jones. Napoleão conduziu- os de volta ao depósito de forragem e serviu uma ração dupla de cereais para todo mundo, com dois biscoitos para cada cachorro.


Depois de alguns instantes, porém, Bola de Neve e Napoleão forçaram a porta, e os animais entraram, em fila, caminhando com o maior cuidado para não desarrumar nada. Andaram na ponta dos pés, de um aposento para o outro, falando baixinho e olhando com certa reverência o luxo inacreditável,


Quando desciam as escadas, deram pela falta de Mimosa. Voltando, descobriram-na no quarto principal. Havia apanhado no trocador da Sra. Jones um pedaço de fita azul e segurava-o contra a espádua, admirando-se no espelho - repreenderam-na acerbamente e saíram todos.


Concordaram em que nenhum animal jamais deveria habitá-la. Pegou o pincel entre as juntas da pata, apagou o nome GRANJA DO SOLAR do travessão superior e, em seu lugar, escreveu GRANJA DOS BICHOS.


Em seguida resumiram os princípios do Animalismo em Sete Mandamentos.


Esses Sete Mandamentos, que seriam agora escritos na parede, constituíram a lei inalterável pela qual a Granja dos Bichos deveria reger sua vida a partir daquele instante, para sempre:


1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.

2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.

3. Nenhum animal usará roupas.

4. Nenhum animal dormirá em cama.

5. Nenhum animal beberá álcool.

6. Nenhum animal matará outro animal.

7. Todos os animais são iguais.


As vacas, que já vinham dando sinais de inquietação, começaram a mugir. Havia vinte e quatro horas que não eram ordenhadas e estavam com os úberes quase estourando. Em breve obtinham cinco baldes de um leite espumante e cremoso, que muitos bichos olharam com considerável interesse. “Que vamos fazer com esse leite?” “Nós trataremos deste assunto depois. A colheita é mais importante, respondeu Napoleão. Quando voltaram, à tardinha, notaram que o leite havia desaparecido, mas não sabiam que teria sido o culpado.


Por vezes, a tarefa foi dura; Os cavalos conheciam cada palmo do terreno. Os porcos não trabalhavam, propriamente, mas dirigiam e supervisionavam o trabalho dos outros. Donos de conhecimentos maiores, era natural que assumissem a liderança. Terminaram a colheita dois dias antes do tempo que Jones e seus empregados normalmente levavam.


Não houve qualquer desperdício; E nenhum animal na granja roubou sequer uma bocada. Sansão era a admiração de todos. Já era trabalhador no tempo de Jones; agora, como que valia por três. Fizera um trato com um dos galos para ser chamado meia hora mais cedo que os demais, todas as manhãs, e empregava esse tempo em trabalho voluntário no que parecesse mais necessário.


Ninguém roubava, ninguém resmungava a respeito das rações. Ninguém se esquivava ao trabalho – ou quase ninguém. É bem verdade que Mimosa não gostava de levantar cedo e costumava abandonar o trabalho antes dos demais. Outro comportamento estranho era do gato - notou-se que ele nunca podia ser encontrado quando havia trabalho por fazer e que vez ou outra era visto oferecendo alimento em suas mãos aos camaradas passarinhos tentando convencê-lo de que não lhes fariam mal.


O velho Benjamim, o burro, nada mudara, após a Revolução. Executava sua tarefa da mesma forma obstinadamente. Sobre a Revolução e seus resultados, não emitia opinião. Quando lhe perguntavam se não era mais feliz, agora que Jones se havia ido, respondia apenas: “Os burros vivem muito tempo”.


Os outros animais aprenderam a votar, mas nunca conseguiram imaginar uma resolução por conta própria. Bola de Neve e Napoleão eram sempre mais ativos nos debates, porém, que dois nunca estavam de acordo: o potreiro situado além do pomar seria reservado para os animais aposentados, houve uma agitada discussão a respeito da idade de aposentadoria para cada classe de animal.


Os porcos reservaram o depósito de ferramentas para a sede da direção.


Depois de muito pensar, Bola de Neve declarou que, na verdade, os Sete Mandamentos podiam ser condensados numa única máxima, que era: “Quatro pernas bom, duas pernas ruim.” Aí se continha, segundo disse ele, o princípio essencial do Animalismo.


Napoleão não tomou interesse algum pelos comitês de Bola de Neve. Dizia que a educação dos jovens era mais importante do que qualquer coisa em favor dos adultos. Napoleão tirou 9 filhotes de cachorro de suas mães, que nasceram a pouco na fazenda, dizendo que ele próprio se responsabilizaria por sua educação. Levou-os para um sótão que só podia ser atingido pela escada do depósito, e os manteve em tal reclusão que o resto da fazenda logo se esqueceu de sua existência.


O mistério do que fazer com o leite logo se esclareceu. Seria misturado à comida dos porcos. Os bichos tinham como certo que as frutas deveriam ser distribuídas equitativamente; porém, chegou a ordem para que todas as frutas caídas fossem recolhidas e levadas ao depósito das ferramentas, para consumo dos porcos. Alguns bichos murmuraram a respeito, mas foi inútil. Os porcos estavam todos de acordo sobre esse ponto, até mesmo Bola de Neve e Napoleão. Garganta foi enviado aos outros, para dar explicações, e assim ele dissera: “Nosso único objetivo ao ingerir essas coisas é preservar nossa saúde. O leite e a maçã (está provado pela Ciência, camaradas) contêm substâncias absolutamente necessárias à saúde dos porcos. Nós, os porcos, somos trabalhadores intelectuais. A organização e a direção desta granja repousam sobre nós. É por vossa causa que bebemos aquele leite e comemos aquelas maçãs.”


Todos os dias, Bola de Neve e Napoleão enviavam formações de pombos com instrução de misturar-se aos animais das granjas vizinhas, contar-lhes a história da Revolução e ensinar-lhes a melodia de Bichos da Inglaterra.


Os pombos mencionados por George Orwell, seria a Comintern, uma abreviação de "Comunista Internacional", criada no período de 1930 pela União Soviética, sob o governo de Stalin, conhecida como um meio para promover sua ideologia comunista e estabelecer relações com partidos comunistas em outros países. A Comintern atuou como uma organização internacional dedicada a coordenar e promover atividades comunistas em todo o mundo. Embora não fosse um "país" no sentido tradicional, era um instrumento político importante para a União Soviética em suas relações com outros estados e partidos comunistas, sendo dissolvida em 1943, como parte de uma ação de boas intenções para os Aliados da Segunda Guerra Mundial.


No fundo, cada Granja vizinha imaginava secretamente alguma forma de tirar vantagem do infortúnio de Jones. Era uma sorte que os proprietários das granjas adjacentes à dos bichos estivessem permanentemente em más relações.


Todavia, ambos estavam assustados com a Revolução na Granja dos Bichos e desejosos de prevenir que seus próprios animais tomassem maior conhecimento do assunto. De início, acharam graça na ideia de bichos gerirem por si próprios uma granja. Como o tempo passava e os animais evidentemente não definhavam, Frederick (referindo-se aos EUA) e Pilkington (à Inglaterra) mudaram de tom e começaram então a falar nas terríveis perversidades que estavam ocorrendo na Granja dos Bichos.


Comentavam que os animais praticavam o canibalismo, torturavam uns aos outros com ferraduras ao rubro e tinham suas fêmeas em comum. Isso era o que advinha do desrespeito às leis da Natureza, diziam Frederick e Pilkington. Os humanos não podiam conter a raiva ao ouvirem essa canção, embora quisessem encará-la como simplesmente ridícula. Jones (Os apoiadores da dinastia Romanov) e todos os seus homens, mais meia dúzia de outros homens de Foxwood (referindo-se aos EUA) e Pinchfield (referindo-se à Inglaterra), haviam penetrado pela porteira das cinco barras e vinham subindo a trilha que conduzia à fazenda. Todos armados de bastões, exceto Jones, que marchava à frente com uma espingarda na mão. Era, evidentemente, uma tentativa de recuperar a granja. Há muito isso era esperado, e os preparativos estavam feitos.


Quando os homens chegaram perto das casas, Bola de Neve (como dissemos, Trotsky, líder do Exército Vermelho e admirado por muitos seguidores) lançou o primeiro ataque. E assim, poucos minutos após a invasão, os homens batiam em vergonhosa retirada pelo mesmo caminho da vinda, com uma multidão de gansos no seu encalço, bicando-lhes as pernas sem piedade.


Símbolos da Gloriosa Revolução foram criados pelos porcos: “Herói Animal, Primeira Classe”, que foi conferida ali mesmo a Bola de Neve e a Sansão (cavalo que lutara bravamente). Consistia numa medalha de bronze para ser usada nos domingos e feriados. Criaram também a “Herói Animal, Segunda Classe”, conferida postumamente à ovelha morta no confronto.


Com o passar do inverno, Mimosa tornava-se mais e mais inoportuna. Todas as manhãs atrasava-se para o trabalho e desculpava-se dizendo que dormira demais. A qualquer pretexto largava o trabalho e ia para o açude, à beira do qual permanecia admirando sua própria imagem refletida nas águas - aqui percebemos um retrato da antiga elite russa que estava à deriva nos ideais da revolução.


