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A Arte de Viver Sozinho? Da Vida Retirada segundo Sêneca | Estoicismo

Lúcio Anneo Sêneca nasceu em Córdoba na atual Espanha. Seu pai foi Anneo Sêneca, conhecido como Sêneca, o Velho. Seu pai era célebre como retórico e do qual restou apenas uma obra escrita, intitulada Declamações. 


Sêneca, o Moço, como era chamado o filho, o qual falaremos hoje, foi educado em Roma, tendo estudado retórica ligada à filosofia. Em pouco tempo, tornou-se conhecido como advogado e ascendeu politicamente, passando a ser membro do Senado romano e, mais tarde, questor.


Em Roma, o triunfo político não acontecia impunemente, e a notoriedade de Sêneca suscitou a inveja do imperador Calígula. 


Entretanto, Sêneca foi salvo, pois Calígula morreu antes de poder destruí-lo. Dessa forma, Sêneca pôde continuar vivendo com relativa tranquilidade, mas essa não durou muito tempo. Em 41 foi desterrado para a Córsega sob a acusação de adultério, supostamente com Júlia Livila, sobrinha do novo imperador Cláudio César Germânico. 



Na Córsega, Sêneca viveu cerca de dez anos com grande privação material. Dedicou-se aos estudos e redigiu vários de seus principais tratados filosóficos, nos quais expõe os ideais estoicos clássicos de renúncia aos bens materiais e de busca da tranquilidade da alma por meio do conhecimento e da contemplação


Em 49, Messalina, primeira esposa do imperador Cláudio, foi condenada à morte. O imperador casa-se, desta feita, com Agripina. Pouco tempo depois, Agripina manda chamar Sêneca para se encarregar da educação de seu filho, Nero, tornando-o, no ano de 50, pretor de Nero. 


Sêneca foi casado com Pompeia Paulina e organizou um poderoso grupo de amigos.


Quando Nero foi nomeado imperador, Sêneca tornou-se seu principal conselheiro e tentou orientá-lo para uma política de justiça e de humanidade. Durante algum tempo, exerceu influência benéfica sobre o jovem, mas, aos poucos, foi forçado a adotar uma atitude de complacência diante do comportamento cada vez mais autoritário de seu pupilo. 


Sêneca foi muito criticado por sua postura frente à tirania e à acumulação de riquezas de Nero, incompatíveis com as suas próprias concepções filosóficas, e, diferente dos demais filósofos estóicos, viveu em função da vida pública e em meio ao centro de poder de Roma. 


Sêneca foi acusado de participar na Conjuração de Pisão, em 65, recebeu de Nero a ordem de suicidar-se, a qual ele mesmo executou com o mesmo ânimo sereno com que pregava em sua filosofia. 


Sêneca foi um mestre na redação de textos filosóficos. Escreveu cartas sobre a brevidade da vida e sobre a tranquilidade da alma, sobre o ócio, o luto e a ira. Esses textos tornaram-se clássicos da filosofia da época do Império Romano e retratam de maneira sóbria e aprofundada alguns dos principais problemas que atormentavam os filósofos daquele período.


Neles são apresentadas reflexões sobre a busca de serenidade em um mundo conturbado pela dissolução dos antigos valores morais, das crenças e da tradição religiosa, na medida em que o Império Romano crescia de forma incontrolável. Talvez por isso seus textos e o estoicismo tem ganhado tamanha força mesmo nos dias de hoje, eis o mundo tem se transformado de uma forma tão veloz e avassaladora que os conselhos de Sêneca voltam a trazer lucidez em meio ao caos. 


O primeiro deles – Da vida retirada – visa a justificar a vida dedicada aos estudos, conciliando-a com os deveres da vida pública, ou seja, a participação do homem como membro do Estado, em suas decisões. 


Segundo Sêneca, o homem, deveria buscar ser útil para as decisões públicas, pois faria parte de nossa natureza a contemplação, a busca por descobrir a beleza e os mistérios da natureza. Porém, ele não discriminava os homens que escolhiam dedicar-se à meditação, ou seja, a reflexão crítica do pensamento, pois este também pode ser útil a todos. 


Sêneca, além de considerar de que do seu ponto de vista, se for possível, o homem deve ser útil a muitos; também, entendia que se não fosse possível a vida publica, o homem deveria ser útil, ainda que a poucos; se nem pudesse ser a estes poucos, que tentasse ser útil pelo menos aos mais próximos ou então a si mesmo. Somente assim, teria conseguido realizar uma obra que possa ser considerada de valor, ou seja, de acordo com seu papel, para as leis da natureza. 


