“Os piores escravos são aqueles que estão servindo constantemente as suas paixões.”
Se essa frase impactou você, continue conosco pois hoje vamos falar da filosofia do “cachorro louco”. Sim, vamos falar sobre os cínicos, em especial, sobre o seu maior adepto, o filósofo Diógenes.
O cinismo é uma corrente filosófica da Grécia Antiga, pertencente às chamadas escolas do Helenismo.
Para fornecer a informação completa, caso você não saiba, o Helenismo foi um período da história da Antiguidade Clássica marcado pela decadência do mundo grego antigo e pela expansão territorial do Império Macedônico. Compreendido entre a morte de Alexandre o Grande em 323 a.C. e a anexação da península grega e ilhas por Roma em 146 a.C.
Os cínicos negavam todas as formas de prazer e desprezavam o acúmulo de bens materiais em detrimento de uma vida seguida pela virtude. Para os filósofos cínicos, exercer a virtude era o mais importante feito, vivendo de acordo com aquilo que eles pensavam.
Essa corrente filosófica se propagou amplamente durante o Império Romano no século I depois de Cristo, e desapareceu por volta do século V depois de Cristo.
Mas porque cachorros loucos?
A etimologia da palavra cinismo vem do grego "kynikos", que significa “igual a um cão”. A ideia de chamá-los de cães estava relacionada à vida que os cínicos levavam: Pois eles andavam pelas ruas com um manto como vestes e um saco no qual carregavam comida. Suas atitudes de dormir, de comer, e, a falta de pudor em suas necessidades fisiológicas todas feitas nas ruas.
A essa altura você já deve ter chegado à conclusão de que não é uma filosofia para você, mas acredite, assim como tudo na vida, saber aproveitar a estrutura do pensamento e a aplicar os conceitos em seu dia a dia é a sabedoria em seu estado mais sofisticado.
Assim, como veremos, o cinismo era uma corrente filosófica com algumas ideias radicais, pois havia algumas características que eram levadas a ferro e fogo. Como:
A rejeição de tudo que não promovesse a virtude pura (como a família, o dinheiro, a sociedade, pois isso poderia gerar prazer), era preciso levar uma vida simples;
Busca por viver somente da natureza, ou seja, a autossuficiência, a não necessidade dos aparatos sociais;
Rejeitar a felicidade quando essa está relacionada ao dinheiro, à fama, ao poder ou ao prazer.
Contudo, o cinismo, ainda que não tenha fundamentado uma doutrina, deixou alguns princípios bem definidos, tais como:
A vida tem como objetivo a felicidade e a lucidez, portanto, é preciso combater a ignorância, a arrogância e a presunção;
A felicidade não depende de nada que seja externo ao indivíduo, pois a virtude está na conduta moral do homem, naquilo que está em seu interior e no modo como ele age;
A felicidade e lucidez só é alcançada ao se viver de acordo com a Physis (natureza), por meio da razão (logos) humana;
Falsos julgamentos de valor causam a arrogância, esses falsos julgamentos geram emoções negativas e desejos não naturais que podem levar ao vício, por isso é preciso da lucidez para combater a arrogância;
A eudaimonia só se desenvolve se o ser humano for anárquico e autossuficiente. Além disso, é preciso exercer a apatia, a virtude e a indiferença diante das mudanças da vida;
Apenas as práticas que recusam o prazer, é que são capazes de provocar a evolução no ser humano, para que ele se liberte das influências da sociedade;
O cínico é aquele que desafia o dogmas da sociedade, ou seja, as leis, as convenções, os costumes que são tidos como certos e verdadeiros;
É preciso se libertar das preocupações com a morte, a saúde, o sofrimento de si e dos outros;
Por fim, a sabedoria consiste no agir, não só no pensar.
Por meio desses princípios e dessas características é que os cínicos desenvolveram seus ensinamentos e deixaram seus legados.
A essa altura você provavelmente deve estar pensando: O que isso tem a ver comigo? Não vou sair por aí morando nas ruas. Gosto do meu banho quente e do aconchego da minha casa e família.
Sim, você tem toda razão, o cinismo é uma filosofia antiga e inaugural, ela não deve ser seguida à risca, mas deve servir como reflexão sobre nossa supervalorização das estruturas sociais e o que nos causa a ansiedade e a frustração neste mundo de hoje. Entender o pensamento e aplicá-lo com moderação em sua vida, vai te tirar um peso dos ombros. Pois os cínicos acreditavam que o homem deve ser autônomo e autossuficiente tratando o mundo com indiferença pois a felicidade deve vir de dentro do homem e não do seu exterior.
Um fato curioso, quase que uma lenda, o qual ilustra bem esse pensamento, é que Diógenes durante um encontro com o Imperador Alexandre, então o homem mais poderoso conhecido. Alexandre havia solicitado para que Diógenes pedisse o que quisesse, e este pediu que Alexandre saísse de sua frente, pois estava tapando o sol.
Essa afirmação destaca o desprezo pela organização social, a relação com a natureza e o simples para o viver bem. É estar bem consigo, sem necessidades não naturais, como a aprovação e o orgulho.
Bom, se chegou até aqui, nosso muito obrigado, deixe seu comentário dizendo se teria coragem de viver como um cínico ou não. Pois agora vamos explicar algumas sentenças ou “máximas” se assim o preferir que estruturam o pensamento dos cínicos, São elas:
“Busco um homem honesto.”
“Elogiar a si mesmo desagrada a todos.”
“O amor é uma ocupação de quem não tem o que fazer.”
“O insulto ofende a quem o faz e não a quem o recebe.”
“A sabedoria serve para reprimir os jovens, para consolar os velhos, para enriquecer os pobres e para enfeitar os ricos.”
“A liberdade para falar é a coisa mais bela para um homem.”
“Um filósofo só serve para machucar os sentimentos de alguém.”
“O tempo é o espelho da eternidade.”
“Sou apenas mais uma criatura insignificante do mundo, pensar de outro modo é moldar o ego irreal e alimentar o desejo.”
Em resumo, os cínicos buscavam viver o mais próximo possível das leis da natureza, desprezando aquilo que é construção social. É viver de acordo com o que se diz e não conforme as construções de leis, morais, regras sociais. Por isso, viviam como os animais, sem pudor e sem se preocupar com os dilemas da vida em sociedade.
O que podemos aproveitar do cinismo?
Eu indicaria você refletir as prioridades que criamos em nossa vida; a necessidade de coisas que damos muito importância, mas que não tem valor para sua vida plena e feliz; a preocupação constante com redes sociais e com que outros vão pensar ou o que fazem; desejos por comprar coisas por ser objeto de ostentação; necessidades emocionais de precisar do outro; falta de amor próprio; excesso de preocupação com o corpo e com a beleza; a construção em nossa mente de necessidades e trivialidades que não existem.
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