Boatos corria sobre Mimosa, e Quitéria teve uma ideia. Sem dizer nada a ninguém, foi à baia de Mimosa e virou a palha com o casco. Ali estavam escondidos um montinho de torrões de açúcar e vários novelos de fitas de diversas cores.


Três dias mais tarde, Mimosa desapareceu. Durante algumas semanas ninguém teve notícias de seu paradeiro, até que os pombos trouxeram o informe de que a haviam visto na parte mais afastada de Willingdon coberta de luxos e mimos proibidos para horror dos demais animais.


Ficou acertado que os porcos, sendo manifestamente mais inteligentes do que os outros animais, decidiriam todas as questões referentes à política agrícola da granja, embora suas decisões devessem ser ratificadas pelo voto da maioria.


Essa combinação teria funcionado muito bem, não fossem as disputas entre Bola de Neve e Napoleão. Esses dois discordavam sobre todos os pontos em que a discordância era possível.


Nas reuniões, Bola de Neve frequentemente obtinha a maioria, por seus discursos brilhantes, porém Napoleão era o melhor de apoio nos bastidores durante os intervalos dos debates. E Napoleão obtinha êxito especial com as ovelhas, as quais tomavam-lhe partido.


Bola de Neve estudara atentamente alguns números atrasados da revista “O Agricultor ". Enquanto Napoleão não criava projetos próprios, mas dizia com toda calma que os de Bola de Neve dariam em nada e parecia aguardar sua oportunidade.


Bola de Neve declarou ser o local ideal para a construção de um moinho de vento, que poderia acionar um dínamo e suprir de energia elétrica toda a granja. Depois disso – dizia – os bichos economizariam tanta energia, que seriam necessários apenas três dias de trabalho por semana. (refletindo aqui as ideias de Trotsky e Lenin de um investimento industrial para União Soviética e as ideias de progressão da revolução, com diálogo inclusive com uma fase democrático-burguesa como transição para a construção do socialismo). Em poucas semanas os planos de Bola de Neve para o moinho de vento estavam prontos. Apenas Napoleão permaneceu desinteressado. Havia-se declarado contra o moinho de vento desde o início.


Napoleão, por outro lado, argumentava que a grande necessidade do momento era aumentar a produção de alimentos e que morreriam de fome se perdessem tempo com o moinho de vento.


Os animais dividiram-se em duas facções que se alinhavam sob os slogans: “Vote em Bola de Neve e na semana de três dias” e “Vote em Napoleão e na manjedoura cheia”. Benjamim foi o único animal que não aderiu a lado nenhum.


Além da disputa sobre o moinho de vento, havia o problema da defesa da granja. Como sempre, Bola de Neve e Napoleão não estavam de acordo. Segundo Napoleão, o que os animais deveriam fazer era conseguir armas de fogo e instruir-se no seu emprego. Bola de Neve achava que deveriam enviar mais e mais pombos e provocar a rebelião entre os bichos das outras granjas (Aqui percebemos claramente a ideia nacionalista de Stalin contra a ideia Internacionalista de Trotsky, em um choque frontal e violento).


Os animais ouviam Napoleão, depois Bola de Neve e não chegavam à conclusão sobre quem tinha razão; á verdade é que estavam sempre de acordo com aquele que falava no momento. Na Reunião do domingo seguinte deveria ser posta em votação a questão de começar ou não o trabalho no moinho de vento.


O Debate pré-votação ferveu, Bola de Neve pôs-se de pé outra vez, então, os bichos estavam quase igualmente divididos em suas simpatias, mas num instante de eloquência Bola de Neve arrastou a todos. Com sentenças ardentes, pintou um quadro de como poderia ser a Granja dos Bichos quando o trabalho sórdido fosse sacudido de sobre os ombros de todos.


Porém, exatamente nesse momento Napoleão levantou-se e, dando uma estranha olhadela de viés para Bola de Neve, soltou um guincho estridente que ninguém ouvira antes. Ouviu-se um terrível ladrido lá fora e nove cães enormes, usando coleiras com grandes tachas de bronze, entraram latindo no celeiro. Jogaram-se sobre Bola de Neve, que saltou do lugar onde estava, mal a tempo de escapar àquelas presas. Num instante, saiu porta fora com os cães em seu encalço. Espantados e aterrorizados demais para falar, os bichos amontoaram-se na porta para observar a caçada. Bola de Neve corria pelo campo em direção à estrada, como só um porco sabe correr, mas os cachorros se aproximavam. De repente ele caiu e pareceu que o apanhariam. Mas levantou-se outra vez e correu como um desesperado. E assim, ganhando algumas polegadas, enfiou-se por um buraco da sebe e sumiu.


Calados e aterrados, os animais voltaram furtivamente para dentro do celeiro. Logo chegaram os cachorros, latindo. A princípio ninguém pôde imaginar de onde tinham vindo – aquelas criaturas, mas o mistério logo se aclarou: eram os cachorrinhos que Napoleão havia tomado às mães e criado secretamente. Permaneceram junto a Napoleão e notou-se que sacudiam a cauda para ele da mesma maneira como os outros cachorros costumavam fazer para Jones (Assim temos aqui o grande golpe de Stalin, o qual nos bastidores coordenou a construção de poderosas alianças políticas militares para dominar o Partido e perseguir e expulsar os trotskistas.).


Napoleão, com os cachorros a segui-lo, subiu para o estrado, de onde o Major fizera seu discurso. Anunciou que daquele momento em diante terminariam as Reuniões dos domingos de manhã. Para o futuro, todos os problemas relacionados com o funcionamento da granja seriam resolvidos por uma comissão de porcos, presidida por ele, que se reuniria em particular e depois comunicaria suas decisões aos demais.


Os animais continuariam a reunir-se aos domingos para saudar a bandeira, cantar Bichos da Inglaterra e receber as ordens da semana; não haveria debates. Quatro jovens porcos castrados, colocados na primeira fila, soltaram altos guinchos de protesto e levantaram-se falando a um só tempo. Mas os cachorros, junto de Napoleão, soltaram um rosnado fundo e ameaçador, e os porcos calaram-se, sentando-se de novo.


Aí estrondaram as ovelhas um formidável balido de: “Quatro pernas bom, duas pernas ruim” que durou cerca de um quarto de hora, acabando com qualquer hipótese de discussão.


Garganta então ficou responsável por pintar a justificativa para a expulsão de Bola de Neve e medida tão autoritária por parte de Napoleão, e assim começou o discurso: “Camaradas, disse, tenho certeza de que cada animal compreende o sacrifício que o Camarada Napoleão faz ao tomar sobre seus ombros mais esse trabalho. Não penseis, camaradas, que a liderança seja um prazer. Pelo contrário, é uma enorme e pesada responsabilidade. Ninguém mais que o Camarada Napoleão crê firmemente que todos os bichos são iguais. Feliz seria ele se pudesse deixar-vos tomar decisões por vossa própria vontade; mas, às vezes, poderíamos tomar decisões erradas, camaradas; então, onde iríamos parar? Suponhamos que tivéssemos decidido seguir Bola de Neve com suas miragens de moinho de vento logo – Bola de Neve que, como sabemos agora, não passava de um criminoso?


“Ele lutou bravamente na Batalha do Estábulo” – disse alguém.


“Bravura não basta – respondeu Garganta. A lealdade e a obediência são mais importantes. E quanto à Batalha do Estábulo, acredito… tempo virá em que verificaremos que o papel de Bola de Neve foi um tanto exagerado. Disciplina, camaradas, disciplina férrea! Este é o lema para os dias que correm. Um passo em falso e o inimigo estará sobre nós. Por certo, camaradas, não quereis Jones de volta, hem?” Uma vez mais esse argumento era irrespondível.


Sansão, que já tivera tempo de pensar, expressou o sentimento geral: “Se é o que diz o Camarada Napoleão, deve estar certo”. Daí por diante, Sansão adotou a máxima “Napoleão tem sempre razão”, acrescentando-a ao seu lema particular “Trabalharei mais ainda”.


Após o hasteamento da bandeira, os animais deviam desfilar reverentemente perante a caveira, antes de entrar no celeiro. (Era o início de todo uma construção simbólica alienante para manter o sentimento nacional fervendo nas veias comunista da união soviética) Napoleão, Garganta e outro porco chamado Mínimus, dono de notável talento para compor canções e poemas, aboletavam-se sobre a parte fronteira da plataforma, os nove cachorros em semicírculo ao redor deles e os outros porcos atrás.


Napoleão lia as ordens da semana num áspero estilo militar e, após cantarem uma única vez Bichos da Inglaterra, os animais se dispersa-vam.


No terceiro domingo após a expulsão de Bola de Neve, os bichos ficaram um tanto surpresos ao ouvirem Napoleão anunciar que o moinho de vento seria, afinal de contas, construído. Uma comissão especial de porcos trabalhara neles durante as três últimas semanas. A construção do moinho de vento, com vários outros melhoramentos, deveria levar dois anos.