Para o filósofo, o homem teria nascido para dois fins: a contemplação e a ação. Essa seria a nossa verdadeira essência, o nosso agir conforme a natureza. 


Em "Da vida retirada", Sêneca defende o afastamento de atividades públicas e político-administrativas e o recolhimento como imprescindíveis para que o homem possa cumprir a sua missão de observar e julgar tudo pelo prisma do bem e da honestidade, apenas se ele não puder ser útil nas questões públicas, seja pela impossibilidade política, pela sua segurança, ou por questões de saúde ou mesmo de falta de oportunidade.


Em suas palavras, “aquele com plena capacidade física, antes de procurar problemas, pode colocar-se em segurança e, imediatamente, dedicar-se a artes nobres, vivendo em ócio justificado, cultivando virtudes que podem ser praticadas no mais absoluto retiro”.


Sêneca orienta que os vícios nos acompanham constantemente, e hora ou outra somos colocados a prova diante de nossas fraquezas. Desta forma, mesmo que não buscássemos nenhuma outra coisa saudável, retirar-se, por si só, ainda poderia ser proveitoso, pois nos tornaria melhores do que somos. Eis como o homem bom foi feito para o auxílio comum com seus iguais, sendo que o vício lhe dominam as virtudes por serem dotados de maior força, logo, a retirada é importante para que longe dos vícios, sejamos compelidos a afastá-los de nossa alma e voltarmos ao encontro da nossa natureza, para que possamos ser útil aos demais. 


Sêneca diz ser importante compreender quando devemos nos retirar da vida pública, indagando:


"Que pensar então da utilidade de se retirar para perto de homens qualificados e escolher um exemplo para orientar a nossa vida? Isso, a não ser em uma vida retirada, não pode ser conseguido. Somente assim pode ser alcançado aquilo com que sonhamos, em um lugar onde ninguém interfere em nossas ações, para não deixarmos de lado nossos propósitos. Somente dessa forma pode-se conduzir a vida segundo um único princípio, em lugar de fragmentá-la com projetos diversificados.


Com isso em mente, Sêneca prossegue:


"Por exemplo, dentre todos os males, o pior de todos é quando resolvemos mudar nossos defeitos. Passar de uma coisa para outra pode agradar, mas, ao mesmo tempo, é vergonhoso, uma vez que nossas decisões tornam-se levianas. Hesitamos e somos levados para cá e para lá. Abrimos mão de nossos anseios, reclamamos do que abandonamos, as mudanças se alternam entre a nossa ambição e o nosso arrependimento.


Uma coisa interessante é que, Sêneca, ao longo de  suas obras demonstra uma preocupação em explicar que para ele, embora deva-se ter cuidado com a falta de convicções sobre as ideais que defende, o importante é a verdade por trás do pensamento, e não a escola filosófica ou o pensador que diz a afirmação. Ele considera que uma verdade universal deve ser aproveitada sem censura,  ainda que corra o risco de ser taxado como leviano. Por isso, sua preocupação em explicar que existem ideias de Epicuro que ele acha útil, mesmo sendo contrárias às ideais de sua escola estoica. 


Isso explica porque ele gasta algum tempo falando sobre a questão de mudança de opinião e logo após, deduz que aqueles que o conhecem, trará a seguinte pergunta: “O que diz, Sêneca? Abandonou os teus pares estóicos?


Porém, Sêneca, atribui a si a confiança de seus amigos em sua firmeza de posicionamento, ao terminar sua sentença refletindo que, nós, bons homens: até o último momento da vida estaremos emação, não desistiremos de trabalhar para o bem comum, de ajudar cada um, até considerar o poder de dar auxílio ao inimigo debilitado pela idade.


Eis que Sêneca se preocupa em provar que não está em conflito com a doutrina estoica, nem eles estão contra os próprios ensinamentos. Afirmando que mesmo que ele os abandonasse, seria desculpado, porque continuaria seguindo os exemplos deles, mas não porque ele siga uma lei que proíbe dizer algo contra Zenão e Crisipo, mas porque a própria situação, a verdade diante dele, faz seguir a opinião deles, pois, se alguém está ligado à posição de uma única pessoa, seu lugar não é na cúria e, sim, entre as facções partidárias.


Pois se tudo fosse bem explicado e sendo a verdade professada abertamente e imutável, nada teríamos de mudar em nossas decisões.