Garganta explicou aos outros bichos, em particular, que Napoleão nunca fora contra a construção do moinho de vento. Pelo contrário, ele é que advogara a ideia desde o início, e o plano que Bola de Neve havia desenhado no assoalho do galpão das incubadoras fora, na realidade, roubado de entre os papéis de Napoleão. O moinho de vento era, em verdade, criação do próprio Napoleão.


Durante o ano inteiro os bichos trabalharam feito escravos. Mas trabalhavam felizes; não mediam esforços ou sacrifícios, cientes de que tudo quanto fizessem reverteria em benefício deles próprios e dos de sua espécie. Por toda a primavera e o verão, enfrentaram uma semana de sessenta horas de trabalho e, em agosto, Napoleão fez saber que haveria trabalho também nos domingos à tarde. Esse trabalho era estritamente voluntário, porém, o bicho que não aceitasse teria sua ração diminuída pela metade.


Mesmo assim, ficou alguma coisa por fazer. A colheita foi um pouco menor do que a do ano anterior, e duas lavouras que deveriam receber mandioca no início do verão não foram plantadas por não ter sido possível ará-las a tempo.


A construção do moinho de vento apresentou dificuldades imprevistas. Quitéria às vezes recomendava-lhe que tivesse cuidado e não se esforçasse demais, mas Sansão não lhe dava ouvidos. Pediu a um dos galos que o acordasse três quartos de hora mais cedo, pela manhã.


Os bichos não passaram muito mal naquele inverno, malgrado a dureza do trabalho. Não obstante, à medida que o verão passava começou a se fazer sentir alguma escassez, imprevista. Houve falta de coisas que não podiam ser fabricadas na granja. Mais tarde, faltaram também sementes e adubo artificial, além de vários tipos de ferramentas e, finalmente, a maquinaria para o moinho de vento. Como obter tudo isso, ninguém conseguia imaginar.


Um domingo de manhã, quando os bichos se reuniram para receber as ordens, Napoleão anunciou sua decisão de encetar uma nova política. A partir daquele dia, a Granja dos Bichos passaria a comerciar com as da vizinhança; naturalmente, sem qualquer objetivo de lucro, mas com o fito único de obter algumas mercadorias urgentemente necessárias.


Ele estava tratando da venda de uma grande meda de feno e de parte da safra de trigo daquele ano; mais tarde, caso fosse necessário mais dinheiro, este teria de ser obtido com a venda de ovos, para os quais sempre havia mercado em Willingdon.


Nunca realizar quaisquer contatos com seres humanos, nunca fazer comércio, jamais utilizar dinheiro – essas coisas não estavam entre as primeiras resoluções passadas naquela formidável Reunião inicial se questionaram os bichos da granja.


Porém Garganta, ou seja, o porta voz, a imprensa controlada pelo governo, que assim podemos dizer, procurou logo de trazer as explicações sobre tal decisão, informando que Napoleão, pretendia tomar sobre seus ombros toda essa carga. Um certo Sr. Whymper, que era procurador em Willingdon, concordara em atuar como intermediário entre a Granja dos Bichos. E lhes assegurou que tal resolução, contra o engajamento no comércio e o uso de dinheiro, jamais fora aprovada, aliás nem sequer apresentada.


Provavelmente este procurador que se refere Orwell seja Maxim Litvinov, um diplomata soviético que serviu como Comissário do Povo para os Negócios Estrangeiros da União Soviética entre 1930 e 1939. Ele desempenhou um papel importante na diplomacia soviética durante o período entre as duas guerras mundiais e nas negociações comerciais e acordos entre a União Soviética e outras nações, incluindo os Estados Unidos e a Grã-Bretanha.


“Vocês estão certos de que não sonharam com isso? Afirmava Garganta. Existe algum registro dessa resolução? Está escrita em algum lugar?” E uma vez que, realmente, não existia escrito nada parecido com isso, os animais se convenceram de seu engano.


As relações com o gênero humano andavam bem diferentes. Os humanos não odiavam menos a Granja dos Bichos, agora que ela prosperava; na realidade, odiavam-na mais do que nunca. Até agora, exceto por intermédio de Whymper, nenhum contato houvera entre a Granja dos Bichos e o mundo exterior, mas já circulavam insistentes boatos de que Napoleão estava por chegar a um decisivo acordo de negócios, ora com Pilkington, de Foxwood, ora com Frederick, de Pinchfield


Foi mais ou menos por essa época que os porcos, de repente, mudaram-se para a casa-grande, onde fixaram residência. Era absolutamente necessário que os porcos, disse ele, sendo os cérebros da granja, tivessem um lugar calmo onde trabalhar.


Mesmo assim, alguns animais se aborreceram ao ouvir dizer que os porcos não só faziam as refeições na cozinha e utilizavam a sala como local de recreação, e ainda dormiam nas camas.


Quitéria, que tinha a impressão de lembrar-se de uma lei específica contra camas, foi chamar Maricota. “Maricota – pediu ela – leia para mim, por favor, o Quarto Mandamento. Não diz qualquer coisa a respeito de nunca dormir em camas?” Com alguma dificuldade, Maricota soletrou o mandamento: “Diz que: „Nenhum animal dormirá em cama com lençóis‟.”


Quitéria não se recordava dessa menção a lençóis, no Quarto Mandamento. Mas, se estava escrito na parede, devia haver.


Garganta que por acaso passava nesse momento, acompanhado de dois cachorros, colocou todo o assunto na perspectiva adequada.


Vocês não supunham, por certo, que houvesse uma lei contra camas, não é? A cama é meramente o lugar onde se dorme. Vendo bem, um monte de palha no estábulo é uma cama. A lei era contra os lençóis, que são uma invenção humana.


Nós retiramos os lençóis das camas da casa e dormimos entre cobertores. E quando se anunciou, alguns dias depois, que os porcos passariam a levantar-se, de manhã, uma hora mais tarde do que os outros bichos, ninguém se queixou disso também.


Ao chegar o outono, os animais andavam cansados, mas felizes. Haviam tido um ano difícil, e após a venda de uma parte da safra de feno e de trigo, os estoques para o inverno não eram lá muito abundantes, mas o moinho de vento compensava tudo.


Porém, houve uma noite em que a tormenta foi tão forte que os galpões da granja tremeram na base e várias telhas do celeiro foram arrancadas, e uma visão terrível se apresentava aos seus olhos: o moinho de vento estava em ruínas.


Napoleão andava lentamente de um lado para outro, em silêncio, ocasionalmente farejando o chão, aqui e ali.


“Camaradas – disse lentamente – quem é o responsável por isto? Sabem quem foi o inimigo que, na calada da noite, destruiu nosso moinho de vento? BOLA DE NEVE! – rugiu violentamente com voz de trovão. – Bola de Neve foi o autor disto! Pronuncio a sentença de morte para Bola de Neve. Darei uma medalha „Herói Animal, Segunda Classe‟ e meio balde de maçãs ao animal que lhe fizer justiça. Um balde inteiro a quem o capturar vivo!” “Não percamos tempo, camaradas! – bradou Napoleão, depois de examinar detidamente as pegadas. – Temos muito trabalho pela frente.


Mostraremos a esse traidor miserável que ele não pode desfazer nosso trabalho assim tão facilmente. Lembrem-se, camaradas, não deve haver modificações em nossos planos: serão cumpridas à risca. Para a frente, camaradas! Viva o moinho de vento! Viva a Granja dos Bichos!”


Semanas se passaram e aquele inverno foi horrível. Algum progresso se conseguiu depois, no tempo gelado e seco que se seguiu, mas foi um trabalho cruel, e os animais já não o realizavam com a mesma esperança de antes. Garganta fazia excelentes discursos sobre a alegria e a dignidade do trabalho, mas os animais encontravam maior inspiração na força de Sansão e no seu indefectível brado “Trabalharei mais ainda!”


Em janeiro, a comida diminuiu. A ração de milho foi drasticamente reduzida e anunciou-se que uma ração extra de batata seria entregue em seu lugar. Descobriu-se então que a maior parte da colheita de batatas estava congelada nas pilhas, não suficientemente protegidas. Moles e descoradas, poucas continuavam comíveis. Durante dias seguidos, os bichos não tiveram senão palha e beterraba para comer.


Os humanos andavam renovando mentiras sobre a Granja dos Bichos. Mais uma vez se dizia que os bichos morriam de fome e doenças. E assim, Napoleão resolveu utilizar o Sr. Whymper para divulgar uma impressão contrária. Até então, os animais tinham tido muito pouco ou nenhum contato com Whymper, em suas visitas semanais: agora, entretanto, alguns bichos selecionados, principalmente ovelhas, foram instruídos para comentarem, casualmente, mas de forma bem audível, o fato de terem sido aumentadas as rações.


Napoleão deu ordens para que as tulhas do depósito, que estavam quase vazias, fossem recheadas de areia quase até a boca, depois completadas com cereais e farinha. A um pretexto qualquer Whymper foi conduzido através do depósito e pôde dar uma olhadela nas tulhas.


Não obstante, no fim de janeiro, tornou-se positiva a necessidade de conseguir-se mais cereais em algum lugar. Naqueles dias Napoleão raramente apareceu em público, passando o tempo todo no casarão, guardado por um cão mal-encarado em cada porta.


Certa manhã de domingo, Garganta anunciou que as galinhas, que recentemente haviam começado a pôr, deveriam entregar-lhe seus ovos, pois Napoleão assinara, por intermédio de Whymper, um contrato de fornecimento de quatrocentos ovos por semana. O preço destes pagaria, em cereais e farinha, o bastante para manter a granja até que chegasse o verão e as condições do tempo melhorassem.


Como preparavam suas ninhadas de ovos para a chocagem da primavera, protestaram dizendo que tomar-lhes os ovos, agora, era um crime. Pela primeira vez, desde a expulsão de Jones, aconteceu algo parecido com uma rebelião. Napoleão agiu rápida e implacavelmente. Cortou a ração das galinhas e decretou que o bicho que fosse apanhado dando a elas um grão sequer de alimento seria condenado à morte. Os cachorros fiscalizavam a execução da ordem. As galinhas resistiram por cinco dias, depois capitularam e voltaram para os ninhos.


Nove haviam morrido. Seus corpos foram enterrados no pomar e, segundo se disse, a causa da morte foi a coccidiose (causada por um parasita).


Whymper aconselhara Napoleão a vender um monte de madeira feita a 10 anos atrás, que se encontrava no pátio, pois tanto Pilkington como Frederick desejavam comprá-la. E Napoleão sinalizou positivamente para ideia.


Subitamente, no início da primavera, descobriu-se um fato delirante alarmante. Bola de Neve estava frequentando a granja à noite, secretamente! Os bichos ficaram tão preocupados que mal podiam dormir em seus estábulos. Todas as noites, dizia-se, ele se esgueirava nas sombras e perpetrava um cem número de maldades Roubava milho, entornava baldes de leite, quebrava ovos. Sempre que algo errado aparecia, o culpado era Bola de Neve. Uma janela quebrada, um dreno entupido, e alguém com certeza diria que Bola de Neve viera à noite e fizera.


E assim se seguiram, os ratos, por incomodarem muito durante o inverno, foram taxados de aliados de Bola de Neve. Neste ponto aqui quero introduzir uma opinião pessoal minha, mas acho muito válida: Os ratos no início da revolução foram aceitos como camaradas, embora considerados bichos selvagens, e posteriormente, Napoleão muda de ideia e condena os ratos como inimigos acusando de apoiar Bola de Neve, na minha opinião os ratos seria a Iugoslávia, pois eles inicialmente mantiveram relações amigáveis com Stalin. No entanto, essas relações se deterioraram ao longo do tempo devido a uma série de fatores, incluindo disputas ideológicas, rivalidades de liderança e questões de política externa. Em 1948, a Iugoslávia foi expulsa do Cominform, que era uma organização internacional de partidos comunistas controlada pela União Soviética. Essa ação representou uma ruptura oficial entre a União Soviética e a Iugoslávia.


Depois deste evento, Napoleão decretou uma ampla investigação sobre as atividades de Bola de Neve. “Camaradas – gritou, fazendo trejeitos nervosos – descobrimos uma coisa pavorosa. Bola de Neve vendeu-se a Frederick, diante do exílio de Trotsky na América do Norte, no México, da Granja Pinchfield, que neste mesmo instante está planejando atacar-nos e tomar nossa granja! Bola de Neve será o guia, quando o ataque começar. Bola de Neve era aliado de Jones desde o início! Foi, o tempo todo, agente de Jones.


Os bichos ouviam estupefatos. Isto era um crime muitíssimo maior do que ter destruído o moinho de vento. Até Sansão, que raras vezes fazia perguntas, ficou confuso. “Não acredito – disse. – Bola de Neve lutou bravamente na Batalha do Estábulo.


“Esse foi o nosso erro, camaradas. Pois agora sabemos, e está tudo escrito nos documentos encontrados: havia a combinação de Bola de Neve dar o sinal de retirada no momento crítico e abandonar o terreno ao inimigo. E ele quase conseguiu isso, posso dizer até que teria conseguido, se não fosse o nosso heroico Líder, o Camarada Napoleão. Camarada Napoleão surgiu proferindo o brado de „Morte à Humanidade!‟ e fincou os dentes na perna de Jones? Por certo vocês se lembram disso, não é, camaradas?


Sansão, porém, ainda permanecia um tanto contrafeito. “Não acredito que Bola de Neve fosse um traidor desde o começo – disse por fim.


Porém, todos notaram a olhadela feia que deu para Sansão, com seus olhos matreiros. Depois virou-se para ir embora, mas se deteve e acrescentou de maneira impressionante: “Alerto a todos os animais desta fazenda para que mantenham os olhos bem abertos. Temos motivos para pensar que alguns dos agentes secretos de Bola de Neve estão ocultos entre nós neste momento!”


Quatro dias depois, à tardinha, Napoleão mandou que os bichos se reunissem no pátio. Quando todos haviam comparecido, Napoleão emergiu do Casarão, ostentando ambas as suas medalhas com seus nove cachorros fazendo demonstrações à sua volta e soltando rosnados que causavam calafrios nas espinhas dos animais.


Napoleão parou e dirigiu um olhar severo à assistência; depois deu um guincho estridente. Imediatamente os cachorros avançaram, pegando quatro porcos pelas orelhas e arrastando-os a guinchar, de dor e terror, até os pés de Napoleão.


O gosto do sangue pareceu enlouquecer os cachorros. Para surpresa de todos, três deles lançaram-se sobre Sansão. Este reagiu com um pataço que pegou um dos cachorros ainda no ar, jogando-o ao solo. Sansão olhou para Napoleão para saber se devia liquidar o cachorro ou deixá-lo ir. Napoleão pareceu mudar de ideia e rispidamente ordenou a Sansão que o soltasse.


Eram os mesmos que haviam protestado quando Napoleão abolira as Reuniões dominicais.

confessaram ter realizado contatos secretos com Bola de Neve desde o dia de sua expulsão e haver colaborado com ele na destruição do moinho de vento; confessaram ainda que também haviam-se comprometido com ele a entregar a Granja dos Bichos a Frederick.


Ao fim da confissão, os cachorros estraçalharam-lhes a garganta e, com voz terrível, Napoleão perguntou se algum outro animal tinha qualquer coisa a confessar.


As três galinhas que haviam liderado a tentativa de reação a respeito dos ovos aproximaram-se e declararam que Bola de Neve lhes aparecera em sonho, instigando-as a desobedecerem as ordens de Napoleão. Também foram degoladas.


Foram mortas ali mesmo. E assim prosseguiu a sessão de confissões e execuções, até haver um montão de cadáveres aos pés de Napoleão e no ar um pesado cheiro da sangue, coisa que não sucedia desde a expulsão de Jones.


Quando tudo acabou, os bichos sobreviventes, com exceção dos porcos e dos cachorros, retiraram-se furtivamente, trêmulos e angustiados.


Jones deixara a fazenda, até aquele dia, nenhum animal matara outro animal. Nem sequer um rato fora morto.


Procurando aquecer uns aos outros – Quitéria, Maricota, Benjamim, as vacas, as ovelhas e todo o bando de gansos e galinhas, todos eles, afinal, exceto o gato, que desaparecera de repente, ao chegar a ordem de Napoleão para a reunião.


Como dissemos anteriormente, o gato representa a classe privilegiada e as organizações e pessoas que buscam apenas seu próprio interesse, muitas vezes à custa dos outros, sejam por meio da corrupção ou pela prática de crimes, mas que contam com uma relação conveniente e amistosa com estes regimes autoritários e totalitários.


Sansão permanecia de pé. Andava impaciente, sem conseguir assimilar tudo, finalmente disse: “Não entendo. Nunca pensei que coisas assim pudessem acontecer em nossa granja. Deve ser o resultado de alguma falha nossa. A solução que vejo é trabalhar mais ainda. Daqui por diante, vou levantar uma hora mais cedo.”


Olhando pela encosta da colina, Quitéria ficou com os olhos cheios de água. Se pudesse exprimir seus pensamentos, diria que aquilo não era bem o que pretendiam ao se lançarem, anos atrás, ao trabalho de derrubar o gênero humano.


Em vez disso – não podia compreender por que – haviam chegado a uma época em que ninguém ousava dizer o que pensava, em que os cachorros rosnantes e malignos perambulavam por toda parte e a gente era obrigada a ver camaradas feitos em pedaços após confessarem os crimes mais horríveis. Acontecesse o que acontecesse, ela permaneceria fiel, trabalharia bastante, cumpriria as ordens recebidas e aceitaria a liderança de Napoleão. (este era justamente o papel da classe operária e dos camponeses que a muito tempo haviam se juntado contra o czar, mas que agora viu-se perdida e sem forças em um regime ainda pior e angustiante, restando apenas seguir as ordens e manter-se quieto se quisesse viver - este período narrado por Orwell representa a Repressão Política e Grande Expurgo na década de 30, em que sob o regime de Stalin, houve uma repressão brutal contra opositores políticos, intelectuais e qualquer um considerado uma ameaça ao governo. Isso culminou no Grande Expurgo, uma campanha de repressão política que resultou em milhões de mortes e prisões.)