Por isso Sêneca afirma que as duas maiores correntes filosóficas, a dos epicuristas e a dos estoicos, discordam entre si sobre esse tema, embora por caminhos diversos concordem com a vida retirada. 


Para ele, Epicuro diz: “O sábio não deve ter acesso a negócio público a não ser que seja obrigado”. Ou seja, vemos aqui que Epicuro diz que não é natural ao homem se envolver com as questões públicas, somente o fazendo se se ver em uma posição que não tem escolha melhor. 


 Já Zenão fala o oposto: “Exerça função pública, a não ser que haja algum empecilho”. Ou seja, o homem nasceu para a ação, para buscar ser útil entre os seus, nasceu para a função pública, somente devendo se afastar dela se algo lhe impedir. 


Observe, o seguinte, imagine que um governo está perdido em corrupção, improbidades e imoralidades de tal forma que ser um homem de vida pública seja mais infame do condizente com a postura de um sábio, deve o homem se afastar da gestão pública? 


Para responder a está pergunta, devemos retornar ao entendimento de que a natureza do homem é a contemplação (ou seja a curiosidade sobre o mundo) e a ação voltada ao auxílio comum, lembra?  Logo, em sua opinião o homem que tem como essência ser útil aos seus, abandonar a República no momento em que a moralidade, a probidade e os valores mais necessitam, esse instante covarde de se esconder, fazem parte da natureza do homem? 


Não nos parece que combine com a visão de Sêneca não é? 


Para ele, se a república estiver tão corrompida que não possa ser ajudada, se estiver toda tomada pelo mal, o sábio iria dedicar-se ao não-realizável, empenhar-se para não conseguir nenhum resultado. 


Mas além disso, ele adverte, somente devemos buscar a função pública, se tivermos competência e força suficiente para fazer o bem coletivo, ou seja, aquele que busca os espaços públicos objetivando riqueza pessoal e satisfazer seus próprios interesses, não age de acordo com a natureza do homem, e apenas atrapalha o auxílio comum, logo deve dar espaço para outras pessoas de melhor capacidade. 


Assim ele afirma: Acrescente-se que, se tiver pouca autoridade e pouca força, a própria república não iria aceitá-lo se a saúde o impedisse. Assim como não se lança ao mar um navio com o casco danificado, nem se alistaria no exército quem estivesse debilitado, da mesma forma não se deve empreender uma caminhada para a qual se sabe não estar capacitado.


Portanto, aquele com plena capacidade física, antes de procurar problemas, pode colocar-se em segurança e, imediatamente, dedicar-se a artes nobres, vivendo em ócio justificado, cultivando virtudes que podem ser praticadas no mais absoluto retiro.


O que se exige do homem é que seja útil ao maior número de semelhantes, se possível. Caso não consiga, sirva a poucos, ou aos mais próximos, ou a si mesmo.


Ao tornar-se útil para os demais, acaba por iniciar um trabalho comunitário. Ou seja, aquele que mesmo fora da vida pública, busca ajudar os que o cercam, torna-se útil a sua comunidade de pessoas. 


Da mesma forma, Sêneca fala sobre os desonestos, pois àquele que se degenera prejudica não apenas a si, mas também a todos os quais poderia prestar auxílio caso fosse melhor. De outro modo, quem, mesmo sem tantas competências, se aprimora apenas para ser honesto e reto em suas ações, já beneficia os outros, já que pode educar quem vai poder beneficiá-los no futuro.


Para Sêneca, costumamos dizer que o bem supremo consiste em viver de acordo com a natureza, entretanto, a natureza gerou a gente tanto para a contemplação quanto para a ação.


Ou seja, alguns navegam e enfrentam os trabalhos de uma peregrinação muito longa apenas pelo prêmio de conhecer algo longínquo e oculto. 


A natureza deu-nos um espírito curioso e consciente de sua perícia e beleza; criou-nos para a contemplação desses grandes espetáculos. Tudo isso perderia a sua riqueza de coisas grandiosas, excelsas, tão nitidamente estruturadas, tão brilhantes e formosas, se ficasse visível apenas para a solidão!


Para que saibas que ela quer que tudo isso fosse admirado e não apenas avistado, observa, então, o local onde nos situou, isto é, colocou-nos em meio dela própria e concedeu-nos o poder de observar todos os seres ao nosso redor.


Mas nem por isso já vimos tudo o que existe, já que a nossa visão descortina o caminho para a investigação e apresenta-nos os fundamentos da verdade de maneira que a averiguação passa do claro para o escuro, pondo a descoberto o que existe de mais antigo no universo, como, por exemplo, procurar a origem dos astros que se mostram como elementos distintos entre si; qual foi a lei que separou elementos ligados entre si e os que se encontram misturados; quem indicou o lugar para cada um deles; se os elementos mais pesados caíram sozinhos e os mais leves alçaram voo, ou, independente do peso dos corpos, uma outra força mais forte determinou a lei de cada um deles. 


O nosso pensamento invade as barreiras do céu e não se contenta em saber apenas o que está ao nosso alcance. Pois o homem foi feito para o saber, feito para a investigação dos segredos da natureza e de seus sentidos. 


Uma vez que veio ao mundo para descobrir tais problemas, vê como é pequeno o tempo de que o homem dispõe, embora se dedique a isso por inteiro. Ainda que não permita que lhe perturbem nem se descuide, ainda que controle seu tempo com muito cuidado e estenda as suas horas até o fim de sua vida, desde que o destino não retire nada do que recebeu da natureza, o homem é por demais mortal para compreender as coisas imortais.


Assim, vivo segundo a natureza, declarou Sêneca, já que a ela me entreguei totalmente, já que sou seu admirador e servo. Entretanto, a natureza quer que eu faça duas coisas: agir e dedicar-me à reflexão.


Tanto uma quanto outra realizo, pois não pode haver contemplação sem alguma forma de ação. 


Percebe que que o conhecer exige uma utilidade prática, pois de nada adianta saber quando é o período certo de plantar o milho por exemplo, se o homem não fizer deste conhecimento uma utilidade, tanto prática no sentido de plantar, ou mesma acadêmica, de observação, no sentido de que ensinar ou aprimorar. 


Pois Sêneca disse: “Mas faz diferença”, dizem, “dedicar-se ao estudo da natureza apenas levado pelo prazer, não pedindo nada mais que a contemplação, sem visar a qualquer outro objetivo, uma vez que ela, com seus atrativos, já proporciona satisfação?”


A isso, ele responde que é importante saber qual o propósito de dedicar-se à vida pública, ou seja, se é apenas para estar sempre ocupado e sem tempo para voltar os olhos das coisas humanas para as coisas divinas ou da alma. 


É preciso ter a visão correta, buscar o bem comum em nossas ações, pois do que adianta que o homem deseje as coisas sem o mínimo apreço pelas virtudes, sem cultivar o espírito, agindo de forma injusta através de atos não dignos de aprovação já que todos os elementos devem estar ligado? 


Assim, Sêneca concluí, este vida retirada é um bem imperfeito e doente, se a pessoa dedicar-se a solidão por razões meramente egoisticas e covarde, uma vez que tal violação das virtudes de um homem conectado com a natureza, não demonstra nenhuma aprendizagem. 


Ninguém pode negar que a virtude deve provar a sua eficiência em obras e não apenas ficar refletindo sobre o que faz - a ação deve fazer parte do homem de bom espírito; deve-se, às vezes, entregar-se inteiramente a uma tarefa e pôr-se a fazer algo com empenho e resolutamente pela sua prática.


Por isso, Sêneca questiona:


Por que razão, então, condená-lo a ficar recluso? Com que propósito o sábio se retira para o sossego? Logo depois, ele responde: é para ter certeza de que, também ali, deve praticar atos que serão de utilidade para toda a posteridade.

Certamente, sabemos que tanto Zenão como Crisipo realizaram obras mais soberbas do que comandar exércitos, ocupar cargos públicos, promulgar leis. Até as promulgaram, mas não apenas para uma cidade e, sim, para toda a humanidade. Por que, então, não seria conveniente ao homem honesto e digno a vida retirada, graças a qual se organizam os séculos futuros.


Em síntese, Sêneca prossegue, pergunto, se Cleanto, Crisipo e Zenão viveram de acordo com seus ideais. Não duvido que responderás que viveram da mesma forma como ensinaram, porém nenhum deles administrou república alguma. Dirás ainda que não tiveram a fortuna e a dignidade que costumam ter os que são aceitos na gerência dos negócios públicos. Mas nem por isso levaram uma vida negligente e tediosa. Eles, mesmo em uma vida retirada da coisa pública, agiram de modo que o seu sossego fosse mais útil aos homens do que as atividades e o suor de muitos outros. Dessa forma, são percebidos como grandes empreendedores, apesar de não terem exercido cargos públicos. 