Os outros animais, sentados em volta de Quitéria, foram aderindo e cantaram a canção três vezes – bem na melodia, mas lenta e tristemente como nunca haviam cantado antes.


Mal haviam terminado de cantar a terceira vez, apareceu Garganta, seguido de dois cachorros, com ar de quem tem coisa muito importante a dizer. Anunciou que, por decreto especial do Camarada Napoleão, a canção Bichos da Inglaterra fora abolida. Daquele momento em diante, era proibido cantá-la.


“Por quê?” exclamou Maricota. “Não há necessidade, camaradas – respondeu Garganta inflexivelmente – Bichos da Inglaterra era a canção da Revolução. Mas a Revolução agora está concluída. A execução dos traidores, hoje à tarde, foi o ato final. Em Bichos da Inglaterra expressávamos nosso anseio por uma sociedade melhor, no porvir. Ora, essa sociedade já foi instituída. Evidentemente, o hino não tem mais valor algum.”


Em seu lugar, Mínimus, o poeta, compusera outra canção que começava dizendo: Granja dos Bichos, Granja dos Bichos, Jamais te farão mal! e isto passou a ser cantado todos os domingos após o hasteamento da bandeira.


Sexto Mandamento rezava: “Nenhum animal matará outro animal.” Embora ninguém o mencionasse ao alcance dos ouvidos dos porcos ou dos cachorros, parecia-lhes que a matança ocorrida não se ajustava muito bem com isso. Maricota leu para Quitéria o Sexto Mandamento e ele dizia: “Nenhum animal matará outro animal, sem motivo.” De uma ou outra maneira, as duas últimas palavras haviam escapado à memória dos bichos. Logo, o Sexto Mandamento não fora violado; sim, pois, evidentemente, havia boas razões para matar os traidores que se haviam aliado à Bola de Neve.


Os bichos, embora não falassem abertamente, tinham a sensação de que estavam trabalhando mais do que no tempo de Jones, sem se alimentarem melhor. Nos domingos de manhã, Garganta, segurando uma comprida folha de papel, lia, para eles relações de estatísticas comprobatórias de que a produção de todas as classes de gêneros alimentícios aumentara de duzentos, trezentos por cento… Os bichos não viam razão para desacreditá-lo, especialmente porque já não conseguiam lembrar-se com clareza das exatas condições de antes da Revolução.


Mesmo assim, dias havia em que prefeririam ter menos estatísticas e mais comida.


Napoleão não era visto em público mais do que uma vez a cada quinze dias. E, quando aparecia, era acompanhado, não só pela sua matilha de cães, mas também por um garnisé preto que marchava à sua frente, atuando como arauto, soltando um cocoricó antes de cada fala de Napoleão. Ele habitava um apartamento separado dos demais. Fazia as refeições sozinho, com dois cachorros para servi-lo, e comia no serviço de jantar de porcelana da cristaleira da sala.


Agora já não mencionavam Napoleão como “Napoleão” simplesmente. Referiam-se a ele de maneira formal, como “nosso Líder, o Camarada Napoleão”, e os porcos gostavam de inventar para ele títulos tais como Pai de Todos os Bichos, Terror da Humanidade, Protetor dos Apriscos. Seus discursos, com lágrimas rolando pelo focinho, falava na sabedoria de Napoleão, na bondade de seu coração, no profundo amor que devotava aos animais de todos os lugares. Tomara-se usual atribuir a Napoleão o crédito de todos os êxitos e de todos os golpes de sorte. Frequentemente, uma galinha comentar para outra: “Sob a orientação de nosso Líder, o Camarada Napoleão, pus cinco ovos em seis dias”; ou duas vacas, bebendo juntas no açude, exclamarem: “Graças à liderança do Camarada Napoleão, que gosto bom tem esta água!”


Napoleão aprovou um poema intitulado “O Camarada Napoleão”, composto por Mínimus, e esse poema foi escrito no grande celeiro, na parede oposta àquela onde estavam os Sete Mandamentos. Sobre ele foi colocado um retrato de Napoleão de perfil, feito por Garganta.


Enquanto isso, por intermédio de Whymper, Napoleão envolve-ra-se em negociações complicadíssimas com Frederick e Pilkington.


Em meio ao verão correu entre os animais a notícia alarmante de que três galinhas se haviam apresentado confessando que, instigadas por Bola de Neve, haviam conspirado para assassinar Napoleão. Quatro cachorros passaram a montar guarda junto à sua cama, durante a noite, um em cada canto, e um jovem porco de nome Rosito recebeu a tarefa de provar a comida, para evitar que ele fosse envenenado.


Foi anunciado que Napoleão acertara vender as pilhas de madeira ao Sr. Pilkington; ia assinar também um acordo regular para a troca de certos produtos entre a Granja dos Bichos e Foxwood.


Diante disso, crescia o sentimento de ódio com relação a Frederick. Certo domingo de manhã, Napoleão apareceu no celeiro e declarou que jamais, em tempo algum, admitiria vender as pilhas de madeira a Frederick; considerava abaixo de sua dignidade, disse, fazer negócios com patifes daquela espécie. Os pombos, que continuavam a espalhar as mensagens da Revolução, foram proibidos de pôr os pés em qualquer ponto de Foxwood e receberam ordem de modificar seu slogan de “Morte à Humanidade” para “Morte a Frederick”.


A lavoura de trigo estava cheia de joio e descobriu-se que Bola de Neve havia misturado sementes de joio às do trigo. Um ganso que tomara parte no feito confessou sua culpa a Garganta e suicidou-se. Ficaram sabendo também que Bola de Neve jamais havia recebido, como pensavam muitos até então, a comenda de “Herói Animal, Primeira Classe”. Era apenas uma lenda, criada algum tempo depois da Batalha do Estábulo pelo próprio Bola de Neve.


Meses após um trabalho árduo, Napoleão em pessoa, acompanhado dos seus cachorros e do seu garnisé, veio inspecionar o trabalho concluído; congratulou-se com os animais pelo feito e anunciou que o moinho se chamaria “Moinho Napoleão”.


E ficaram abobados de surpresa quando Napoleão comunicou ter vendido a madeira a Frederick. No dia seguinte, os caminhões de Frederick chegariam para o carregamento. Durante todo o período de aparente amizade com Pilkington, Napoleão na realidade negociara um acordo secreto com Frederick. Todas as relações com Foxwood foram cortadas e enviadas a Pilkington mensagens insultuosas.


Os pombos receberam ordem de não pousar mais na Granja Pinchfield e mudar o slogan de “Morte a Frederick” para “Morte a Pilkington”. Ao mesmo tempo, Napoleão assegurou a todos que as histórias sobre o iminente ataque à Granja dos Bichos eram inteiramente falsas e que os boatos a respeito da crueldade de Frederick para com os animais eram muito exagerados, coisa de Bola de Neve e seus agentes.


Napoleão recostou-se numa cama de palha, com o dinheiro a seu lado, cuidadosamente empilhado numa travessa da cozinha da casa-grande. Os animais passavam lentamente em fila e cada um olhava o tempo que quisesse. Três dias mais tarde, houve um deus-nos-acuda. Whymper, branco como cera, chegou afobado com sua bicicleta,


As notas eram falsas! Frederick levara a madeira de graça! Napoleão imediatamente chamou os animais e com um vozeirão de arrepiar proclamou a sentença de morte contra Frederick. Ao ser capturado, disse, Frederick seria queimado vivo.


O embate se acirrou, e numa manhã seguinte sobreveio o ataque. Os animais estavam fazendo a refeição matinal, quando as sentinelas chegaram correndo com a notícia de que Frederick e seus seguidores já haviam atravessado a porteira das cinco barras. Corajosamente, os bichos saíram ao seu encontro, mas desta vez não obteriam uma vitória fácil como a da Batalha do Estábulo. Eram quinze homens, com meia dúzia de espingardas, e abriram fogo tão logo chegaram a cinquenta metros.


Os animais não puderam fazer frente à saraivada de balas e, a despeito dos esforços de Napoleão e Sansão para fazê-los voltar à luta, retrocederam. Muitos já estavam feridos. Refugiaram-se no casario da granja e ficaram olhando prudentemente pelos buracos.


Até Napoleão estava perplexo. Caminhava de um lado para o outro, sem proferir palavra. Se Pilkington e seus homens os ajudassem, ainda poderiam ganhar a parada. Um pedaço de papel da parte de Pilkington retornou com os pombos, com as palavras “Bem feito”.


Os homens iam botar abaixo o moinho de vento. “Impossível – exclamou Napoleão. – As paredes são grossas demais para isso. Nem em uma semana conseguirão. Coragem, camaradas.”


Sansão aterrorizando disse: “Exatamente o que eu supunha. Vocês não veem o que eles estão fazendo? Daqui a pouco vão colocar explosivos naquele buraco.”


Um brado de vingança subiu aos ares; sem esperar ordens, reuniram-se e, como um só corpo, lançaram-se contra o inimigo. Desta vez não fugiram às balas cruéis que caíam sobre eles, em saraivadas.


Os homens atiraram várias vezes e quando os animais os alcançaram foi aquela pancadaria em todas as direções, com porretes e tacões de bota. Frederick gritou a seus homens que se retirassem enquanto havia passagem, e em seguida o inimigo fugia acovardado para salvar a vida.