Além disso, para Sêneca, existiria três modos de vida. Cabendo a cada um de nós a questionar qual o melhor: o que se consagra ao prazer, o que se consagra à contemplação ou aquele que se dedica à ação?


Para ele, nenhuma destas escolhas seriam erradas, desde que você busque sempre agir de forma a buscar o bem comum, a auxiliar os outros, fazendo tudo que puder para uma vida útil como ser humano, mesmo que não ocupe grandes cargos, ou não tenha grandes habilidades intelectual, pode ajudar a melhorar o mundo apenas sendo uma boa pessoa, alguém gentil, educado e que transmite bons valores para os que estão perto de você. 


Uma vez que mesmo o que preconiza a doutrina do prazer não abandona a contemplação, aponta Sêneca, como também o que só se dedica à contemplação também não está afastado do prazer, e o terceiro, embora dedicando a vida às atividades, não está livre da contemplação. Pois estes modos de vida estão de certa forma interconectados, e cumpre um papel importante para natureza humana. 


Sêneca prossegue em seu pensamento, dirão que existe uma sensível diferença entre alguma coisa ser proposital ou estar direcionada para alguma intenção. Evidentemente, há diferença, porém uma coisa não acontece sem a outra.


Nem contemplação acontece sem ação, nem ação sem a contemplação, nem o terceiro, que os estóicos consideram como negativo, ou seja, o prazer, demonstra ser de todo débil ou ruim, uma vez que o prazer depende de como nós conservamos nossas virtudes, de nossos princípios, eis que um homem equilibrado em sua razão, pode sentir um imenso prazer em contemplar o nascer do sol, em estar com alguém querido, em comer um refeição quetinha, a ter um cama e um teto seguro para os dias de frio, por exemplo. De outro modo, um homem entregue ao prazer desmedido, com a razão sucumbida a força do prazer, possa desprezar todas essas pequenas coisas, e buscar na ambição, na ganância, na apatia e nos jogos sua felicidade.  


Por isso, Sêneca considera  lícito viver uma vida retirada, embora adverte que não devemos escolher a vida retirada por egoísmo ou solidão, pois ele deve ser uma escolha voluntária, visando manter a utilidade do homem em sua passagem nesta terra.


Outro conceito, é trazido por Sêneca ao afirmar que: "Dizem que o sábio não deve aproximar-se de qualquer tipo de negócio público. Não importa qual o caminho que ele escolhe para o descanso final. De outro modo, pode acontecer que os negócios públicos não o escolham; pode acontecer que ele não os escolha; pode, enfim, acontecer que nem existam. O importante é que o homem saiba como pode praticar o bem, como pode melhorar o mundo, mesmo com pouco recurso. Pois os negócios públicos não são feitos para os que os buscarem com disposição destrutiva.


Sêneca adverte: "Se eu decidisse percorrer uma a uma todas as repúblicas atuais, não acharia nenhuma que estivesse à altura para receber o sábio, ou que o sábio pudesse dela fazer parte."


Por isso, o sábio não pode ser egoísta e arrogante ao ponto de achar que nenhuma república seria digna de ser dirigida ou orientada por ele, já que não existe repúblicas perfeitas. 


Este tipo de vida retirada, que visa apenas o orgulho e a indiferença com o bem comum, não é correta, é mais mal do que boa, pois está contra a natureza do homem, de auxílio mútuo. 


Se alguém disser que navegar é ótimo, mas, em seguida, advertir que não se deve fazê-lo por águas onde são frequentes os naufrágios e nas quais as tempestades desorientam os pilotos, concluo que esse indivíduo me aconselha a não enfrentar o mar, por mais que louve a navegação. Exemplifica Sêneca. 


Compreendeu o que é a vida retirada? 


Trata-se de dedicar-se a agir positivamente no mundo, seja ocupando os espaços públicos, por meio de ações e atitudes que eleve as pessoas a sua volta, seja dedicando-se a estudos sobre os mistérios da natureza, seja simplesmente educando seu filho com bons valores para que ele molde o futuro para melhor. A ação faz parte de nossa essência, de nossa natureza. A vida retirada defendia por Sêneca, é a excessão, seria a impossibilidade do agir, é um estado de introspecção em que o indivíduo mesmo longe da vida pública, busca ser útil ao bem comum. Mesmo uma pessoa que não teve se quer alfabetização, pode ter uma vida retirada de forma útil a sociedade, ao ser benévola, amável e disposta a educar seus filhos com aquilo que adquiriu de experiência de vida, criando boas pessoas para contribuir com a vida comum. 


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