Haviam vencido, mas estavam feridos e sangravam. Lentamente, começaram a voltar para a granja. A vista dos camaradas mortos, estirados sobre a relva, comoveu alguns até às lágrimas. A força da explosão as arremessara o moinho a centenas de metros. Era como se o moinho jamais houvesse existido.


Ao se aproximarem do sítio, Garganta, que estava inexplicavelmente ausente da luta, veio-lhes ao encontro, sacudindo o rabicho e guinchando de satisfação. “A troco de quê está atirando aquela arma?” perguntou Sansão.


Vitória Respondeu Garganta.


“Vitória. Que vitória?” – gritou Sansão.


“Você pergunta que vitória, camarada? Mas então não expulsamos o inimigo do nosso solo, do solo sagrado da Granja dos Bichos?”


“Mas eles destruíram o moinho de vento. Nosso trabalho de dois anos!”


“Que importa? Construiremos outro moinho de vento. Construiremos meia dúzia de moinhos de vento, se quisermos.


E agora, graças à liderança do Camarada Napoleão, nós o ganhamos centímetro por centímetro!”


“Quer dizer, ganhamos o que já era nosso” retrucou Sansão.


“Essa foi a nossa vitória” insistiu Garganta.


Coxearam até o pátio. As balas, sob o couro de Sansão, aferroavam dolorosamente. Ele enxergava à sua frente a pesada tarefa de reconstruir o moinho de vento e, mesmo em imaginação, já se atirava ao trabalho.


O discurso que Napoleão fez congratulando-se com a atuação deles, pareceu-lhes que, afinal de contas, haviam obtido uma grande vitória. Os animais caídos na batalha tiveram funerais solenes. Napoleão havia criado uma nova comenda, a Ordem da Bandeira Verde, que conferira a si próprio. Em meio ao regozijo geral, o assunto das notas de dinheiro foi esquecido.


Os porcos encontraram, na adega da casa-grande, uma caixa de uísque.


Naquela noite chegou da casa o som de uma cantoria em que, para surpresa de todos, se ouviam trechos de Bichos da Inglaterra. Mais ou menos às nove e meia da noite, Napoleão, usando um velho chapéu coco de Jones. E a festa pareceu se estender dentro da casa dos porcos.


Na manhã seguinte, um silêncio profundo tomara conta da casa. Ao que parecia, nenhum porco estava de pé.


Garganta, vacilante e deprimido, com os olhos embaçados o rabicho mole, com um aspecto seriamente doentio. Chamou todo mundo e disse que tinha péssimas notícias para dar. O Camarada Napoleão estava à beira da morte!


Correu o boato de que Bola de Neve afinal conseguira envenenar a comida de Napoleão. As onze, Garganta saiu de novo para fazer outra proclamação. Como último ato sobre a terra, o Camarada Napoleão expedira o seguinte decreto: a ingestão de álcool seria punida com a morte.


Já à noite, Napoleão parecia um pouco melhor e na manhã seguinte Garganta pôde anunciar sua franca recuperação.


Uma semana depois, Napoleão deu ordem que fosse arado o pequeno potreiro atrás do pomar, anteriormente destinado ao repouso dos animais aposentados. Espalhou-se que a pastagem estava cansada e necessitava de uma nova semeadura, porém logo se soube que Napoleão pretendia semeá-la com cevada.


Certa noite, à meia-noite mais ou menos, ouviu-se um ruído de queda no pátio. Ao pé da parede do fundo do grande celeiro, na qual estavam escritos os Sete Mandamentos, encontraram uma escada quebrada em dois pedaços. Garganta, momentaneamente aturdido, jazia estatelado junto a ela. Os bichos não conseguiam fazer sequer ideia do que significava aquilo, exceto Benjamim. Alguns dias mais tarde, Maricota, lendo os Sete Mandamentos, notou.


Todos pensavam que o Quinto Mandamento era “Nenhum animal beberá álcool”, mas haviam esquecido duas palavras. Na realidade, o Mandamento dizia: “Nenhum animal beberá álcool em excesso.”


A rachadura da batalha do casco de Sansão levou muito tempo para cicatrizar. Sansão recusou-se a aceitar um só dia de dispensa e fez questão de honra em não dar mostras da dor que sofria. Explicava só tinha uma ambição – ver o moinho de vento Concluído antes de aposentar-se.


Pensões liberais se estabeleceram para os animais idosos. Até então, nenhum bicho se aposentara, mas ultimamente o assunto vinha sendo objeto de frequentes conversas. Como o potreiro atrás do pomar fora semeado com cevada, dizia-se agora que um canto da pastagem grande seria cercado e reservado para os velhos. A pensão seria de dois quilos e meio de milho por dia e, no inverno, oito quilos de feno, mais uma cenoura,


A vida era dura. O inverno foi tão frio quanto o anterior, e a quantidade de alimento ainda menor. Novamente foram reduzidas todas as rações, exceto as dos porcos e dos cachorros. Uma igualdade por demais rígida em matéria de rações, explicou Garganta, seria contrária ao espírito do Animalismo. Lendo os dados estatísticos em voz aguda e rápida, provou-lhes, com riqueza de detalhes, que eles recebiam mais aveia, mais feno e mais do que na época de Jones; que trabalhavam muito menos, que a água potável era de melhor qualidade, que viviam mais tempo, que havia mais palha nas baias e que as pulgas já não incomodavam tanto. Os animais acreditavam em cada palavra.


Sem dúvida, antigamente fora muito pior. Gostavam de acreditar nisso. Além do mais, naqueles dias eram escravos, ao passo que, agora, eram livres; e tudo isso, afinal, fazia diferença, conforme Garganta sempre dizia.


Enquanto isso, quatro porcas haviam dado cria quase simultaneamente – trinta e um leitõezinhos ao todo. E não era difícil de presumir que fosse de Napoleão, então, logo foi proclamado que, mais tarde, quando comprassem tábuas e tijolos, seria construída uma escola no jardim da casa. Por enquanto, os leitões seriam instruídos pelo próprio Napoleão, na cozinha. Faziam seus exercícios no jardim e eram aconselhados a não brincar com os filhotes dos outros animais.


Estabeleceu-se que, quando um porco e outro animal se encontrassem numa trilha, o outro animal cederia a passagem; e também que os porcos, qualquer que fosse seu grau hierárquico teriam o direito de usar fitas vermelhas no rabicho aos domingos.


A granja tivera um ano bem sucedido, mas faltava dinheiro. Era necessário comprar tijolos, areia e cal para a escola, e economizar outra vez para a maquinaria do moinho de vento. Além disso, havia ainda necessidade de querosene para os lampiões e velas para a casa, açúcar para a mesa de Napoleão.


Venderam uma meda de feno e parte da colheita de batatas, e o contrato de fornecimento de ovos foi aumentado para seiscentos por semana, de forma que as galinhas naquele ano mal puderam chocar um número de ovos, que as mantivesse no mesmo nível.


As rações, já reduzidas em dezembro, sofreram nova redução em fevereiro, e foram proibidos os lampiões nos estábulos, a fim de economizar querosene. Os porcos, entretanto, pareciam bastante bem, pelo menos ganhavam sempre alguns quilinhos. Uma tarde, em fins de fevereiro, correu pelo pátio, proveniente da cozinha, um cheiro gostoso, suculento, quentinho, como nunca os animais haviam sentido antes. Alguém disse que era cheiro de cevada cozida.


Mas não apareceu fervido nenhum no jantar e no domingo seguinte foi comunicado que toda a cevada passaria a ser reservada para os porcos.


Logo transpirou a notícia de que cada porco estava recebendo diariamente, a ração de meia garrafa de cerveja, sendo que Napoleão recebia meio galão e era servido na terrina da baixela de porcelana.


Havia mais canções, mais discursos, mais desfiles. Napoleão determinara que uma vez por semana houvesse uma coisa chamada Manifestação Espontânea, cuja finalidade era comemorar as lutas e triunfos da Granja dos Bichos. Na hora marcada os animais deviam abandonar o trabalho e desfilar pelo terreno da granja, em formação militar, os porcos à frente, depois os cavalos, depois as vacas, depois as ovelhas e, por último, as aves.


De modo geral, porém, os bichos gostavam daquelas celebrações. Achavam confortador serem relembrados de que, afinal, não tinham patrões e todo trabalho que enfrentavam era em seu próprio benefício. Conseguiam esquecer que estavam de barriga vazia, pelo menos a maior parte do tempo.


Em abril, a Granja dos Bichos foi proclamada República e houve necessidade de eleger um Presidente. Apareceu um só candidato, Napoleão, que foi eleito por unanimidade. Nesta época, notificou-se a descoberta de novos documentos, que revelavam mais detalhes sobre a cumplicidade de Bola de Neve com Jones.


Para o Partido, fora ele o verdadeiro líder das forças humanas e jogara-se à batalha com as palavras “Viva a Humanidade!”. Os ferimentos em suas costas, que alguns poucos bichos lembravam-se de ter visto, haviam sido causados pelos dentes de Napoleão.


Em meio ao verão, Moisés, o corvo, reapareceu inesperadamente na granja, após uma ausência de vários anos. Continuava o mesmo, não trabalhava e contava as histórias de sempre a respeito da Montanha de Açúcar no plano espiritual.


Muitos bichos acreditavam. Suas vidas atualmente eram de fome e de trabalho, raciocinavam; era justo que lhes estivesse reservado um mundo melhor, mais além? Coisa difícil de determinar era a atitude dos porcos, com relação a Moisés.


Eles afirmavam peremptoriamente que as histórias sobre a Montanha de Açúcar não passavam de pura mentira; no entanto, deixavam-no permanecer na granja, sem trabalhar, e ainda por cima com direito a um copo de cerveja por dia.


Depois que o casco ficou bom, Sansão trabalhou mais violentamente do que nunca. Tinha-se a impressão de que apenas a vontade o mantinha de pé. Nesses momentos seus lábios formavam claramente as palavras “Trabalharei mais ainda”; não emitia qualquer som. Novamente Quitéria e Benjamim o aconselharam, porém ele não deu atenção.


Certa noite, no verão, correu a súbita notícia de que algo acontecera a Sansão - Ele estava caído! – Não conseguia levantar-se!”


Corria-lhe da boca um filete de sangue. Quitéria ajoelhou-se ao seu lado. “Sansão – chamou ela – você está bem?”


“É o meu pulmão, disse ele quase sem voz. Não tem importância. Vocês terminarão o moinho sem mim. Já deixei bastante pedra aí. De qualquer maneira só me restava um mês de atividade.


Garganta apareceu, cheio de simpatia e preocupação. Disse que o Camarada Napoleão tomara conhecimento, abaladíssimo, do mal que sucedera a um dos trabalhadores mais leais da granja, e já estava tratando de enviar Sansão para tratar-se no hospital em Willingdon.


Durante os dois dias seguintes, Sansão permaneceu na baia. Os porcos enviaram uma garrafa contendo um remédio cor-de-rosa, encontrado no armarinho do banheiro, e Quitéria servia-o.


No dia seguinte, era a primeira vez na vida que viam Benjamim excitado – para falar a verdade era a primeira vez que alguém o via galopar. “Depressa, depressa! – gritou. – Venham depressa! Estão levando Sansão!”


Os bichos se apinharam ao redor do carroção. “Até breve, Sansão! gritaram. – Até breve!” “Idiotas! Idiotas! – exclamou Benjamim. Imbecis! Não vêem o que está escrito ali ao lado?


Benjamim empurrou-a para um lado e leu em meio a grande silêncio: “Alfred Simmonds, Matadouro de Cavalos, Fabricante de Cola, Willingdon. Peles e Farinha de Ossos. Fornece para Canis. Será que vocês não percebem? Vão levar Sansão para o carniceiro!”


O homem da boleia estalou o chicote e os cavalos saíram a trote vivo, abandonando o pátio. Os bichos correram atrás, gritando com todas as forças.


Quitéria tentou fazer com que suas pernas grossas galopassem e conseguiu um trotezinho. “Sansão! – gritou ela. – Sansão! Sansão! Sansão!”


“Sansão! – berrou Quitéria desesperadamente. – Sansão! Saia daí! Saia depressa! Estão levando-o para a morte!” Sansão transformaria aquela carroça num monte de lenha. Mas, a sua força o abandonara; em poucos instantes, o som das batidas diminuiu e morreu. Desesperados, os animais suplicaram aos dois cavalos que puxavam o carroção para que se detivessem. “Camaradas!


Porém os brutos estúpidos, ignorantes demais para entenderem o que acontecia, limitaram-se a murchar as orelhas e apertar o passo.


Sansão nunca mais foi visto.


Três dias mais tarde, chegou a notícia de que havia falecido no hospital veterinário de Willingdon, a despeito de ter recebido todos os cuidados que um cavalo merece. Garganta veio dar a notícia.


Ele sussurrou ao meu ouvido que seu único pesar era morrer antes de ver terminado o moinho de vento. „Para a frente, camaradas! Viva a Granja dos Bichos! Viva o Camarada Napoleão! Avante em nome da Revolução! Napoleão tem sempre razão.‟ Estas foram suas últimas palavras, camaradas.”


Assim, Garganta gritou indignado, sacudindo o rabicho e dando pulinhos, com certeza todos conheciam seu amado Líder, o Camarada Napoleão, não? A explicação era muito simples. A carroça pertencera, antes, ao carniceiro, depois fora comprado pelo cirurgião veterinário, que ainda não apagara letreiro. Eis como se dera o engano.


Garganta continuou dando detalhes sobre a câmara mortuária de Sansão, o extraordinário cuidado que recebeu e os caríssimos remédios que Napoleão mandara comprar sem olhar o preço. E assim, o próprio Napoleão apareceu no encontro do domingo seguinte e pronunciou uma singela oração em memória de Sansão.


Napoleão finalizou seu discurso relembrando as duas máximas prediletas de Sansão. “Trabalharei mais ainda” e “O Camarada Napoleão tem sempre razão”, máximas, disse, que cada animal deveria adotar para si próprio.


No dia marcado para o banquete, chegou de Willingdon a carroça de um armazém e desembarcou na casa-grande um engradado de madeira. Naquela noite ouviu-se uma alta cantoria seguida de algo que parecia uma discussão violenta e que terminou cerca das onze horas com uma tremenda barulheira de vidros quebrados. No dia seguinte, correu uma conversa de que os porcos haviam conseguido, não se sabia de que maneira, dinheiro para adquirir outra caixa de uísque.


Passaram-se anos. As estações vinham, passavam e a curta vida dos bichos se consumia. Tempo chegou em que ninguém mais se lembrava de antes da Revolução, com exceção de Quitéria, Benjamim, o corvo Moisés e alguns porcos.


Maricota morreu; Ferrabrás, Lulu e Cata-vento morreram. Jones também morreu num asilo de alcoólatras, noutra cidade. Bola de Neve fora esquecido. Sansão também,


Quitéria era agora uma égua velha, corpulenta, com os olhos atacados pela catarata. Já ultrapassara de dois anos a idade de aposentadoria. Aquela história de reservar um pedaço de campo para os animais idosos não era mais nem mencionada.


Napoleão tornara-se um cachaço madurão de uns cento e cinquenta quilos. Garganta estava tão gordo que mal conseguia abrir os olhos.


Agora existiam muito mais criaturas na granja embora o índice de crescimento não fosse aquele que esperavam nos primeiros anos.


Haviam nascido muitos animais, para os quais a Revolução não passava de uma obscura tradição transmitida verbalmente


Aceitavam tudo quanto lhes era dito a respeito da Revolução e dos princípios do Animalismo, especialmente por Quitéria a quem dedicavam um respeito filial, mas era duvidoso que entendessem lá grande coisa. A granja prosperava e estava mais bem organizada; fora até aumentada pela compra de dois tratos de terra.


Observe que após a Segunda Guerra Mundial, as Repúblicas Bálticas: Estônia, Letônia e Lituânia, parte da Polônia e região da Bessarábia da Romênia foram anexadas à URSS, sem mencionar a influência sobre os territórios da Hungria, Bulgária, Tchecoslováquia.


O moinho de vento, afinal, fora concluído com êxito e a granja possuía uma debulhadeira e um elevador de feno próprio, e construções novas se haviam erguido.


O moinho de vento, entretanto, não era usado para gerar energia elétrica. Usavam-no para moer cereais, coisa que dava bom dinheiro. Os animais estavam a braços com a construção de outro moinho de vento;


Mas naquele luxo de que Bola de Neve lhes falara certa vez, baias com luz elétrica e água quente e fria, e na semana de três dias, não se falava mais. Napoleão denunciara tais ideias como contrárias aos princípios do Animalismo, e os animais da granja não eram dignos das mesmas regalias que os Cães e os Porcos, pois a igualdade entre os animais era por castas políticas, apenas os pobres eram tratados com o peso da ideologia do animalismo.


De certa maneira, parecia como se a granja se houvesse tornado rica sem que nenhum animal tivesse enriquecido – exceto, é claro, os porcos e os cachorros.


Tentando explicar, Garganta dizia-lhes que os porcos despendiam diariamente enormes esforços com coisas misteriosas chamadas “arquivos”, “relatórios”, “minutas” e “memorandos”.


Era tudo da mais alta importância para o bem-estar da granja, dizia Garganta. A verdade é que nem os porcos nem os cachorros produziam um só grama de alimento com o seu trabalho;


Quanto aos outros, sua vida, ao que sabiam, continuava a mesma. Geralmente andavam com fome, dormiam em camas de palha, bebiam água no açude e trabalhavam no campo; no inverno, sofriam com o frio; no verão, com as moscas.


Porém, nada havia com que estabelecer comparação: não tinham em que basear-se, exceto as estatísticas de Garganta, que invariavelmente provavam estar tudo cada vez melhor.


Se tinham fome, não era por alimentarem alguns tirânicos seres humanos; se trabalhavam arduamente, pelo menos trabalhavam em seu próprio benefício. Nenhuma criatura dentre eles andava sobre duas pernas. Nenhuma criatura era “dona” de outra.


Certo dia, no início do verão, Garganta mandou que as ovelhas o seguissem e levou-as para um campo situado nos confins da granja. As ovelhas passaram o dia inteiro roendo as brotações, sob a supervisão de Garganta. À noite, ele regressou à granja, mas, como disse às ovelhas que permanecessem lá, terminaram ficando a semana toda.


Garganta passava com elas a maior parte do dia. Estava, ensinando-lhes uma nova canção para a qual precisava de certo sigilo.


Até que um belo dia, os animais incrédulos não acreditavam no que tinham visto.


Um porco caminhava sobre as duas patas traseiras.


Momentos depois, saiu pela porta da casa uma comprida coluna de porcos, todos caminhando sobre as patas de trás. Uns melhor que os outros, um ou dois até meio desequilibrados e dando a impressão de que apreciariam o apoio de uma bengala,


E então, emergiu Napoleão, majestosamente, desempenado, largando olhares arrogantes para os lados, com os cachorros brincando à sua volta. Trazia nas mãos um chicote. Houve um silêncio mortal arraigado após tantos anos, de nunca se queixarem, nunca criticarem, pouco importava o que sucedesse – poderiam lançar uma palavra de protesto.


As ovelhas, em uníssono, estrondaram num espetacular balido: “Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor!”


Seus olhos pareciam mais encobertos que nunca. Sem dizer palavra, ela o puxou delicadamente pela crina, levando-o até o fundo do grande celeiro,


Os Sete Mandamentos são os mesmos de sempre, Benjamim?, perguntou a velha Quitéria.


Pela primeira vez, Benjamim consentiu em quebrar sua norma, e leu para ela o que estava escrito na parede. Nada havia, agora, senão um único Mandamento dizendo: “TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS, MAS ALGUNS ANIMAIS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OS OUTROS”.


Depois disso, não foi de estranhar que, no dia seguinte, os porcos que supervisionavam o trabalho da granja andassem com chicotes nas patas. Nem estranharam ao saber que os porcos haviam comprado um aparelho de rádio, que estavam tratando da instalação de um telefone e da assinatura de jornais e revistas.


Não estranharam quando Napoleão foi visto passear nos jardins da casa com um cachimbo na mão, nem quando os porcos se assenhorearam das roupas do Sr. Jones e passaram a usá-las, sendo que Napoleão apresentou-se vestindo um casaco negro, calças de caçador e perneiras de couro, enquanto sua porca favorita surgia com o vestido de seda que a Sra. Jones usava aos domingos.


Uma semana mais tarde, após o meio-dia, apareceram numerosos charretes subindo rumo à granja. Uma representação de granjeiros vizinhos fora convidada a realizar uma visita de inspeção.


Os bichos estavam limpando a lavoura de nabos. Trabalhavam diligentemente, mal levantando o olhar do chão e sem saber a quem temer mais, se os porcos, se os visitantes humanos.


Naquela noite, altas risadas e cantorias chegaram da casa. Lá pelas tantas, ante o som das vozes misturadas, os bichos encheram-se de curiosidade. Que estaria acontecendo lá dentro.


Quitéria então podia ouvir desconsolada os humanos fazendo um brinde à Napoleão e dizendo:


Julgava poder afirmar que os animais inferiores da Granja dos Bichos trabalhavam mais e recebiam menos comida do que quaisquer outros animais do condado.


Para falar a verdade, ele e seus companheiros de visita haviam visto, naquele dia, muita coisa que pretendiam introduzir imediatamente em suas próprias granjas.


“Se os senhores têm que lutar com os seus animais inferiores, nós temos as nossas classes inferiores”. Este bon mot causou sensação na mesa, e o Sr. Pilkington novamente felicitou os porcos pelas baixas rações, pelas muitas horas de trabalho e pela ausência geral de tolerância que observara na Granja dos Bichos.


Quando as felicitações acabaram, Napoleão, que permanecera de pé, disse que iria também proferir algumas palavras.


E ele começou lembrando que havia algo de subversivo e mesmo de revolucionário nos pontos de vista seus e de seus companheiros. Tinham passado por desejosos de fomentar a rebelião entre os animais das granjas vizinhas. Nada podia estar mais longe da verdade! Seu único desejo, agora como no passado, era viver em paz e gozando de relações normais com os seus vizinhos. Aquela granja que ele tinha a honra de governar, acrescentou, era um empreendimento cooperativo. As escrituras que estavam em seu poder conferiam a posse a todos os porcos.


Até aquele momento os bichos haviam conservado o hábito imbecil de dirigirem-se uns aos outros pela alcunha de “camarada”. Isso ia acabar. Existira também o costume insólito, cuja origem era desconhecida, de marchar aos domingos, desfilando frente a uma caveira de porco pregada num poste. Isso também ia acabar, e a caveira já foi enterrada.


A denominação “Granja dos Bichos” foi abolida. A partir daquele momento, sua granja voltaria a ser conhecida como Granja do Solar, que, aliás, parecia-lhe, era seu nome correto e original.


As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.


E assim, a revolução que iniciou contra o homem, com todos os animais supostamente iguais, foi se mostrando um jogo político totalitário, e a corrupção e interesses das classes responsáveis de manter os bichos simplórios marchando em busca de um ideal de melhorias de vida, contra um inimigo opressor, tornaram-se ainda mais cruéis do que seus antecessores, doutrinando as novas gerações para um comportamento compassivo e reacionário, amedrontados pelo poder bélico nas mãos dos porcos que controlam seus cães por meio de regalias e vantagens sobre a população em geral da granja.


A Revolução dos bichos é um livro muito divertido de se ler e trás uma importante reflexão, não apenas em relação ao comunismo, mas em relação a toda forma de ideologia totalitária. È possível ver este mesmo enrendo na Alemanha nazista, na Itália Facista, assim como na China, na Corea do Norte, em Cuba e em paises como Venezuela, Peru, em certos aspectos a própria Argentina, e muitos conceitos temerariamente soam familiar para nós brasileiros, tanto de um lado quanto de outro. Eis que os discursam são igualmente promessas atraentes às ovelhas que gritam aos quatro ventos de forma barulhenta e ruidosa, algo muito parecido com “4 patas bom, 2 pernas melhor!”. Cada um com seus métodos e públicos que se degladiam ferozmente cegando-se para as mazelas de cada um de seu Napoleão de Direita e Napoleão de Esquerda, seguidos de uma estrutura política desacreditada e viciada, que pende para o lado em que o poder parece soprar.


Enquanto nós, simplórios Sansões e Quitérias assistimos aos Gargantas com suas concessões televisivas e de informação, narrar a história da forma que o Napoleão da vez deseja que seja narrada, reproduzindo tudo para as conversas com amigos e familiares, sempre bem disposto a bradar: “Trabalharei mais ainda! Meu Napoleão sabe o que faz.”


Alguns que se acham bom demais para se misturar à política, levam a vida como Benjamin, fingindo ser melhor do que os outros animais, por mentir a si mesmo de que é entendido na manipulação de massa dos pretensos Napoleões, e que encontra neste pensamento, conforto, padecendo da mesma fome e frio que os demais.


Quantos não são tão piores do que os pombos e os cachorros, que um simples agrado, uma simples regalias e benefícios à força do Estado é capaz de comprar o silêncio e a amizade de gordos burocratas condecorados. Quantos não militam em comitês de todos os tipos de ideologia acusando, mentindo, pregando que seu político amado está certo.


Como tem sido nossos corvos Moisés, ora defendendo valores religiosos em prol do liberalismo econômico, ora em prol das pautas do socialismo. Lançando seu doce discurso para as massas de que lá no final há uma doce montanha de açúcar. Ora, servindo ao Sr. Jones, ora aos porcos, em uma simbiose perfeita entre a religião e as ideias totalitárias.


E quantos não são os gatos, a espreita, financiando campanhas eleitorais, impondo políticas, exigindo o silêncio do Estado brasileiro enquanto faz do crime e da organização criminosa um lucrativo negócio. E como a relação entre crime organizado e Estado tem encontrado cada vez mais afinidade neste país, uma mão lavando a outra.


Talvez seja eu o próprio Benjamin falando para você de forma descrente, buscando entender como ficará esse mundo meio caótico, para que possa proporcionar o melhor sustento para minha família.


Diga aí nos comentários qual o seu sentimento após ler A Revolução dos Bichos. Não precisa ofender ninguém, mas é bom um debate sobre o assunto. Obviamente o livro é um sátira de um evento histórico, mas há muito que retirar daí, você não acha?


  • TikTok
  • Instagram
  • Youtube
  • Amazon - Black Circle

© 2022 by Canal Método e Valor 

Aviso Importante: O conteúdo deste site Método e Valor (Citações e Reflexões) é de desenvolvimento pessoal, reflete opiniões pessoais e não constitui aconselhamento profissional. Não nos responsabilizamos por possíveis consequências decorrentes da interpretação das informações. Recomendamos exercer discernimento e buscar orientação profissional quando necessário. Nosso objetivo é fazer com que você busque construir um pensamento crítico, além dos artigos do nosso site.

bottom of page